Hospital Regional de Marabá acolhe bebês prematuros com cantigas infantis na UTI
Projeto Acalanto utiliza composições para suavizar o ambiente e reiterar cuidados e esperanças na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal
“Alecrim, alecrim dourado, que nasceu no campo sem ser semeado”. Essa é uma das cantigas que ganham vida no Projeto Acalanto, desenvolvido no Hospital Regional do Sudeste do Pará – Dr. Geraldo Veloso (HRSP), em Marabá. A ação ressignifica melodias infantis tradicionais para embalar bebês prematuros internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal, oferecendo acolhimento, serenidade e esperança aos pequenos pacientes e pais.
A bebê Suria Raabe ficou internada por 22 dias na UTI Neonatal, onde enfrentou uma luta diária pela vida. As melodias do projeto embalaram seu sono frágil e suavizaram a rotina hospitalar. Ao lado da incubadora, sua mãe, Thuany Reis, 25 anos, moradora de Parauapebas, na região de Carajás, encontrou na música o alento que a ajudou a suportar a espera.
“Quando a música começava, eu sentia que ela ficava mais calma, como se entendesse que estava segura. Para nós, mães, aquele momento foi um respiro em meio à luta. A canção me deu força para acreditar que logo levaria minha filha para casa”, relembrou Thuany, emocionada.
Outra pequena guerreira foi Maria Julia, que passou 37 dias internada na UTI Neonatal. A mãe de Maria, Andressa de Sousa, 24 anos, moradora de Eldorado dos Carajás, na região de Carajás, aprovou a iniciativa hospitalar que transformou cada dia em um recomeço.
“Quando ouvia a cantiga, sentia que o tempo desacelerava. Fechava os olhos e imaginava minha filha em casa, nos meus braços, ouvindo as mesmas melodias. Isso me enchia de fé. A cada nota, percebia que não era só eu que me fortalecia, mas ela também. Era como se a música atravessasse o vidro da incubadora e nos unisse em um abraço invisível. Esse instante me fez acreditar que, em breve, esse abraço seria real” relembrou Andressa, emocionada.
Notas de esperança
Realizado pelo Serviço de Humanização da unidade, sob gestão do Instituto de Saúde Social e Ambiental da Amazônia (ISSAA), em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (Sespa), o projeto conta com o apoio de voluntários que transformam a música em gestos de solidariedade e afeto, oferecendo esperança aos pequenos guerreiros da UTI Neonatal.
A poetisa marabaense Gabi Silva é uma das voluntárias, com sua voz, ela revive cantigas tradicionais que embalaram gerações e que, ganharam novo significado acalmando os bebês prematuros e despertando nas mães a alegria de ver os filhos embalados por música e afeto.
“Cantar aqui é diferente de qualquer outro lugar. Cada nota parece carregar um abraço, um afago. Não é apenas música, é uma forma de dizer a esses bebês que eles são fortes e que um futuro inteiro os espera”, destaca Gabi.
Ela explica que o impacto não é apenas nos pequenos, mas também nas famílias. “Vejo nos olhos das mães a emoção quando a cantiga começa. É como se a melodia embalasse o coração delas, trazendo um pouco de paz e esperança em meio a dias de luta”, completa.
O projeto também conta com o talento do músico marabaense Zequinha do Cabelo Seco, que com seu violão transforma a UTI Neonatal em um espaço de ternura e resistência. “Aqui não toco apenas cordas, toco vidas. Cada acorde é uma semente de esperança e um abraço invisível no coração de quem mais precisa”, reflete o músico.
Humanização
O Projeto Acalanto é um dos 25 projetos de humanização mantidos pelo Hospital Regional do Sudeste do Pará, em Marabá, que reforçam o compromisso da unidade em oferecer não apenas cuidados clínicos, mas também atenção a cada paciente. Na UTI Neonatal, onde cada minuto é valioso, a música tem se tornado uma ponte entre mães, bebês e equipe de saúde.
Para Daiane Uszynski, analista de Humanização do hospital, a iniciativa traduz o verdadeiro sentido desse trabalho. “É uma ação simples, mas poderosa. A música se torna um abraço sonoro que fortalece mães e bebês, transformando momentos de incerteza em esperança e fé na recuperação”, destaca.
Estrutura
O atendimento no Hospital Regional de Marabá é 100% gratuito, realizado por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). A unidade conta com 135 leitos, sendo 97 de internação clínica e 38 de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs).
Texto de Ederson Oliveira