'Cozinha Show' celebra saberes e sabores tradicionais da gastronomia paraense
A programação no Pavilhão Pará-Municípios reforçou a riqueza dos ingredientes amazônicos, a criatividade dos chefs paraenses e o sabor de peixes, ervas, farinhas e castanhas
No quarto dia do Pavilhão Pará-Municípios, instalado no Centenário Centro de Convenções, o Cozinha Show foi marcado por uma imersão na diversidade culinária dos municípios paraenses, nesta quinta-feira (20). A programação reuniu chefs de Vitória do Xingu, Juruti, Marabá e Santa Izabel do Pará, cada um apresentando pratos que evidenciaram ancestralidade, inovação e a força da agricultura familiar na cozinha regional.
Na abertura da programação, o chef Elder Soares, de Vitória do Xingu, apresentou o prato "raízes do rio". A receita, um pirão de camarão feito com ingredientes cotidianos da região, reforçou a relação entre os rios e a mesa paraense. Segundo Elder Soares, a proposta nasceu do desejo de inovar sem abandonar a simplicidade do que já está disponível. “A gente aproveita o camarão do rio e a farinha de mandioca da terra. Ficou um prato entre rios, uma surpresa que a gente trouxe de gastronomia e inovação com as coisas que a gente já tem na cozinha”, disse o chef.
Ele destacou ainda a emoção de representar seu município no evento. “É um momento ímpar, um evento desse suporte em nível nacional e mundial. Fiquei muito feliz em ter sido convidado pelo governo do Estado. É indescritível a emoção de estar aqui”, afirmou.
Herança indígena - Na sequência, a chef Judith Coelho, de Juruti, apresentou o tradicional "pirarucu ao leite de castanha-do-pará", preparado sem dendê, leite de coco ou creme de leite, preservando características da culinária indígena. A receita é acompanhada de farofa de piracuí, banana e arroz. “Essa inspiração vem de muito tempo. Minha mãe fazia muito pirarucu com leite da castanha, assim como jabuti. Essa lembrança de infância me acompanha até hoje”, relatou. Com mais de três décadas dedicadas à gastronomia, Judith celebrou a oportunidade de retomar sua participação em eventos estaduais: “É uma grande satisfação. Um momento ímpar para mim”, acrescentou.
O terceiro a assumir a Cozinha Show foi o chef Josué Richardson, de Marabá, que apresentou o clássico "tucunaré de Marabá", homenageando um dos símbolos da gastronomia local. Ele explicou que o peixe — encontrado nos rios Tocantins e Araguaia — faz parte do cotidiano das famílias marabaenses. “É o tipo de prato que você come no domingo. Trazer o tucunaré é trazer a cultura e o nosso povo para cá”, disse. Para ele, levar o prato a um evento que integra a programação da COP30 reforçou uma mensagem de consciência ambiental. “A COP traz conscientização sobre fauna, flora, nossas bacias hidrográficas e sobre a preservação do nosso peixe. É apreciar com responsabilidade, no período certo, para garantir um futuro melhor para os nossos”, destacou.
Tacacá sólido - Encerrando a programação, o chef Diego Sousa, de Santa Izabel do Pará, emocionou o público ao apresentar a torta de farinha de tapioca, inspirada na transformação do tacacá em uma versão sólida. Representando o distrito de Americano — responsável por mais de 90% da farinha de tapioca produzida no mundo — Diego exaltou a trajetória centenária do ingrediente. “A pipoca da farinha de tapioca nasceu em Santo Izabel, na Vila de Americano, e foi um acidente gastronômico fenomenal. Consideramos nosso distrito a capital mundial da farinha de tapioca”, informou.
Sobre o prato apresentado, ele disse que “a ideia foi trazer o tacacá em forma sólida. Todos os elementos estão ali: a goma representada na farinha de tapioca, o molho espesso de tucupi abraçando os camarões, as ervas e o crisp de jambu trazendo crocância”.
Diego Sousa aprovou o clima de integração no Pavilhão Pará-Municípios. “Parece uma grande confraternização dos povos. Estamos felizes em contribuir para que a COP30 seja mais que uma conferência sobre o clima, mas uma celebração coletiva”, ressaltou.
O quarto dia do "Cozinha Show" reforçou a riqueza dos ingredientes amazônicos, a criatividade dos chefs paraenses e a força da gastronomia como expressão cultural capaz de dialogar com o mundo em um momento de grande visibilidade internacional para o Pará.
