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DIA NACIONAL DO SURDO
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Uepa fomenta a inclusão da pessoa surda com cultura, poesia e exemplos inspiradores

Formado por alunos surdos e ouvintes, o coral "Mãos em Melodia" encanta plateias ao traduzir canções paraenses em Libras. No Dia Nacional do Surdo, a universidade também destaca a trajetória da professora Jaqueline Miranda e a importância do curso de Letras Libras como referência na Amazônia

Por Fernanda Martins (UEPA)
26/09/2025 14h23

O público acompanha empolgado quando a música "Voando pro Pará", da cantora Joelma, começa a se desenhar de um jeito novo. De repente, a canção popular paraense, tão conhecida pelos ouvidos, ganha vida nas mãos e nos corpos de estudantes surdos e ouvintes do coral "Mãos em Melodia", do curso de Letras Libras da Universidade do Estado do Pará (Uepa). A música não se ouve apenas: ela se vê, se sente, se traduz em emoção compartilhada.

A plateia se entrega àquela experiência. Alguns acompanham batendo palmas no ritmo, outros se surpreendem com a força poética da Libras. No rosto dos alunos, a alegria de interpretar não apenas palavras, mas histórias inteiras. Neste 26 de setembro, Dia Nacional do Surdo, a cena se torna símbolo de como a inclusão e a cultura podem caminhar juntas, transformando a universidade em um espaço mais plural e acessível. Mas não apenas isso. A Universidade se torna o lugar onde profissionais como Jaqueline Miranda encontram seu espaço de protagonismo e atuam pelos avanços da educação bilíngue na Amazônia.

O coral "Mãos em Melodia" é um dos projetos mais emocionantes da Uepa. Formado por alunos surdos e ouvintes, sob a regência da maestrina Lorena Ratis, o grupo nasceu da disciplina Literatura Visual e cresceu como ação de extensão. “O coral começou quando traduzimos uma música para Libras e a apresentamos em um sarau. O público se emocionou e decidimos continuar. Hoje, o 'Mãos em Melodia' consolida-se como ação estratégica de extensão, promovendo a valorização da língua de sinais e da cultura surda”, explica Lorena. A metodologia envolve estudo das letras, tradução para Libras, experimentação poética e adaptação rítmica. “Muitos perguntam: o que um surdo faz em um coral se ele não ouve a música? A resposta está na história que a música conta. Quando compreendem a letra, eles interpretam em Libras com emoção e poesia. Não é apenas sinalizar palavras, é transmitir sentimentos”, observa. 

O repertório privilegia a música paraense, com carimbós, guitarradas e bregas que fazem parte da identidade cultural da região. A escolha não é aleatória: ao interpretar essas canções, os alunos surdos e ouvintes reforçam laços com a cultura local, aproximam-se de histórias familiares e tornam a experiência ainda mais significativa. O coral também já se apresentou em eventos dentro e fora da Uepa, mostrando como a arte pode ser um caminho poderoso para a difusão da Libras e para sensibilizar a sociedade.

Entre os exemplos inspiradores encontrados da Uepa está o da professora Jaqueline Miranda, surda oralizada e docente efetiva do curso de Letras Libras. O sonho de infância era ser veterinária, mas os obstáculos linguísticos mudaram o rumo. “Com tantas barreiras linguísticas impostas à pessoa surda, acabei mudando o foco profissional e decidi tentar a docência. Logo me encontrei e hoje sou professora do ensino superior público, um espaço estratégico para formar futuros educadores preparados para lidar com a diversidade comunicativa em sala de aula”, conta. Para ela, o Brasil já avançou em políticas de inclusão, mas ainda falta ampliar a presença de profissionais capacitados. “Embora a pessoa surda tenha conquistado espaço em vários ambientes sociais, ainda é notável a ausência de profissionais suficientes para garantir a acessibilidade linguística em Libras. Precisamos ampliar a formação e a atuação desses profissionais”, alerta. 

Essa valorização da Libras está no centro da missão do curso de Licenciatura em Letras Libras da Uepa, pioneiro na região Norte. Criado em 2011, o curso já formou 216 profissionais, entre surdos e ouvintes, e atualmente reúne mais de 280 alunos em Belém, Marabá e outros municípios, como Marituba, Portel, Cametá e Igarapé-Miri. O impacto dessa formação é grande: a maioria dos egressos continua os estudos em especializações e mestrados, suprindo uma demanda crescente por professores e intérpretes em escolas e universidades da região. “O Letras Libras cumpre um papel essencial na formação de profissionais que atuam tanto no ensino quanto na pesquisa e extensão. Projetos como o coral 'Mãos em Melodia' são exemplos de como a universidade articula arte, educação e inclusão para valorizar a cultura surda e difundir a Libras”, afirma a coordenadora do curso, professora Rita Almeida.

A importância do ensino bilíngue também é destacada pelos estudantes. Para a aluna ouvinte Suellen Santos, que sonha em se tornar professora, a data é um chamado à ação coletiva. “O Dia Nacional do Surdo é uma oportunidade para valorizar a rica cultura e identidade surda. O ensino bilíngue é fundamental para garantir acesso ao conhecimento, respeitando a Libras como primeira língua. Precisamos investir na formação de profissionais qualificados e comprometidos com a educação bilíngue de qualidade”, defende.

Instituído oficialmente no Brasil em 2008, o Dia Nacional do Surdo faz referência à criação da primeira escola para surdos no País, em 1857. Mais do que uma celebração, a data busca dar visibilidade às lutas históricas por acessibilidade, educação bilíngue e reconhecimento da Libras como língua oficial. Na Uepa, esse movimento se traduz em trajetórias, projetos e conquistas que apontam para um futuro mais inclusivo.