Cartilha em quadrinhos do Planetário do Pará alia ciência e ludicidade no ensino de Química
Publicação reúne 11 experimentos mais realizados durante as visitas públicas e escolares ao Centro de Ciências e Planetário do Pará (CCPPA) em Belém
Ensinar Química por meio de histórias em quadrinhos. Essa é a proposta inovadora do Centro de Ciências e Planetário do Pará (CCPPA), que acaba de lançar a primeira cartilha de experimentos em quadrinhos do Espaço da Química, intitulada "Uma visita ao Planetário do Pará – O Show da Química", disponível para download. A publicação transforma conceitos científicos em histórias ilustradas, aproximando a disciplina do dia a dia dos estudantes e tornando o aprendizado mais leve, dinâmico e divertido.
Desenvolvida pela coordenadora de Química do CCPPA e por docentes e estagiários que já atuaram no espaço, a cartilha passa a ser uma nova aliada dos professores na missão de despertar o pensamento crítico científico no ensino. O material possui o Selo Editorial Edições do Programa de Pós-Graduação em Educação e Ensino de Ciências na Amazônia da Universidade do Estado do Pará (PPGEECA/Uepa) e foi elaborado por Anabela Sousa, Bruno Santos, Flávia Alcântara, Juliana Ferreira, Isabelle Silva, Rodrigo Costa, Yasmin Santana, Cristiele Pereira, Maria Dulcimar Silva e Vania Lobo.
A publicação reúne onze dos experimentos mais realizados durante as visitas públicas e escolares do CCPPA, tais como: Gênio da Lâmpada, Fogo Mágico, Violeta que Desaparece, Teste de Chamas e Bomba de Hidrogênio. A cartilha também possui um anexo voltado a professores que almejam realizar algumas das práticas em sala de aula. O conteúdo desenvolvido pela equipe ressalta a importância do material lúdico científico e da sequência didática docente, como um recurso metodológico de apoio e complementação para o processo de ensino e aprendizagem, com ênfase no método educacional pautado no dinamismo pedagógico.
Conforme a responsável pelo Espaço da Química do CCPPA, professora Vania Lobo, a ideia de elaborar a cartilha se concretizou em 2024, a partir da experiência cotidiana dos monitores, especialmente da ex-estagiária Anabela Souza. “Devido aos experimentos despertam grande curiosidade nos estudantes, havia a necessidade de oferecer um material que registrasse essa experiência para além da visita. Assim, surgiu a proposta de sistematizar os experimentos em uma cartilha didática, transformando-os em histórias em quadrinhos capazes de contextualizar a ciência em situações do dia a dia”, afirma Vania Lobo.
A escolha dos quadrinhos como linguagem principal para apresentar os conteúdos de Química ocorreu, segundo Vania, devido ao seu formato acessível e lúdico, que dialoga diretamente com o universo dos jovens, facilitando a compreensão de conceitos, muitas vezes, abstratos e considerados difíceis. “Unindo texto e imagem em narrativas descontraídas, é possível aproximar os fenômenos químicos do cotidiano dos estudantes e mostrar que a ciência pode ser divertida, criativa e ter significado”, ressalta Vania, que atua como docente da Uepa há 20 anos.
Para a professora, a cartilha “amplia o alcance da experiência vivida no Planetário, permitindo que os estudantes revisitem os experimentos na escola, com a orientação dos professores”. A docente destaca o papel do CCPPA como espaço estratégico de extensão universitária, pois aproxima ciência, escola e sociedade. “Ao desenvolver iniciativas como a cartilha, o Planetário reforça sua função de divulgação científica e de apoio à formação docente, ampliando as oportunidades de acesso ao conhecimento. Além de um espaço de visitação, é um ambiente de aprendizagem que contribui para valorizar a ciência, estimular novos interesses e fortalecer a educação na Amazônia”.
Concepção do Projeto
A licenciada em Química pela Uepa, Anabela Sousa, foi estagiária do CCPPA de 2023 a 2025. Ela afirma que a ideia de elaborar a cartilha de experimentos surgiu a partir da observação do interesse do público, durante as visitas, e do desejo de tornar a experiência ainda mais atrativa para crianças e jovens.
“A ideia surgiu logo no início do meu estágio no Planetário. Eu ainda não conhecia muito bem como funcionavam as visitas. A professora Vania começou a explicar e falar como os visitantes gostavam muito do espaço e das interações e, às vezes, até gravavam para poder rever ou postar. Então, surgiu a ideia de fazer uma cartilha sobre os experimentos do espaço da Química, e como o nosso público, em grande parte, é composto por crianças, as histórias em quadrinhos chamariam a atenção e incentivaram a ler e a aprender sobre ciências brincando”, conta.
A criação da cartilha "Uma visita ao Planetário do Pará – O Show da Química" foi marcada por desafios que envolveram desde a concepção dos personagens até a adaptação dos conteúdos científicos para a linguagem visual. A equipe decidiu fazer referência à tabela periódica ao nomear os protagonistas de Túlio e Flor, inspirados nos elementos Tálio e Flúor. Para desenvolver o enredo, o próprio espaço da Química foi transformado em cenário ilustrado. A produção exigiu também o uso de aplicativos específicos para a criação dos traços e da narrativa em quadrinhos, o que demandou criatividade e síntese.
“Aprendemos, com isso tudo, a sintetizar mais as coisas, pois tínhamos que fazer uma explicação complexa para caber em um quadrinho. Durante as apresentações, já fazemos isso, mas podemos falar e explicar bastante; no quadrinho, não, por ter poucos espaços”, complementa Anabela Sousa.
Em setembro de 2024, a cartilha foi apresentada, em Belém, na modalidade de pôster científico, na mostra de materiais didático do Encontro Nacional de Ensino de Química (ENEQ) e, em novembro do mesmo ano, também foi exposta na I Mostra Paraense de Produtos Educacionais, ocorrida no Planetário do Pará. “Ver o interesse e a receptividade das pessoas em diferentes eventos reforça a importância de iniciativas como essa, que unem educação, divulgação científica e ludicidade. Acredito que esse trabalho abre portas para novas formas de ensinar e aprender Química, mostrando que a ciência pode, sim, ser divertida e despertar curiosidade em todas as idades”, conclui Anabela.
Experimentos que encantam e ensinam
O ex-estagiário do CCPPA e licenciado em Química pela Uepa, Bruno Santos, desenvolveu atividades no espaço da Química durante o período de 2022 a 2024. Na cartilha, ele contribuiu com a elaboração do roteiro da apresentação dos experimentos e com a montagem gráfica dos personagens e cenário. “Ficamos por quase um ano montando a cartilha. Foi uma satisfação muito grande elaborar e também foi um desafio, mas valeu muito a pena, pois conseguimos tornar a cartilha acessível para qualquer público, desde crianças até professores”, afirma.
O experimento favorito de Bruno é o Gênio da Lâmpada, que objetiva identificar a decomposição do peróxido de hidrogênio utilizando um catalisador. “Este experimento tem um efeito de surpresa da aparição do gás e era o que eu mais gostava de apresentar, pois fazia suspense e contagem com o público, que ficava surpreso e conseguia entender bem o que acontecia durante a apresentação”.
No CCPPA, Bruno desenvolveu contato com o público e realizou suas primeiras apresentações, aprendendo a abordar a disciplina de forma mais direta e contextualizada, aprendizado que leva até hoje para a sala de aula. “Sempre que tenho oportunidade, utilizo alguns dos experimentos que conheci no Planetário em conteúdos de Química, pois eles são uma forma poderosa de despertar o interesse dos alunos”, destacou. Esse aprendizado também foi aplicado no período em que Bruno ministrou aulas no Cursinho Alternativo da Uepa e durante o estágio obrigatório que realizou na Escola Estadual Magalhães Barata.
A participação na produção da cartilha de experimentos em quadrinhos do Espaço da Química também foi uma experiência enriquecedora para Rodrigo Costa, discente do oitavo semestre do curso de Licenciatura em Química pela Uepa, que foi estagiário do CCPPA entre os anos de 2022 a 2024. Ele atuou na elaboração dos roteiros da cartilha, com destaque para dois experimentos: Teste das Chamas e Gênio da Lâmpada.
“O Teste das Chamas é o meu favorito, pelo aspecto visual e pelos conceitos que conseguimos abranger. Foi interessante fazer parte do trabalho, principalmente porque conseguimos ilustrar fenômenos que, à primeira vista, são invisíveis aos olhos”, relatou.
Rodrigo ressaltou que a vivência no Planetário contribuiu não apenas para o domínio do conteúdo, mas também para aprimorar a forma de se comunicar com o público. “Aprendi a articular minha postura, a facilitar a compreensão do que estava sendo trabalhado. Fazíamos brincadeiras para entreter os visitantes e, ao mesmo tempo, trazer a carga de aprendizado das experiências para a sala de aula. Isso torna os alunos mais instigados”, explicou.
De forma geral, a experiência mostrou que o conhecimento científico pode ser apresentado de maneira mais acessível e próxima do cotidiano. “O Planetário consegue promover muito bem essa ideia de que a Química não é apenas uma ciência difícil, cheia de cálculos. Podemos mostrá-la a partir de experimentos que revelam como as substâncias estão presentes em nosso dia a dia, na natureza, nos alimentos. A Química está em tudo, e depende da forma como a articulamos”, concluiu.