Palestra alerta sobre transmissão específica de Chagas no Pará
Na semana em que é lembrado o Dia Mundial de Combate à Enfermidade de Chagas, a Universidade do Estado do Pará (Uepa) recebe a pesquisadora em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Tânia Araújo Jorge, para relatar sobre uma forma específica de transmissão da doença de Chagas, recorrente somente no Pará.
Iniciada em 2008, a pesquisa intitulada “Trabalho interdisciplinar no controle da doença de Chagas no Pará: desafios para o ensino” é tema da palestra que será nesta quinta-feira (16), às 9h, no auditório de Dermatologia do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS), localizado na Travessa Perebebuí, bairro do Marco, em Belém. O evento é aberto a alunos e professores da graduação e pós-graduação.
Segundo a pesquisadora e também coordenadora de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o Estado do Pará é o único local em que se transmite Chagas à distância. “O barbeiro é carregado das ilhas para Belém. A pessoa se contamina em Belém, mas por uma contaminação que veio da ilha. Essa contaminação a distância é uma nova característica que só tem em Belém. Por isso é tão necessária à lavagem dos frutos do açaí, que vem de ilhas, como a do Combú”, comenta Tânia.
A palestra também abordará a forma correta de manuseio do açaí, alertará sobre os danos causados pela doença e os desafios de erradicá-la na região. ‘’Quanto mais a gente informar a população e formar os profissionais da saúde, é melhor. Tem que ser um trabalho integrado. E percebemos que é tão difícil fazer isso. O ensino pode mudar a situação e intervir. Vamos falar sobre como lavar os frutos, fazer o branqueamento do açaí, como se preocupar com esses problemas nos batedores de açaí’’, detalha.
Tânia pontua que a região necessita de materiais informativos. Ensinar seria uma das principais ferramentas para compartilhar o conhecimento. “Deveria haver materiais específicos para a região. Tem que falar com as pessoas, comunicar, não pode pegar o mesmo folheto que é usado em outro estado e distribuir aqui. Cada público tem a sua característica’’, frisa.
Números – Dados mais recentes divulgados pela Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) mostram que, nos quatro primeiros meses de 2015, o Pará registrou 21 casos da doença de chagas. Sete deles só em Ananindeua. Em 2014, foram confirmadas 140 ocorrências em 26 municípios. Os maiores números foram contabilizados em Belém (27), Abaetetuba (24), Barcarena (19), Curralinho (13) e Muaná (oito). Houve duas mortes, uma em Ponta de Pedras e outra em Abaetetuba. A pesquisa ainda em andamento é feita em parceria com a Sespa.
A palestra é uma programação do Mestrado Ensino em Saúde na Amazônia. O coordenador, Robson Domingues, ressalta a importância de obter novos conhecimentos com profissionais renomados. ‘’ A presença da pesquisadora é até para que nossos alunos e professores tenham referência de uma profissional conhecida nacional e internacional. A gente precisa desse referencial’’, comenta.
A partir das informações passadas na palestra, Tânia espera contribuir para a redução e prevenção da doença no Pará. ‘’Estarei indo do Rio de Janeiro para Belém. É a primeira vez que vou à Universidade. Vai ser uma oportunidade para melhor divulgar a pesquisa. Espero que tenham muitas pessoas interessadas, porque a doença é um problema no Pará’’.