Exposição mostra a diversidade de cores e beleza do artesanato da fibra do jupati
Um Marajó diferente daquele que todos conhecem. Não o Marajó do búfalo, do queijo e da cerâmica, mas sim o Marajó rico em cores, em detalhes, feitos da fibra do jupati. É o que a exposição “Mulheres de Fibra” do grupo de artesãs “Arte em Fibra de Jupati” mostrou ao público na última quinta-feira (26), quando a mostra de acessórios de moda e decorativos foi aberta. Com entrada gratuita, a instalação continua aberta à visitação até o dia 20 de dezembro, no Espaço São José Liberto (ESJL) - Polo Joalheiro Pará.
A exposição tem como propósito exibir o artesanato feito a partir da fibra do jupati, matéria prima retirada de uma palmeira característica da flora do município de São Sebastião da Boa Vista, pertencente ao arquipélago do Marajó. A abertura da mostra contou com a participação de quatro das 12 mulheres artesãs que fazem parte do grupo boavistense. São elas: Maria do Socorro Ferreira, Rosa Maria Ferreira, Érica Cunha e Liliene Veiga.
A mostra tem aval do Ministério da Cultura, por meio do Programa Amazônia Cultural de incentivo às práticas culturais na Região Norte do Brasil. O programa financia o projeto “Mulheres da Fibra do Jupati: tecendo a vida com arte”, criado em 2013, com o propósito de fortalecer a produção do artesanato.
Após uma breve apresentação do projeto, composto pelas artesãs, foi lançado o site onde as mulheres contam a sua história O site também mostra o cotidiano peculiar dos ribeirinhos da região. O usuário encontra ainda informações sobre o processo de confecção do artesanato e as peças criadas pelas artesãs. O site é uma plataforma de visibilidade e comercialização do produto gerado no coração do Marajó de rios e florestas e pode ser acessado pelo endereço www.artejupati.com.br.
Emocionada, uma das mestras artesãs, Rosa Maria Ferreira, fala que este é um momento de grande alegria para o grupo, apesar de toda a dificuldade que encontram para realizar o ofício. “Não é um trabalho fácil, é um trabalho de muita ciência. É uma atividade que faço desde criança. Eu quero agradecer as pessoas que nos apoiaram”, diz a artesã.
Do mesmo modo, Maria do Socorro, mestre artesã criadora e responsável pelo projeto, ao referendar as outras integrantes do grupo que não puderam estar na abertura da mostra, fala da satisfação de ter conseguido realizar o projeto, o qual permitirá a expansão e reconhecimento do trabalho do coletivo de artesãs. “Eu estou muito feliz por este momento, que é a realização de um dos meus maiores sonhos”, comemora a mestra.
O evento marca o lançamento de uma coleção exclusiva de acessórios de moda e de decoração, confeccionados a partir dessa tipologia de artesanato marajoara. O público poderá conferir, até o encerramento da mostra, inúmeros itens, como bolsas, braceletes, colares, pulseiras, tiaras, garrafas decorativas e outros artigos.
Matéria-prima - Os produtos de moda começaram a ser desenvolvidos pelas artesãs após as oficinas e consultorias que designers do Serviço Brasileiro de Apoio ao Micro e Pequeno Empreendedor (Sebrae Pará), realizou, em 2004. A designer Ninon Jardim, uma das consultoras do grupo, lembra que, apesar de as artesãs terem começado a aplicar a estética peculiar do artesanato em peças contemporâneas, as mulheres permanecem fiéis às características singulares do trançado de jupati, atividade desenvolvida, tradicionalmente, apenas por mulheres.
“Na exposição o público pode encontrar as formas tradicionais do artesanato, como garrafas e chapéus que elas sempre produziram e também as peças novas, como os acessórios. Ao longo do processo, as artesãs foram criando outras linhas de produção mais temáticas, como a do Círio de Nazaré e do Natal. Agora, com o apoio do MinC, tivemos a coleção de bolsas. Em tudo isso, elas têm uma estética pessoal enraizada. A composição cromática, por exemplo, é uma escolha característica delas, na qual nunca interferimos”, explica a designer.
As artesãs, que já vendiam produtos tradicionais do artesanato de jupati na Casa do Artesão do São José Liberto desde 2012, registram, com essa exposição e com o lançamento do site, o fortalecimento de uma cadeia produtiva que evolui, ampliando possibilidades de mercado.
A diretora executiva do Programa Polo Joalheiro do Pará, do ESJL e do Instituto de Gemas e Joias da Amazônia (Igama), Rosa Helena Neves, comenta que a abertura do espaço para esse lançamento faz parte das finalidades do Polo Joalheiro, dentre elas divulgar a produção das comunidades criativas que estão nos municípios do Estado do Pará.
“Com o acolhimento dessa atividade nós estamos cumprindo nosso objetivo, que é promover o artesanato do nosso estado. Para nós, é muito importante consolidar, dentro no nosso território, as experiências de uma economia que fala desse simbolismo e preserva nossa diversidade cultural. O intercâmbio entre os artesãos e o Espaço São José Liberto incentiva novas criações, novos produtos, novos talentos e, o mais importante, possibilita preservar saberes, conhecimentos e experiências de comunidades, como esta do Marajó. Um lugar que precisa ser ainda mais conhecido”, afirma Rosa Neves.
A exposição tem apoio do Governo do Estado do Pará, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia (Sedeme) e do Igama.
O “Arte em Fibra de Jupati” foi criado em 2012 e é composto por várias gerações de artesãs: Rosabeth Martins Costa, RosaMaria Ferreira, Marly do Socorro Naum, Marlene Naum Costa, Maria Gorete Martins, Marisa Rocha, Marília Rocha, Renata Costa, Liliene Veiga, Raylana Costa, Érica Cunha Soares e a proponente do projeto, Maria do Socorro.
Serviço:
Exposição “Mulheres de Fibra”, do Grupo Arte em Fibra de Jupati. Visitação até o dia 20 de dezembro, no Espaço São José Liberto/Polo Joalheiro do Pará - Praça Amazonas, s/n, Jurunas, Belém-Pará-Brasil, no horário de funcionamento do espaço: de terça a sábado, das 9h30 às 18h30, e aos domingos e feriados, das 10h às 18h. Entrada franca.
Informações:
Site: artejupati.com.br
(Com informações de Vitor Barros - Ascom Arte em Fibra de Jupati)