Oficina de xadrez estimula memória, disciplina e raciocínio de internos da Susipe
Uma oficina de xadrez tem mudado a rotina de detentos do Centro de Recuperação Agrícola Mariano Antunes (CRAMA), em Marabá. O grupo de dez internos, no total, participa de um projeto de atividade complementar às aulas regulares, que tem o objetivo de melhorar o raciocínio lógico, a memória, concentração, disciplina e a antecipação dos detentos, além de contribuir para a aprendizagem.
A ideia surgiu através do professor de educação física do CRAMA, Frederico Morbach, que convidou o professor de xadrez e presidente do Clube de Xadrez de Marabá, Francisco Arnilson de Assis, para ensinar aos internos o esporte da mente. Para participar, os detentos precisavam ter bom comportamento, estar matriculados na educação formal e ter interesse.
As aulas de xadrez já ocorrem há um mês, todas as terças e quintas-feiras. O professor de xadrez contou que não teve dificuldade para ensinar os internos. “Comecei ensinando o movimento de cada peça, depois o modo como essa peça captura, a importância dela no tabuleiro e a relação que há entre uma peça e outra e como combinar a força entre elas. Eles aprenderam rápido, mas é necessário prática para auferir os benefícios”, explicou Francisco Arnilson.
Depois de muito treino, o grupo decidiu fazer o primeiro torneio de xadrez com internos do CRAMA. Durante a disputa foi necessário muita concentração e agilidade. Em partidas cronometradas em 5 minutos para fazer o xeque-mate, todos jogaram contra todos, revezando-se em duplas. Para vencer o torneio era necessário ter o maior número de vitórias após cinco rodadas.
Foi o que fez do interno Djaime Souza, de 33 anos, o vencedor invicto em todas as rodadas. “Eu não sabia o que era xadrez, nunca tinha jogado antes de entrar para a oficina e realmente é um projeto muito bom para abrir a nossa mente, para ficarmos mais calmos. Eu estou muito feliz em ter ganhado, mas essa disputa é só uma brincadeira, porque o que vale mesmo é o aprendizado que ganhamos com o jogo. Agradeço por essa oportunidade porque sei que muitas vezes as pessoas nos olham com discriminação e aqui foi diferente”, afirmou.
Benefícios - O resultado do projeto tem agradado o corpo docente da unidade prisional. “Essa atividade está desenvolvendo a leitura e a escrita nas aulas regulares, porque a oficina aprimorou o raciocínio lógico dos alunos. A interação entre eles também melhorou, um ajuda o outro, às vezes mesmo em disputa. Além de benefícios que são muito bons para eles como a remissão de pena, para cada 12h de estudo, mesmo no caso de oficinas, o interno tem um dia de pena a menos”, contou a coordenadora pedagógica do CRAMA, Roberta Araújo.
Para o professor de educação física Frederico Morbach, a oficina trouxe benefícios até no comportamento dos internos. “Foi uma mudança significativa, principalmente no comportamento. Percebemos que eles ficam mais calmos, prestam mais atenção nas aulas. Antes do xadrez, alguns tinham um comportamento agressivo e isso mudou com o decorrer da oficina, agora eles refletem mais antes de falar e pensam muito antes, para não cometerem erros”, assegurou o professor.
Mais ações – Não é a primeira vez que a Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado (Susipe) conta com o xadrez para melhorar o aprendizado dos internos. A técnica já utilizada em muitas escolas pelo Brasil, também é promovida na Colônia Penal Agrícola de Santa Isabel (CPASI), pelo professor de matemática José Wilson Coelho, para, de forma lúdica, facilitar o aprendizado dos detentos e aumentar a aceitação da matéria. Na unidade prisional de Santa Isabel, mais de 15 alunos foram beneficiados com o projeto, e melhoraram suas médias no Exame Nacional de Ensino Médio para Pessoas Privadas de Liberdade (Enem PPL).
"O xadrex é, sem dúvidas, uma importante ferramenta, que estimula não só o aprendizado, mas potencializa o desenvolvimento ocupacional no cárcere. Acreditamos que o projeto possibilita um processo de melhoria na disciplina desse interno, de forma considerável", finaliza o superintendente da Susipe, Cel. André Cunha.