Cenários e figurinos de Don Giovanni refletem dramaticidade da obra
A ópera “Don Giovanni”, do compositor austríaco Mozart, apresentada no XVI Festival de Ópera do Theatro da Paz, mostra a confusão causada pelo personagem título na vida de três jovens que atravessam seu caminho: a nobre Donna Anna, a burguesa Donna Elvira e a singela camponesa Zerlina. A trama aprensenta a maneira que este homem conquistador e inescrupuloso relaciona-se com as damas, de maneira trágica e cômica. Por isso, o cenário foi pensado especialmente para acompanhar os momentos com as damas.
Considerada uma das obras primas de Mozart, o libreto (espécie de roteiro) foi escrito por Lorenzo da Ponte - ele próprio um célebre garanhão e que teve problemas a vida inteira por seu comportamento em relação às damas - com base na história do lendário Don Juan, escrito por Tirso de Molina. Na capital paraense, a direção cênica do espetáculo é de Mauro Wrona e a direção musical e regência do maestro mineiro Silvio Viegas.
A condução artística foi pensada sem grandes truques e tal qual a ópera foi concebida, mas na montagem o diretor procurou traçar uma linha de modernidade, que se dá pelos efeitos de luz criados por Caetano Vilella, pelos recursos cênicos do cenógrafo Nicolás Boni e em detalhes do figurino criado por Fábio Namatame, profissionais que se juntaram ao diretor neste projeto.
“A versatilidade com que os muros cenográficos se movem ao longo do espetáculo e figurino que mistura elementos de couro com plástico, as vezes algo amassado, transparente, uma miscelânea que vai dar um ar de modernidade, uma nova dinâmica para um cenário que muda durante as cenas. Eu gosto de contar a história como ela é, não gosto de inventar, aí está o que se pode caracterizar como tradicional na minha visão de diretor”, diz Mauro Wrona.
O ambiente de encenação ganhou a dramaticidade dos quadros do pintor e gravador espanhol Francisco Goya, que no entendimento do cenógrafo argentino Nicolás Boni, representam a fusão perfeita da ópera de Mozart. As figuras recriadas da série "Pinturas negras" servem de moldura ao cenário.
“As figuras pretas do cenário têm muito a ver com esse dramma giocoso. Achei que havia uma correspondência entre o visual e o tema musical, que são muito bem amalgamados, e na movimentação cênica que também se vai citar uma outra pintura de Goya, pois em Don Giovanini a carga dramática é a mais forte e interage com os atores, que movem muros, abrem e fecham portas em cenas continuadas, explorando o mapa de Sevilha”, conta Nicolas Boni.
A montagem de Don Giovanni traz para Belém uma dinâmica na qual o cenário, a luz, o figurino que seguem a concepção dramática de Mauro Wrona, assim como os cantores, precisam de afinação e cumplicidade nas cenas, como diz o iluminador Caetano Vilella, ao explicar que a luz propõe a criação de uma atmosfera lúdica.
“Esse espaço é muito particular. A presença dos quadros de Goya e os muros móveis instalados no palco e a predominância da cor marrom me levam a trabalhar com os tons corretivos do branco e tons frios explodindo nos tons quentes. No final da ópera, por exemplo, a cena do cemitério, uma das principais, a iluminação é fria, toda trabalhada na própria cenografia com o mármore das tumbas. Como iluminador não gosto de alterar tom da pele e nem alterar o tom do figurino”, diz Vilella.
Já os trajes dos cantores foram criados por Fábio Namatame com a ideia de ajudar na compreensão da própria história, que está sendo contada em cena e que pensa o trabalho mais como dramaturgia do figurino. "As roupas precisam ser bem teatrais e bem caracterizadas, mas não caricaturas”, diz. E assim poderão ser vistas a elegância sob as rendas e os bordados na nobre Donna Anna, o singelo e pueril vestido na romântica Zerlina e na infeliz Donna Elvira combinações do vermelho e preto.