Coral formado por detentos canta com Fafá de Belém na Trasladação
Através do canto a Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado (Susipe) vem despertando o sentimento de transformação na vida de homens e mulheres que cumprem pena pelos mais diversos crimes. Pelo segundo ano consecutivo, o ponto alto para muitos deles é a apresentação, para uma multidão, durante a Trasladação, uma das maiores romarias em homenagem ao Círio de Nossa Senhora de Nazaré.
25 detentos, custodiados no Centro de Recuperação do Coqueiro (CRC) e no Centro de Recuperação Feminino (CRF), integram o Coral Timbres. Este ano eles foram convidados especiais da cantora Fafá de Belém. Com um repertório de 15 músicas, o grupo se apresentou na Varanda de Nazaré, espaço idealizado pela artista paraense para receber convidados de todo país durante as celebrações do Círio.
A cantora conheceu o trabalho dos detentos este ano e fez questão da participação do coral na Varanda. “A inclusão faz parte do Círio de Nazaré. Debaixo do manto de Nossa Senhora não existe julgamento. Eu entendo que essa participação delas aqui é uma forma de que os outros detentos se motivem a fazer alguma coisa que faça bem para eles próprios”, disse Fafá. Para ela, a música faz com que as pessoas que cumprem penas de reclusão voltem a se sentir parte da sociedade, mesmo que estejam dentro de uma penitenciária.
A idealização do coral é resultado de um projeto social que tem a música e o canto como principais ferramentas de reinserção. Desenvolvido pela Susipe, o projeto tem o apoio do Núcleo de Articulação e Cidadania (NAC), ligado ao gabinete da primeira-dama do Estado, Ana Jatene. “Todo mundo merece uma segunda chance. Este coral é algo bom não somente para os detentos. Ele atinge também a sociedade e a família destas pessoas. A música transforma, principalmente quando leva uma mensagem especial como as canções cantadas pelo Timbres”, afirmou Ana Jatene.
No repertório, músicas como “Vois sois o Lírio Mimoso”, “Nossa Senhora”, “Senhora e Rainha”, “Maria Maria” e “Noites Traiçoeiras”, embalaram o público que estava na Estação das Docas e também os romeiros que passavam pela Boulevard Castilho França.
Expectativa - O preparo para a grande apresentação na Trasladação começou em agosto. Com ensaios que duravam cerca de 5 horas por dia, de segunda a quinta-feira, homens e mulheres se esqueciam dos caminhos que os levaram até o cárcere. “A apresentação ao lado da Fafá os deixou ainda mais dedicados aos ensaios. Eles se envolveram muito mais com as canções. Estar aqui é o resultado do nosso esforço de transformação”, atestou a maestrina Deolinda Gonçalves, regente do Coral.
Custodiado no CRC há 4 anos, o detento Januário Neto está envolvido com as atividades musicais propostas pela Susipe antes mesmo da formação do Coral Timbres. Ele foi um dos primeiros integrantes do grupo Arcodes Livres, que levou aulas de violão para os internos. “É especial poder viver a música dentro do cárcere. Para nós é uma honra estar aqui ao lado da Fafá, vivendo a música de uma forma muito mais intensa”, contou.
Para o titular da Susipe, André Cunha, a apresentação dos detentos na Varanda de Nazaré é um momento de muito êxito para o Coral. “A cada ano a gente consegue aperfeiçoar ainda mais esse trabalho. Ter o Timbres ao lado de uma das maiores artistas do Pará e no maior evento religioso do nosso Estado é uma oportunidade ímpar. É um motivo de muito orgulho e de reconhecimento do trabalho da maestrina e das direções do CRF e do CRC”, apontou Cunha.