Jogo de xadrez é utilizado como estímulo à educação de detentos no Pará
Iniciado há cerca de três anos na Colônia Penal Agrícola de Santa Izabel (CPASI), o projeto “Xadrez na Escola” ganha cada vez mais adeptos. A unidade é a primeira do Estado a utilizar o jogo como metodologia para a educação formal e tem garantido bons resultados. A prática, já utilizada em algumas escolas públicas, tem o objetivo de melhorar a concentração, o raciocínio lógico, a antecipação, a imaginação, a criatividade e o planejamento dos alunos.
A ideia foi trazida para a casa penal através do professor de matemática José Wilson Coelho, na intenção de reforçar as aulas e ajudar os internos nas dificuldades que sentiam com a matéria. “No xadrez, eu trabalho a geometria, com o tabuleiro, com a parte numérica, que também está presente no jogo, e ainda tem a lógica com as jogadas. Tudo tem muita semelhança com a matemática. Sem contar a questão lúdica, que estimula a curiosidade e a aprendizagem dos detentos”, afirma o professor.
Atualmente, 12 internos participam do projeto. A expectativa é de que com a volta do ano letivo a turma cresça ainda mais. A iniciativa beneficia internos que fazem o ensino fundamental e médio. Durante as aulas, José Wilson aplica a matemática na prática, em meio a um jogo, para somente depois explicar a teoria. A metodologia apresentou resultados tão positivos que virou tema da Especialização do professor.
O interno Valmir Andrade, de 36 anos, recém chegado ao projeto, conta que teve que aprender o jogo desde o início, mas não sentiu dificuldades. “Primeiro aprendemos o nome das peças, depois a posição de cada uma, em seguia a movimentação delas e finalmente partimos para a prática. Percebi que tenho que pensar bem antes de cada jogada, raciocinar bastante para não errar. Tudo no xadrez envolve matemática, então eu achei uma forma muito mais bacana de aprender”, garante.
Já o interno Tiago Albuquerque, de 26 anos, que já está no projeto há alguns meses, explica que o jogo não o ajudou apenas nas notas, mas também em vários aspectos da vida. “O maior aprendizado que tirei do xadrez foi que eu posso aplicar ele no meu dia a dia. Toda vez antes de tomar uma decisão eu tenho que pensar muito, não agir por impulso, porque numa jogada errada, perdemos o jogo, checkmate. Eu que antes não gostava de matemática e não tirava boas notas, agora passo com facilidade em todas as avaliações”, comemora o interno.
Além de aplicar nas aulas, o professor também cria torneios para atrair novos alunos. "No primeiro torneio, o vencedor, que já saiu da unidade prisional, ganhou medalha de melhor jogador e um tabuleiro de presente para praticar. O próximo concurso já está programado para ocorrer dentro de dois meses", garante o professor.
A pedagoga da Secretaria de Estado de Educação (Seduc), Luciana Campos, que coordena o ensino na CPASI, considera a metodologia eficiente e acredita que ela deve ser implantada em outras casas penais. “Hoje, nas escolas públicas e nas salas de aula dentro dos presídios, temos um problema com o déficit de atenção dos alunos e através dessas atividades complementares, agregada ao ensino regular, eles conseguem avançar. Então é um benefício não só para a matemática, mas também para as outras disciplinas. Penso que outras unidades também deveriam aderir ao projeto”, conclui a pedagoga.