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Pais mudam rotina para acompanhar filhos em tratamento oncológico

Por Redação - Agência PA (SECOM)
09/08/2015 19h23

Nas clínicas e serviços do hospital Ophir Loyola é possível perceber uma cena bem comum no dia a dia dos hospitais do país: a maioria dos acompanhantes é do sexo feminino. Na pediatria, principalmente, a presença das mães é predominante. Mas isso tem começado a mudar. Os pais vem assumindo essa função com uma frequência maior e alguns deles deixam até o papel de provedor da família para estar ao lado dos filhos.

Essa mudança no perfil da relação familiar, além de um reflexo das mudanças de comportamento cultural próprias dos tempos atuais, tem muito a ver também com impacto causado pelo diagnóstico oncológico. A descoberta de que um filho tem câncer coloca os pais diante de uma uma nova e desafiadora realidade, que, se por um lado pode ser aterrorizante, por outro ajuda a estreitar os laços afetivos, que são fundamentais para o enfrentamento da doença.

Há oito meses, o taxista Sérgio Rabelo, 41, deixou a profissão. Em outubro do ano passado, o filho único, Paulo Henrique, de oito anos, começou a sentir fortes dores nas costas e pernas, que o levaram a passar o aniversário do pai em uma emergência. “Aquela foi a noite mais longa da minha vida. Ele não chorava, ele gritava de dor”, recorda. A preocupação estava apenas começando, o pior viria mais tarde, com a confirmação de que o filho era portador de uma leucemia.

Sérgio fez questão de acompanhar todas as sessões de quimioterapia do filho. “No começo foi muito difícil, ele parou de andar. As sessões duravam três, seis e até 24h. Tinha medo de perdê-lo. Sabia que ele e minha esposa precisavam de mim. Todas as noites falo o quanto o amo e jamais vou abandoná-lo”, diz. Agora, Paulo Henrique vem apenas uma vez na semana ao HOL para fazer quimio de manutenção. "O pior já passou. Vê-lo andando e sem dores é o melhor presente para mim”, afirma o pai.. 

Durante todas as etapas do tratamento (radioterapia, quimioterapia e cirurgia), crianças e adolescentes necessitam de uma estrutura familiar harmoniosa. A oncopediatra do HOL, Alayde Wanderley, explica que a atenção familiar integral contribui para a recuperação do paciente. “É perceptível que essa dinâmica traz bem estar e uma melhor resposta ao tratamento. A criança precisa ter um ponto de referência para se abrigar, e a figura paterna é um porto seguro, ela se sente acolhida e amada. Mesmo separados, os pais precisam se unir em prol do filho”, enfatiza a especialista.

Morador do município de Santa Izabel, Luiz Barros, 53, trabalha por conta própria como pedreiro. A profissão facilita os deslocamentos com o filho, Luiz Rikelme, de sete anos, a Belém para o tratamento da leucemia, desde que a mãe passou a dedicar-se ao caçula da família, recém-nascido. A cada 21 dias, pai e filho comparecem ao Ophir Loyola. Na sala de quimioterapia, o sono do menino é velado pelo pai, que não tira os olhos dele. “Tenho muito cuidado com ele, e repito que vou estar sempre aqui. Sinto uma dor que não dá para descrever ao ver ele passando por tudo isso, mas tenho muita fé em Deus”, afirma o pai.

A psicóloga Regina Lima também defende a presença paterna como um fator essencial no processo de recuperação e estimulação de sentimentos positivos nas crianças e adolescentes. Com a mudança brusca na rotina familiar, o homem passa a refletir sobre a conduta de pai, e isso potencializa a relação de afetividade e interação com o filho. “Geralmente são as mães que acompanham os filhos, porque na maioria das vezes os pais não tem estrutura psicológica para isso. Quando existe o envolvimento do pai e de toda a estrutura familiar em volta dela, a criança se sente mais amparada”, destaca.

João Neri, 42, conversa e não poupa demonstrações de afeto ao filho Alessandro, de 11 anos, internado na ala pediátrica do HOL. Os dois deixaram o município de Mocajuba em junho para que o menino fosse submetido a uma cirurgia para retirada de um tumor no cérebro. João deixou para trás as redes  de pesca, o barco e outros dois filhos, um de 19 e outro de nove anos.

Mesmo saudoso de casa e da família, ele diz que não abre mão de participar desse momento. “Ser pai é uma responsabilidade muito grande, tem que fazer o possível e o impossível, dar exemplo, amor, apoio e carinho. E Alessandro, como bom filho, retribui toda a dedicação do pai demonstrando confiança no tratamento e gratidão por aquele que diz ser o seu maior exemplo. “Eu amo muito o meu pai, também faço qualquer coisa por ele, e sei que logo vamos voltar para casa e ainda vamos fazer muita coisa juntos.”