Projeto desenvolve software para identificar atrasos de desenvolvimento em crianças na Amazônia paraense
Estudo fomentado pela Fapespa construiu um software de inteligência artificial acessível por qualquer dispositivo conectado à internet
A primeira infância representa um período crucial para o desenvolvimento infantil. É nessa fase que muitas deficiências são identificadas, e oferecer um suporte adequado para essas crianças é essencial para garantir a base sólida necessária para a formação delas. Foi nesse contexto que o projeto Sistema Inteligente para a Promoção do Desenvolvimento Infantil (SDIA) surgiu, como uma ferramenta de apoio à inclusão para rastrear déficits no desenvolvimento e adaptando-os às especificidades da realidade amazônica paraense.
Fomentado pela Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa) e executado pela Fundação Guamá por pesquisadores do Núcleo de Pesquisas em Computação Aplicada da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), o estudo construiu um software de inteligência artificial acessível por qualquer dispositivo conectado à internet, desenvolvido de forma alinhada com o Manual de Crescimento do Ministério da Saúde (2002) e a Lei Brasileira de Inclusão (LBI). Com essa tecnologia, o projeto auxilia profissionais de redes de apoio, pais e cuidadores.
A inteligência artificial emulou o conhecimento do protocolo público contido na Caderneta da Criança (SUS), através de perguntas e respostas, de forma que, ao final, tornou possível identificar se a criança está com seu desenvolvimento em dia, em alerta ou em atraso. “Com a ajuda desse artefato tecnológico, profissionais das redes de apoio terão a possibilidade de identificar crianças, ainda no período da primeira infância, que podem estar com seu desenvolvimento em atraso”, explica o coordenador do projeto, professor Marcus Braga.
Segundo o pesquisador, a ideia foi impulsionada por uma demanda do Governo do Estado de oferecer suporte para as crianças que estão com algum tipo de atraso no desenvolvimento, definida pelo Artigo 208 da Constituição Federal. No entanto, essas crianças nem sempre são identificadas, especialmente as que não têm a prática de ir ao médico para acompanhamento periódico, como as crianças de baixa renda e as que vivem em alguma condição de vulnerabilidade.
“Com o SDIA, foi possível implementar uma solução computacional baseada em inteligência artificial capaz de entregar uma solução prática para o problema. “Ou seja, quando aplicado a uma quantidade significativa de crianças, será possível ter um panorama do atraso no desenvolvimento delas”, define o professor.
Capacitação – De forma articulada com a Secretaria de Estado de Educação (Seduc), o projeto incluiu em seu desenvolvimento a capacitação de profissionais do Centro de Referência em Educação Infantil Orlando Bitar. Cinquenta profissionais da creche receberam um treinamento intensivo em desenvolvimento infantil, Caderneta da Criança, inteligência artificial e como utilizar o aplicativo SDIA.
Após esta capacitação, foi articulada a aplicação de testes do software com as crianças em sala de aula. “As professoras aceitaram o desafio e aplicaram o teste com seus alunos e, na medida que as crianças eram avaliadas, o sistema já entregava o resultado da avaliação para o professor e o registro dos resultados passa a ficar armazenado no sistema para posterior acesso e entrega às autoridades competentes”, afirma Braga.
O pesquisador explica que a solução foi validada em conferências científicas internacionais e, agora, o protótipo pode ser escalado para uso em redes de ensino, a partir de poucas adequações.
Aplicativo – Após dois anos de desenvolvimento, o projeto resultou em dois artigos científicos nacionais, um internacional, um software registrado junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) e um aplicativo protótipo que pode ser acessado a partir de qualquer dispositivo computacional, que esteja conectado à internet, sem a necessidade de nenhuma instalação ou download.
“Temos uma ferramenta robusta, fácil de se usar, pois é intuitiva, e que pode dar o indicativo de avaliação da criança quanto ao desenvolvimento. Isso permite que os pais, professores e profissionais competentes tomem conhecimento de quem são estas crianças com atraso, e proporcionem o atendimento e estímulos necessários ao seu desenvolvimento”, afirma Braga.
Neste primeiro momento, o aplicativo pode ser utilizado gratuitamente por professores. De acordo com a equipe do projeto, há a possibilidade de o programa ser estendido para uso em unidades de saúde, de assistência social e pelos próprios pais, permitindo que potenciais crianças com seu desenvolvimento fora do ideal possam ser identificadas e receber, imediatamente, o atendimento e o suporte adequado para que possam ser, plenamente, integrados à sociedade.
Segundo o professor Marcus, sem o apoio da Fapespa a pesquisa não poderia ter sido desenvolvida. “Veja, para este projeto entregar um protótipo, foram necessários dois anos de estudos e é assim que a tecnologia emerge, com estudo, pesquisa, testes, erros, correções, e após um tempo, os resultados aparecem. Não se consegue desenvolver ciência sem investimento e sem fomento. No Pará, a Fapespa tem sido o grande divisor de águas”.
O coordenador ainda destaca que, neste projeto, foi possível usar recursos computacionais do grupo de pesquisa que foram oriundos de outros financiamentos da Fapespa. “Por termos essa infraestrutura instalada, hoje, podemos participar de diversas pesquisas em diversas áreas estratégicas em nosso Estado”, conclui Braga.
Núcleo de Pesquisas em Computação Aplicadas (NPCA) - Localizado em Paragominas, o grupo de pesquisa dedica-se a investigar técnicas de computação aplicada através de projetos de pesquisa de longo prazo, tipo “guarda-chuva”, que abrangem outras pesquisas mais pontuais e localizadas. “Com apoio da Fapespa conseguimos adquirir servidores computacionais de alto desempenho e todo o equipamento necessário para o desenvolvimento contínuo destes trabalhos, além de bolsas para professores e alunos desenvolverem suas atividades científicas”, informa Braga.
"O Pará, no governo Helder e Hanna, tem se preocupado bastante com o desenvolvimento de nossas crianças e o cuidado especial que elas precisam ter. A Fapespa, enquanto instituição que fomenta pesquisa, atenta a essa importante política de Estado, tem fomentado pesquisas que visam trazer respostas para vários desses desafios. E o SDIA é um desses projetos fantásticos, que foi aprovado e fomentado pela Fapepa, e que hoje traz insights importantes para que a gente possa dar a atenção necessária para as nossas crianças num ambiente que é extremamente importante: as escolas e as creches. É dessa forma que a Fapespa contribui para o desenvolvimento e qualidade de vida da população paraense como um todo, em especial das nossas crianças.", avalia o presidente da Fapespa, Marcel Botelho.
Texto: Beatriz Rodrigues, estagiária, sob a supervisão da jornalista Manuela Oliveira – Ascom/Fapespa
