Sespa lança a campanha “Julho Amarelo”
Para intensificar as estratégias de prevenção às hepatites virais e incentivar a busca por pacientes ainda sem sintomas, a campanha “Julho Amarelo” foi lançada oficialmente na noite da última sexta-feira, 22, pela Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), após um dia de programação em torno do evento que rememorou os 50 anos de descobrimento do Antígeno Austrália, descrito como o vírus B da hepatite, e os avanços no tratamento dos pacientes atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Realizado no hotel Radisson, em Belém, o lançamento da campanha foi feito pela coordenadora estadual do Programa de Controle das Hepatites Virais da Sespa, Cisalpina Cantão, ao lembrar que o Brasil é um dos únicos países em desenvolvimento no mundo que oferece prevenção, diagnóstico e tratamento universal para as hepatites virais em sistemas públicos e gratuitos de saúde. “Nesse quesito, o Pará tem acompanhado com fidelidade essa tendência, que inclui também o Dia Mundial de Luta Contra as Hepatites Virais, lembrado em 28 de julho. Por isso o mês escolhido, pois iremos antecipar a mobilização antes da população se dirigir para as praias e também faremos ações de conscientização durante o período de alta temporada do verão”, esclareceu.
O lançamento ocorreu em meio a uma cerimônia de entrega de 13 troféus "Muiraquitã" às personalidades públicas e estabelecimentos de saúde do SUS, como Centros de Testagem e de Aconselhamento (CTAS) e hospitais regionais, que têm contribuído no desenvolvimento dos estudos e das ações alusivas às hepatites virais que, reunidas, são a oitava entre todas as causas de mortes no mundo, mesmo se levados em conta acidentes e guerras.
Uma das homenageadas foi a assessora técnica da coordenação de Hepatites Virais, DST e Aids do Ministério da Saúde, Elisa Cattapan, que após discorrer sobre os desafios de combater a disseminação da doença no país, sobretudo quando se é silenciosa e que o doente pode ser surpreendido pela descoberta quando sofre uma hemorragia digestiva. “Queremos alcançar melhor os jovens, que estão sendo muito contaminados porque as escolas rejeitam o debate. Não se pode falar de camisinha e questionam a campanha de prevenção do HPV. Isso deve ser repensado urgentemente, pois a educação deve colaborar mais com a saúde”, criticou Elisa Cattapan que, por outro lado, não poupou o Pará de elogios quando se referiu às políticas dedicadas às hepatites aplicadas desde 2011, apesar dos novos desafios impostos pela atual recessão econômica. “Só sei dizer que vocês são eficientes demais”, disse.
Além de Elisa, receberam o troféu Muiraquitã, entre outros, o médico Helio Franco, tido por Cisalpina Cantão como o profissional que incentivou a criação de uma coordenação exclusiva para controlar as hepatites virais; a atual coordenadora estadual de Vigilância em Saúde, Rosiana Nobre, reconhecida por sempre ter dialogado com as entidades de Sociedade Civil, homenageadas na noite na representação do Fórum Paraense de ONG/Aids e Hepatites Virais, na pessoa de Jair Santos, presidente do Paravidda, como também a secretária estadual de Saúde, Heloísa Guimarães, representada por Helio Franco.
“Foi um dia de celebrações, reflexões e também de atualizações técnicas sobre as hepatites”, concluiu a médica Márcia Iasi, uma das diretoras do Instituto do Fígado e Gastroenterologia, outro realizador do evento, e profissional hepatologista que assiste também pacientes com hepatite C que passam por tratamento na Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará, referência estadual em doenças do fígado e que, a partir de junho, contará com novo espaço onde passará a realizar exames para detecção da presença de fibrose no fígado em pacientes com hepatites B e C por meio do Fibroscan, equipamento que realiza a elastografia hepática (ET), que dispensa o corte e a perfuração no órgão e possibilita ao médico acesso ao diagnóstico a partir de dez minutos.
Um total de 15 palestrantes, entre profissionais médicos e enfermeiros do Estado e do cenário acadêmico nacional, discorreu sobre o cenário das hepatites no mundo, no Brasil e no Pará, com foco especial no que a saúde pública tem feito para combater o sub-registro de casos associado à ampliação da testagem e do diagnóstico, no estímulo à vacinação contra o tipo B – ofertada gratuitamente pelo SUS a toda população até 49 anos – e na ampliação da assistência e do tratamento dos tipos mais perigosos: B e C.
Dados - Devido o estímulo progressivo ao diagnóstico precoce, os casos de hepatite têm aumentado no Pará. Entre 2007 e 2014 foram confirmados 2.211 casos do tipo B e outras 871 ocorrências da forma C. Só no ano passado, surgiram 242 casos de hepatite B, além de 91 do tipo C. Entre janeiro e 11 de maio deste ano já foram diagnosticados 299 pessoas com hepatites, das quais 148 com o tipo A; 102 com o vírus B e outras 49 para a tipagem C. A estimativa do Ministério da Saúde é que no Brasil 800 mil pessoas estejam infectadas pelo vírus B e 1,5 milhão de pessoas pela hepatite C. Da infecção até a fase da cirrose hepática, pode levar de 20 a 30 anos, em média, sem nenhum sintoma.
No evento, também foram debatidos os avanços obtidos pelo Brasil em relação aos medicamentos recentemente aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o tratamento da hepatite C, como o sofosbuvir, daclatasvir e simeprevir. Segundo informe técnico do Ministério da Saúde, os três itens “compõem um novo e eficiente tratamento para a doença disponível no mundo, com um percentual de cura de cerca de 90%”. A expectativa é que os medicamentos sejam disponibilizados no Sistema Único de Saúde (SUS) até o final deste ano.