Ciência de Ponta na Amazônia: Fapespa explora soluções biotecnológicas com impacto climático e social em painel no Pavilhão Pará
Integrando o Pavilhão Pará, na Zona Verde da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), a Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas do Pará (Fapespa) promoveu, nesta terça-feira (18), um painel voltado ao debate sobre a “Ciência Amazônica de Ponta”. A atividade propôs uma imersão nas soluções biotecnológicas desenvolvidas por projetos financiados pela Fundação, com foco na bioeconomia de ponta e no impacto direto sobre os desafios climáticos e sociais da região.
Mediado pelo diretor científico da Fapespa, Dayvison Medrado, o painel foi composto por pesquisadoras que praticam a ciência de ponta no Pará, por meio dos Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs) locais. Segundo Medrado, a programação procurou mostrar esses projetos de pesquisa estão atuando no desenvolvimento da biotecnologia e ciência de fronteira na região amazônica, em específico no Pará.
“A gente busca mudar esse paradigma de absorção de tecnologias para a construção de tecnologias a partir dos conhecimentos da floresta, dos saberes locais e da biodiversidade alocada no Pará. Então esse painel trouxe essa perspectiva de falar um pouco do que já foi feito e abrir o caminho para se discutir o futuro do Vale Bioamazônico, o futuro da bioeconomia e o futuro da pesquisa científica no estado”, detalhou o diretor.
A programação apresentou resultados já alcançados em pesquisas nas áreas como bioprodutos, bioinsumos, genética aplicada, biotecnologia vegetal e microbiológica, trazendo evidências científicas e métricas de impacto que demonstram o potencial da Amazônia como polo de inovação verde. Além da apresentação dos projetos, o painel também discutiu estratégias de internacionalização científica, incluindo cooperação com instituições estrangeiras, redes de pesquisa e mecanismos de financiamento internacional.
Protagonismo feminino na ciência — A apresentação do painel foi composta majoritariamente por mulheres pesquisadoras. A docente da Universidade Federal do Pará (UFPA), Marcele Passos, foi uma das cientistas presentes e destacou o protagonismo feminino. “Nós temos um protagonismo baseado em soluções biotecnológicas que vão reduzir, ou pelo menos que mitigar e adaptar, produtos relacionados com o que a gente está discutindo aqui na COP 30 em relação às mudanças climáticas, produtos que têm capacidade de escalonamento e que podem ser, de fato, utilizados, por exemplo, em projetos de bioeconomia como o Vale [Bioamazônico], que foi recentemente inaugurado pelo governo do Estado”, declarou.
Coordenadora do laboratório de biomateriais, bioprodutos e tecnologias de biofabricação, que fica situado no Instituto de Ciências Biológicas, Marcele recebe apoio da Fapespa em seu projeto envolvendo bionanovetores, buscando transformar resíduos e ativos da Amazônia em moléculas que tenham alto valor agregado e que possam ser relacionados para a área da farmácia, para agricultura e para saúde como um todo.
A professora avaliou que o painel demostrou a capacidade e o protagonismo da Amazônia em poder gerar produtos de alto valor agregado. “Mostra que podemos sair de simples fornecedores de matérias primas para termos aqui capacidade instalada e geração destes produtos”.
Com uma solução biotecnológica também envolvendo a nanotecnologia, a professora Lina Bufalino, do instituto de ciências agrárias da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), também destacou a importância de realizar pesquisas sobre a Amazônia na Amazônia. “Antes desse laboratório, eu nunca tinha me sentido protagonista das minhas próprias pesquisas aqui na Amazônia, então sempre eu pegava uma matéria-prima daqui e ia com algum parceiro em outra região do país, ou até mesmo às vezes outro país, fazia a pesquisa e voltava com o resultado. Hoje eu consigo fazer a pesquisa nascer aqui, com os alunos, os pesquisadores daqui, e aí você tem uma formação de recursos humanos único, que é da Amazônia”, afirma.
Com o apoio da Fapespa, Lina trabalhou na utilização das fibras do resíduo do açaí para o desenvolvimento de ecopapéis, papéis sustentáveis, visando principalmente a aplicação em embalagem. “Atualmente nós já temos mais de dez tipos de protótipos utilizando resíduo do açaí e, além disso, nós vamos futuramente produzir os nanopapéis, vamos chegar na nanoescala e conseguir melhorar as propriedades dos papéis através desse processo”, projeta a professora.
Para ela, o painel foi importante para divulgar à sociedade essas soluções e trazer a relação entre as pesquisas realizadas no Pará e a COP 30. “No meu caso, eu destaco que a utilização do resíduo do açaí é importante porque, da forma que acontece hoje, ele está no ambiente sendo degradado naturalmente, liberando o CO2 para a atmosfera sem nenhum valor agregado.
Já a professora Ana Carla Gomes, da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), destacou no painel seu projeto Cuidadores do Ar, que desenvolveu sustentabilidade conversando diretamente com a sociedade, através de rede piloto de inovação no monitoramento da qualidade do ar na região do Oeste do Pará. “Esse projeto teve a integração do ensino e da extensão realizando o tripé universitário e foi fomentado pela Fapespa. Nós tivemos o apoio da Fundação durante 18 meses e a partir desse incentivo, nós conseguimos ter mais de 40 bolsistas tanto do ensino médio, que foram dos nossos parceiros, a Escola Técnica de Santarém, EETEPA-Santarém”, explicou.
Texto: Beatriz Rodrigues, estagiária, sob a supervisão da jornalista Manuela Oliveira – Ascom/Fapespa
