Estudantes recuperam sonhos através do Projeto Mundiar
A Rayssa, de 17 anos, precisou acompanhar a família em muitas mudanças de endereço. Só de bairro, foram cinco. E nesse processo, acabava trocando, também, de escola. E isso era um empecilho enorme para continuar os estudos. Principalmente quando essa mudança acontecia bem no meio do ano. O resultado foi um atraso considerável na relação idade-ano escolar. “Chega um momento que você fica num atraso tão grande que a vontade de estudar vai embora. É chato fazer a mesma série muitas vezes”, recorda com tristeza a adolescente.
A solução apresentada para Rayssa foi também a que mais agradou a estudante. Aluna do Projeto Mundiar, ela encontrou na metodologia diferenciada de ensino razões para retornar à sala de aula e dar continuidade aos estudos. A vergonha de frequentar a escola foi substituída por uma curiosidade que cresce em proporção à vontade de concluir o ensino fundamental e iniciar as atividades no ensino médio. “O (Projeto) Mundiar me ajuda muito. Não me vejo na escola sem ele. Foi realmente o estímulo que faltava para corrigir esses erros que me fizeram perder tanto tempo”, festeja Rayssa, aluna da Escola Estadual Dr. Justo Chermont, no bairro da Cremação.
O Mundiar é um projeto de aceleração escolar voltado para alunos das séries finais do ensino fundamental e do ensino médio com distorções na relação idade-ano escolar. A metodologia utiliza teleaulas e atividades no modelo Telessala. Os recursos didáticos no desenvolvimento das disciplinas também chamam a atenção. O Adriano, de 15 anos, aluno da Escola Estadual Ruth Rosita de Nazaré Gonsalez, no bairro do Guamá, tinha a maior dificuldade para aprender matemática. O embaraço com números e contas foi tanto que a repetência quase fez o estudante aumentar a lista de evasão no Estado. Com o Mundiar, o medo de lidar com números tem desaparecido gradativamente. “Aqui encontrei uma forma diferente de aprender. As coisas parecem menos complicadas, mais fáceis. Não penso mais em parar de estudar”.
Desenvolvido em parceria com a Fundação Roberto Marinho, o projeto beneficiou mais de dois mil alunos no ano passado e espera alcançar 23 mil estudantes agora, em 2015, em escolas da rede pública de ensino em todo o Pará. O principal objetivo é reduzir os índices de evasão escolar no Estado. Problema gerado, quase sempre, por essa distorção na relação idade-ano, que, segundo o último levantamento apresentado pela Secretaria de Estado de Educação (Seduc), é de 47% no ensino fundamental e de 64% no ensino médio.
A Ellen, de 15 anos, foi informada de que seria incluída no projeto quando procurou a direção da Escola Ruth Rosita de Nazaré Gonsalez para se rematricular. “Eles (direção) me explicaram como iriam ser as aulas e que isso seria feito para me ajudar nos estudos. De início fiquei meio na dúvida, mas depois, quando percebi que é um modelo de aula muito bacana, entendi que era realmente uma coisa boa”, aponta. A unidade, localizada na Cremação, mantém 90 alunos inscritos no projeto, divididos em três turmas.
Social - Além da atualização das séries, o projeto traz em si um caráter social estratégico, já que, uma vez fora da escola, as opções de educação e formação tornam-se escassas para esses jovens. Em muitos casos, a rua acaba sendo a única opção para muitos deles. “Eu diria que o projeto (Mundiar) não deixa de ser uma segunda chance para muitos desses estudantes. A gente percebe, sim, uma renovação de estímulo em todos eles”, avaliou Antônia Medeiros, professora do projeto Mundiar na Escola Justo Chermont, que possui cerca de 100 alunos divididos em quatro turmas, inscritos no projeto.
As aulas do projeto Mundiar não foram atingidas pela greve dos professores da rede estadual de ensino, que já dura quase dois meses. Uma prova de que educação é algo sempre bem vindo, principalmente quando o retorno à sala de aula faz parte de sonhos atrasados ou adiados, mas nunca tardios.