Escola Magalhães Barata recebe o projeto Conquistando a Liberdade
“Eu sonhava em ser advogado, mas meu sonho foi interrompido pelas drogas e pela vida no crime”. O relato é um alerta do detento Virgílio Macedo, 42 anos. O depoimento foi dado durante o “Papo di Rocha” com alunos da Escola Municipal de Ensino Médio Magalhães Barata, em Belém. Nesta quarta (17) e na quinta-feira (18), o colégio recebe o projeto Conquistando a Liberdade, da Superintendência do Sistema Penitenciário (Susipe).
Cerca de 35 alunos do terceiro ano da escola participaram do bate-papo, que tem o objetivo de mostrar as consequências do crime e o dia a dia no cárcere aos estudantes. Além da conversa, nove internos da Colônia Penal Agrícola de Santa Isabel (CPASI) fizeram um trabalho de revitalização no histórico colégio, com serviços de pintura, limpeza, capina e reparos do telhado.
“A importância desse projeto é, sobretudo, dar um olhar mais humano ao detento e criar meios de reinserção social. E que melhor meio que o trabalho? O preso tem a oportunidade de fazer um trabalho social com o qual todos os envolvidos ganham: a escola, porque precisa, e eles porque têm remissão na pena”, avalia o professor e coordenador da escola, Adailton Santos.
Na quinta edição do projeto este ano, é a primeira vez que a ação ocorre na instituição de ensino. Para o psicólogo e coordenador do projeto, Ércio Teixeira, a expectativa é que, além dos benefícios estruturais trazidos pela ação, o “Papo di Rocha” sensibilize os alunos sobre a vida do crime. "A intenção é fazer uma prevenção primária, para os alunos que nunca tiveram contato com drogas ou criminalidade, e secundária, àqueles que já estão envolvidos ou prestes a se envolver", afirmou.
Foi o caso da aluna Paula Couto, 18 anos, que ficou emocionada ao escutar o relato de Virgílio. “Choro porque me lembro das dificuldades que passamos em casa quando o meu padrasto foi preso, no dia do casamento, por um crime que havia cometido há mais de 12 anos. A conversa é muito tocante e importante para meus colegas principalmente, que não sabem o que é passar por uma situação dessa”, disse a estudante.
Referência – O Conquistando a Liberdade já passou por 17 municípios do Pará. Hoje, o maior percentual da população carcerária do Estado (36%) tem entre 18 e 24 anos. O projeto é desenvolvido em escolas públicas, onde os presos fazem serviços de capina, poda de árvores, jardinagem, limpeza, pintura, reparos hidráulicos e elétricos, consertos de carteiras e mesas e pequenas reformas em geral. Todos os internos que participam do projeto passam por uma seleção psicossocial e treinamento.
Participam da ação presos dos regimes semiaberto e fechado, que apresentam bom comportamento e que já façam trabalhos na casa penal. Não há remuneração, mas o preso recebe o benefício da remição de um dia de pena, a cada três participações, um direito garantindo pela Lei de Execuções Penais do país. O projeto foi um dos vendedores do Prêmio Innovare 2013, uma das mais importantes premiações da Justiça brasileira. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) também já referenciou o projeto como modelo de reinserção social de presos no país.