Restauro da Igreja Matriz de Vigia fortalece turismo, fé e memória histórica no Pará
Realizada pelo Governo do Pará, obra de restauração entregue há um ano marcou um novo capítulo na história da edificação do século XVIII
Há um ano, Vigia de Nazaré, berço da devoção nazarena e origem do Círio mais antigo do Estado, assistia à reabertura de um de seus maiores símbolos: a Igreja Matriz Madre de Deus, hoje Santuário Mariano Diocesano. O restauro, realizado pelo Governo do Estado do Pará, por meio da Secretaria de Cultura (Secult), marcou um novo capítulo na história da edificação do século XVIII, considerada a segunda grande obra jesuítica na Amazônia.
Após a intervenção, o templo passou a abrigar exposições e maior fluxo de peregrinos, fortalecendo o turismo religioso e cultural. O restauro, entregue em dezembro de 2024, representou o maior conjunto de intervenções em 70 anos. Para os fiéis, entre eles o ministro da Sagrada Comunhão, Marcos Moraes, a obra foi fundamental para preservar o patrimônio.
“A estrutura do telhado estava comprometida. Trocaram vigas, fizeram toda a sustentação e instalaram o sub telhado metálico. Foi uma obra demorada, que causou inquietação, mas quando reabriu todos ficaram admirados. A restauração demonstra compromisso em conservar um monumento que é marco na história da evangelização da Amazônia”, fala Marcos.
A igreja, que abriga pinturas e mobiliário originais do século XVIII, sempre funcionou como centro espiritual e cultural. Para o Padre Silvestre Sales, atual pároco do Santuário, o templo sintetiza a identidade religiosa e histórica da população vigiense.
“Este santuário é o coração da vida religiosa de nossa comunidade paroquial. Foi o terceiro colégio depois de São Luís e Belém, e hoje é um dos principais pontos de nosso Círio, o mais antigo do Estado do Pará. Nosso Santuário é um elo vivo entre um passado repleto de riquezas histórico-religiosas e o presente da Igreja Católica no interior do Pará. A importância da restauração deste patrimônio se dá pelo fato de ser um ícone não só para a cidade, mas para todo o Estado”, diz o padre.
Além do valor religioso, a igreja é rara do ponto de vista arquitetônico. Nélio Palheta, morador de Vigia, pesquisador e escritor, lembra que a matriz é o único exemplar desse tipo de construção jesuítica em toda a América.
“Sua importância arquitetônica se dá porque é a única com essa arquitetura em toda a América, desde Buenos Aires até a Califórnia. Só há um exemplar idêntico, construído pela Companhia, na Índia. A restauração devolveu sua beleza original: o piso hidráulico, a sacristia ricamente ornamentada e o teto com quatro representações da Virgem Maria.”
De acordo com Ursula Vidal, secretária da Secult, o templo restaurado leva à população um gesto de reconhecimento ao valor histórico e arquitetônico de Vigia. “A cidade mais antiga de nosso Pará, que guarda esta joia arquitetônica tombada há mais de 70 anos pelo Iphan, merece do Governo esse reconhecimento à importância de sua história e de seu patrimônio edificado. Celebrar um ano do restauro da Igreja Madre de Deus, construída pelos jesuítas no início do século XVIII e considerada a segunda grande obra da ordem religiosa na Amazônia, é reafirmar nosso compromisso com a memória e o desenvolvimento cultural e turístico da cidade, além de estabelecer mais um marco de investimentos no patrimônio histórico da região do Salgado. Neste primeiro ano, já realizamos uma exposição de arte sacra na Igreja, em parceria com a prefeitura. Agora queremos ampliar as ações de educação patrimonial e histórica na cidade”, finaliza a secretária.
Um ano depois, para Vigia e toda a região do Salgado, a Igreja Madre de Deus segue como joia histórica da Amazônia e casa espiritual aberta a todos, reafirmando sua relevância cultural, arquitetônica e religiosa na vida do povo paraense. O investimento de R$ 5,2 milhões viabilizou o restauro mais completo dos últimos 70 anos.
Texto: Angélica Corrêa
