Fernando Meirelles comanda filmagens em diversas locações de Belém
A manhã da segunda-feira, 24, foi marcada por uma movimentação diferente no Bosque Rodrigues Alves, em Belém. Desde muito cedo o vai e vem de pessoas denunciava que se tratava de um dia incomum. Um grande aparato reunindo câmeras, cases com lentes, spots de iluminação, cabos elétricos, ventiladores foi desembarcado no jardim botânico para dar prosseguimento a mais um dia de filmagens das cenas que estarão na montagem da ópera “Os Pescadores de Pérolas”, dentro da programação do XIV Festival de Ópera do Theatro da Paz.
Na verdade, duas filmagens ocorreram paralelamente. As cenas que serão exibidas na ópera são dirigidas pelo cineasta Fernando Meirelles, que responde também pela direção cênica da montagem, e incluem trechos de um documentário de 70 minutos, assinado pelo diretor carioca Carlos Nader, que acompanha Meirelles em sua primeira incursão pelo mundo operístico.
As cenas da ópera e do documentário começaram a ser feitas em São Paulo, há três semanas, continuaram em Belém, mais precisamente no bairro do Fama, em Outeiro, passaram pelo Bosque, e continuam até esta sexta-feira, no palco e todo o Theatro da Paz.
Na última terça-feira, 25, o diretor do documentário Carlos Nader chegou a Belém e, desde então, vem fazendo as entrevistas que estarão no documentário. A equipe do documentário é pequena. Além de Nader, conta com Ariel Schwartman, na co-direção e direção de fotografia, Lucas Satti, na câmera, e o responsável pelo som direito, Samuel Braga. De Belém, a equipe é completada pela produtora geral Moana Mendes e os assistentes Aladim Júnior, César Moraes e Lucas Escócio, além do pessoal de maquinário e da parte elétrica.
As cenas que estarão na ópera são captadas em formato digital por uma câmera RED, e as cenas do documentário, também em digital, com câmeras digitais 5D.
Carlos Nader busca o tom do documentário. Mas o clima do Círio de Nazaré, que já se avizinha na capital paraense, contagiou o diretor. “Penso que podemos fazer essa alusão ao mar de pessoas, dos pescadores da ópera com aquele que encontrou a imagem da Santa. Acredito que há uma grande possibilidade de mostrarmos os nossos pescadores relacionados com aqueles que fazem parte da história do Círio”, explicou Nader.
Bosque – O diretor Fernando Meirelles dirige as cenas que estarão na ópera. É a primeira vez em Belém que a encenação tradicional, que soma teatro, música e dança, se une ao cinema. Na segunda-feira, foram gravadas as cenas em que a personagem Leila, que é interpretada pela soprano Camila Titinger, surge coberta por um véu que lhe esconde o rosto. Ela subiu e desceu a escada das ruínas do castelo, no Bosque, dezenas de vezes, até que o diretor conseguisse o resultado desejado. “Nossa! Estou maravilhada com essa experiência. Nunca trabalhei no cinema, meu palco é o teatro, mas estou adorando isso tudo, essa repetição das tomadas”, disse Camila, devidamente caracterizada como a sacerdotisa da história.
Ainda de manhã, foram filmadas as cenas de uma briga e as pazes entre os pescadores Nadir (Fernando Portari) e Zurga (Leonardo Neiva). Na trama, eles são amigos muito próximos, mas com a chegada de Leila, essa amizade será posta à prova. Tanto Portari quanto Neiva já usavam o figurino com temática indiana – assinado por Verônica Julian – nas cenas. À tarde, as cenas foram todas com Portari. Na história, Nadir ousa desafiar a ordem estabelecida na aldeia dos pescadores pelo amor de Leila. Por isso, é perseguido e agredido pelos homens de confiança do sacerdote Nourabad, defendido, na ópera, pelo baixo barítono paraense Andrey Mira.
Fernando Meirelles mostrou em vários momentos a Portari como ele deveria correr pelos caminhos estreitos do Bosque. Portari repetiu a cena outras tantas vezes até a aprovação final. No final das filmagens, o cantor mostrava exaustão, mas declarou que estava muito satisfeito. “Essa é minha chance de ir para Hollywood. Já me vejo no tapete vermelho do Oscar”, brincou Portari. “Eu estou muito feliz de participar disso tudo aqui. Nunca fiz cinema, mas o esforço não é muito diferente de quando estamos numa ópera. A dedicação é a mesma, porque apostamos num bom resultado”, considerou Portari.
O diretor Fernando Meirelles considera que essa junção de cinema com ópera é de extrema valia. “Desde que aceitei o convite para dirigir a ópera, uma arte que eu quase não conhecia, tenho me empenhado em saber mais desse segmento. Vi óperas ao vivo, assisti outras tantas em DVD, e agora, posso dizer que não é tão diferente de fazer cinema, começando pelo fato de que tenho o enquadramento que o palco me dá, como uma ‘janela’ tal qual o quadro do cinema”, disse Meirelles.
“Posso, em princípio, não conhecer tanto de ópera assim, mas sei contar histórias. E essa é a minha praia. Então, a minha preocupação é contar bem essa história e fazer com que as pessoas se emocionem com ela”, completou.
Na tarde de quarta-feira, 26, as cenas foram todas gravadas no cenário – assinado pelo cenógrafo Cássio Amarantes – montado no palco do Theatro da Paz. São as cenas de amor, depois do reencontro de Leila e Nadir. E nos intervalos dessas gravações, a equipe de filmagens continua as entrevistas com todos os envolvidos na ópera para o documentário pelos corredores e salas do centenário Theatro da Paz.
Serviço: Ópera “Os Pescadores de Pérolas”, programação do XIV Festival de Ópera do Theatro da Paz, dias 9, 11, 13 e 15 de setembro, às 20h, no Theatro da Paz. Ingressos a R$ 20,00 a R$ 70,00 (já à venda na bilheteria do teatro). Informações: 4009-8759.