Jovens do bairro da Cabanagem comentam experiências após oficina de fotografia digital
A oficina mudou a rotina dos jovens que moram no bairro. Cada um conta a sua experiência e como enxerga o mundo após terem os olhos abertos pelo curso.
“A fotografia transforma vidas”. É a conclusão que a estudante Alice Santana anota em seu caderno nesta quinta (14), último dia da oficina de fotografia digital promovida pelo Programa Territórios pela Paz (TerPaz) na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio José Valente Ribeiro, no bairro da Cabanagem, em Belém.
“Ter em nossa escola um curso desses é algo maravilhoso. Sempre tive curiosidade em tirar fotos, mas não sabia que podia ser uma atividade tão fascinante assim. Ela abre o nosso olhar para tantas coisas bonitas, e nós aqui do bairro temos que fazer mais isso”, Alice, aluna do 2º ano na instituição.
O bairro da Cabanagem é um dos sete territórios da região metropolitana de Belém atendidos pelo TerPaz. A Secretaria de Articulação da Cidadania (Seac) coordena o programa, que é voltado para o enfrentamento da violência em bairros considerados vulneráveis. Além das ações de segurança pública, a iniciativa contempla a atuação integrada do governo em áreas como saúde, trabalho e renda, comunicação e educação. A oficina de fotografia digital é uma iniciativa da Secretaria de Comunicação (Secom) e representa a entrada efetiva do órgão no TerPaz.
“Iniciamos nosso trabalho na Cabanagem e o resultado foi muito melhor do que esperávamos. A fotografia é apenas uma das ferramentas da comunicação que podem incentivar um sentimento de pertencimento e valorização da comunidade. Existem diversas outras possibilidades nessa área, estamos sempre avaliando e buscando melhorar”, explica Luiz Carlos Santos, diretor de Comunicação Popular e Comunitária da Secom.
Olhar humano - A oficina ocorreu de 8 a 14 de novembro e contou com trinta participantes - todos moradores do bairro - onde aprenderam noções como manuseio da câmera e composição fotográfica. No dia 22, aniversário da Escola José Valente, haverá uma exposição com as imagens produzidas pelos alunos. Além da parte técnica, Maycon Nunes, ministrante da oficina, ressalta a importância dos estudantes entenderem melhor a realidade local a partir da atividade. “Com a fotografia, vocês são protagonistas e podem transformar outras pessoas em protagonistas do seu cotidiano. Com isso, há mais possibilidades de não dar continuidade às situações difíceis que presenciam na comunidade”, enfatiza o fotógrafo diante dos alunos.
A lição marcou Jhulio Miranda, aluno do 2º ano. O estudante admite que procurou a oficina com o objetivo inicial de ter apenas uma atividade para se ocupar e não ficar em casa. “Mas logo fiquei interessado no conteúdo em si, principalmente quando entendi a capacidade da fotografia de transformar coisas simples em visões grandiosas. Isso me ajudou muito além do que eu imaginava. Precisamos disso aqui”, observa. Diferente do colega de sala, a aluna Clara Cunha sempre demonstrou interesse em fotografar e ingressou na oficina pensando em ter mais prática no uso da câmera. “Aprendi isso e muito mais. Comecei a ver o trabalho de outras pessoas de outra forma. Antes eu não prestava atenção na feira, por exemplo, era só uma passagem no meu caminho para casa. Agora eu vejo como pode ser uma rotina difícil, mas também maravilhosa” resume Clara. Pouco antes de pegar seu certificado de conclusão da oficina, ela complementa: “a fotografia te faz ter um olhar mais humano, quero que outras pessoas tenham a mesma experiência que tivemos aqui”.