Ala desativada da Santa Casa vira cenário para gravação de filme
Mais de vinte toneladas de equipamentos, setenta profissionais. O movimento nos corredores da ala desativada do centenário prédio da Santa Casa de misericórdia do Pará mostra que tem alguma coisa diferente por lá. Desde o início do mês de julho, o hospital é um dos principais cenários do filme “Eu, Nirvana”, do diretor paraense Roger Elarrat. O longa-metragem conta a história de três mulheres que vivem no limite. Personagens que se encontram dentro de um hospital e têm as histórias cruzadas na busca pelas próprias essências.
Entre as três protagonistas, está a personagem que dá nome ao filme, a ribeirinha Nirvana, que sofre um acidente ao chegar à capital paraense para a festa do Círio de Nazaré. A embarcação onde Nirvana viajava aderna e ela cai nas águas barrentas da baía do Guajará. Depois do resgate, se seguem mais de 400 dias de coma e o despertar traz um mundo assustador, de um futuro incerto, mutilado.
Esse é o primeiro longa de Roger Elarrat, que traz no currículo produções como o curta metragem “Vernissage”, o curta de animação “Visagem”, o roteiro e direção do documentário “Chupa chupa, a história que veio de céu” e as minisséries “Miguel, Miguel” e “Juliana contra o jambeiro do diabo pelo coração de João Batista”, exibido em Cannes. Mesmo com toda essa experiência, Roger conta que o roteiro de “Eu, Nirvana” foi um grande desafio. “As personagens desse filme foram muito difíceis de construir, porque era preciso estabelecer um ponto de intercessão entre elas. Como elas se conhecem e como uma afeta a outra e para onde elas vão no final da história. Personagens cativantes, complexas e que carregam essa história de um jeito envolvente!”.
A personagem principal foi um presente para a atriz Carolina Oliveira. Esta é a segunda vez que ela vive uma paraense nas telonas. A primeira foi o papel de Zeneida Lima, no filme “Encantados”. Para essa paulista de São José dos Campos, um motivo a mais de realização. “Para mim é um orgulho, uma honra poder representar as mulheres paraenses. Eu tenho muitas amigas aqui. É um lugar que é perto de mim”.
Uma personagem forte para a atriz, que apesar de jovem, já tem uma carreira consolidada. Carolina Oliveira foi indicada ao prêmio Emmy Internacional de Melhor Atriz pela série “Hoje é dia de Maria” (TV Globo/2005) e ficou conhecida do grande público por atuações em novelas como “Caminho das Índias”, “Páginas da vida” e a série “As brasileiras”.
No elenco, estão ainda os atores Manuela do Monte, Alberto Silva Neto, Adriana Cruz, Joyce Cursino, Zeno Silveira, Leoci Medeiros e Henrique da Paz. A preparação ficou sob a responsabilidade do ator e diretor de teatro paraense Cláudio Barros, que fez um trabalho direcionado e profundo. A maior preocupação foi trabalhar os corpos das personagens que passam por várias fases das doenças". Isso foi o primeiro detalhado por mim e pelo Roger. E eu criei, para o filme do Roger, um procedimento para que a gente chegasse a esse objetivo. Foi um trabalho profundo, muitas horas por dia, por quatro semanas”, conta Cláudio.
À caracterizadora Sônia Penna coube o desafio de criar a maquiagem que levasse o espectador ao difícil momento de tratamentos tão duros, como o de um escalpelamento ou uma quimioterapia. “É toda uma parte de pesquisa que a gente fez. Fazemos testes, mostramos para o diretor e para a direção de arte para que tudo seja aprovado. Para cada filme é um tipo de estudo especifico”.
Filmar na Santa Casa tem sido também um grande desafio. O diretor de produção Luiz Carlos Cruz Fabiano destaca algumas particularidades desse trabalho. “A gente tem de ter um cuidado extra por causa da idade do edifício, para não danificar nada. É um edifício tombado, tudo isso tem de ser levado em consideração. A própria arquitetura do prédio. Saber os melhores caminhos para passar cabo, montar camarim”. O longa-metragem, uma produção da Visagem Filmes, com co-produção da Amora Filmes, tem a direção de fotografia de Martin Moody, com uma sólida carreira em produções internacionais.