Santa Casa do Pará discute Bioética Clínica no cuidado ao paciente
Profissionais da instituição analisaram a resolução de dilemas éticos na prática médica e na assistência à saúde, considerando valores morais em situações complexas
Com a temática “Bioética Clínica como ferramenta propulsora de cuidado holístico”, abordada pelo médico Josimário Silva, a Fundação Santa Casa do Pará promoveu palestra sobre análise e resolução de dilemas éticos na prática médica e na assistência à saúde. A iniciativa visou incentivar o cuidado adequado e respeitoso, considerando valores morais e éticos na tomada de decisões em situações complexas.
Segundo o palestrante, que tem formação em Bioética Clínica, especialização na Espanha, mestrado em Direito Médico e pós-doutorado, “é um tema que, apesar de muitas pessoas ainda não terem um conhecimento mais apropriado sobre ele, a gente entende que hoje isso vai fazer a grande diferença na relação assistencial”.

Ele acrescentou que “trazer um tema como Bioética, e especificamente a Bioética Clínica, significa dizer que a gente está agregando um valor a uma estrutura que já vem tendo um cuidado, um profissionalismo de atender pacientes da melhor forma possível, até porque toda a intervenção clínica, seja ela médica, da enfermagem, da fisio, da terapia ocupacional, da psicologia e assistência social, tem um componente ético”.
Mediação de conflitos - Josimário Silva reforçou que não se pode prestar assistência centrada em tratamento de uma determinada doença desconsiderando valores do paciente e demais pessoas envolvidas. “A Bioética é exatamente nessa interface. Ela é uma área assistencial, que vai mediar os conflitos, para que essa relação seja a mais harmônica possível. A importância é exatamente agregar valor a uma condição assistencial que já existe na Santa Casa, mas que isso vai acrescentar aos profissionais a necessidade de aprofundar mais esse conhecimento, de agregar suas intervenções clínicas para, efetivamente, ter uma assistência de qualidade”, enfatizou o especialista.
Eliana Botelho, assistente social da Fundação Santa Casa, participou do evento e destacou informações que vêm ao encontro da realidade vivenciada no hospital, nos cuidados a pacientes com doenças crônicas. “Dentro dos nossos cuidados, a gente trabalha com pacientes que fazem transplantes, pacientes hepatopatas (com doenças no fígado). E as informações trazidas neste seminário vêm fortalecer e ampliar a nossa compreensão real da ética nesses cuidados, a importância de a gente trazer e clarear, cada vez mais, a nossa capacidade de compreensão”, disse a profissional.
“Ele trouxe muito essa participação da família como fundamental para que a gente possa definir cuidados em pacientes em situação terminal. Acho muito interessante, até porque a gente tem realmente essa realidade aqui muito concreta. E para nós, que estamos no cotidiano vivendo com essas práticas, com esses cuidados, essa palestra vem realmente nos trazer conhecimento, para que nós possamos, em equipe, pensar e fortalecer o que já vem sendo construído aqui. A gente tem uma equipe de cuidados paliativos, e esse evento trouxe informações muito interessantes”, destacou a assistente social.

Bioética como prática - A Bioética Clínica, segundo Josimário Silva, refere-se à aplicação dos princípios e valores éticos na prática da medicina e outras áreas da saúde, buscando resolver dilemas e conflitos morais que surgem no cotidiano dos profissionais. Na avaliação do especialista, é uma área fundamental para a prática profissional na saúde, buscando guiar as ações e decisões éticas em um campo cada vez mais complexo e desafiador.
“A gente fala em medicina baseada em evidência. Efetivamente, é o que nos move, é a evidência científica. Só que, para tomar uma decisão assistencial, isso ainda não é suficiente para a gente promover uma assistência no máximo, na qualidade. Uma assistência integral parte de uma medicina baseada em evidência, mas também baseada em valores. Na medicina baseada em valores, você vai focar em valores que permeiam essa relação, como autonomia do paciente, a responsabilidade que a gente tem, e tantos outros valores, como qualidade à saúde, qualidade de vida”, acrescentou Josimário Silva.
Para Aureni Araújo, fisioterapeuta da Santa Casa, “o palestrante trouxe esses conceitos. No cuidado paliativo temos que garantir que esse paciente tenha conforto, tenha seus momentos priorizados, e principalmente quando a gente fala na relação familiar, na relação espiritual desses pacientes. Eu, como fisioterapeuta, tento sempre dar atenção para a família, para o paciente propriamente dito, envolvendo a família no cuidado e sempre deixando a par da situação que esse paciente está passando. O paciente tem o direito de escolha”.

“E tudo isso tem que permear um processo de tomada de decisão. Você pode ser uma pessoa tecnicamente competente, mas se a gente não incluir os valores e as crenças do paciente, automaticamente a gente está muito focado na doença, e não no doente. Esse modelo de medicina baseado em valores colocam o paciente e a família no centro do cuidado, e com isso a gente constrói uma relação harmônica, porque nem sempre a gente consegue evitar a morte. Mas cuidar é uma condição permanente, e aí surgem principalmente nessa questão os cuidados paliativos, onde esses valores afloram, por se tratar de doença muitas vezes que não tem cura, doenças crônicas, que podem se arrastar com muito sofrimento. E esse é o grande objetivo hoje, que a medicina baseada em valores faça a grande diferença na construção dessa relação profissional-paciente”, ressaltou Josimário Silva.
Norma Assunção, diretora Técnica Assistencial da Fundação Santa Casa, informou que a instituição já tem uma comissão de Bioética. “E essa comissão vem trabalhando essas questões éticas, tipo aborto legal e cuidados paliativos. A gente tem vários itens do cuidado, a transfusão em pacientes com afinidade religiosa. São vários itens que precisam de uma discussão para traçar uma conduta, dar um direcionamento para a equipe, como se portar nessas situações. Essa discussão é feita dentro da comissão e com o corpo clínico”, disse Norma Assunção, acrescentando que, “para a instituição, é de suma importância esse encontro sobre Bioética Clínica, para reforçar um caminho, uma linha de raciocínio, para que a equipe possa se pautar, para construir essa base para a tomada de decisão do médico e da equipe assistencial”.