Uso da 'Terapia da Redinha' ajuda na reabilitação de recém-nascidos na Santa Casa
Método é utilizado nas unidades de terapia intensiva (UTI-Neo) e de cuidados intermediários neonatais (UCI-Neo) da Fundação Santa Casa do Pará (FSCMP)

Conhecido no Brasil como posicionamento ou terapia em redinhas, o método Hammock é utilizado nas unidades de terapia intensiva (UTI-Neo) e de cuidados intermediários neonatais (UCI-Neo), com algumas crianças atendidas pela Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará (FSCMP).
"O método Hammock foi desenvolvido para trabalhar com crianças prematuras, só que como muitas das crianças internadas nas UTIs e UCIs aqui da Santa Casa têm desordens neurológicas e uma das funções desse método é o desenvolvimento neuropsicomotor, a gente uniu isso a nossa realidade aqui. Então começamos a atender, a partir de 2021, crianças que são portadoras de malformações neurológicas, que tanto as mães quanto as crianças apresentavam um nível de estresse considerável, então a gente começou a trabalhar com a redinhas e viu o resultado", afirma a fisioterapeuta Aureni Araújo.
A técnica foi criada na Austrália e começou a ser implantada no Brasil pela região nordeste do país. Lá também foram desenvolvidos estudos científicos que demonstraram que o nível de estresse e a normalização dos sinais vitais de prematuros colocados em rede eram favoráveis.

Aureni relata que a implantação da redinha é uma ideia conjunta da equipe multiprofissional. “A gente que trabalha com as boas práticas aqui dentro da unidade de terapia intensiva neonatal e cuidados intermediários, além de estarmos aliados ao Método Canguru, entendeu a importância da atenção ao recém-nascido de baixo peso, para que essas crianças tenham a melhor qualidade de assistência aqui".
"Além da experiência de internação dela (da criança), com a presença da família. E nós, com base nos conceitos da humanização e também de terapia, buscamos trabalhar para melhorar ou diminuir o estresse dessas crianças. E o uso da redinha é um bom exemplo de abordagem”, acrescentou Aureni Araújo.
Salma Saraty, gerente da área de neonatologia da Fundação Santa Casa, relata que o uso das redes nas UTIs e UCIs se assemelha ao método humanizado de assistência. “É semelhante ao ninho que a gente já usa há muito tempo. A rede aconchega o bebê, principalmente o bebê prematuro, aquele que sai precocemente do útero e o aconchego da rede faz com que a criança tenha o mesmo conforto que ele tem dentro da barriga da mãe. Então, aquela maneira de aconchego da rede ou do ninho também é uma maneira de fazer a criança se sentir ainda dentro do útero da mãe”.

“Ele pode se mexer à vontade, mas fica sempre aconchegado. Isso contribui para um bom desenvolvimento neuromotor da criança, para um desenvolvimento dos sentidos, das sensibilidades sensoriais, o toque, o carinho, o aconchego, então ele tem esse tipo de sentimento. E é um método que segue o Método Canguru. É um método humanizado de assistência principalmente ao recém-nascido prematuro. Aquele bebê que sai da barriga da mãe, que sai do aconchego do útero antes do tempo, antes das 37 semanas”, destaca a doutora Salma.
Parceria - Aureni Araújo informou que foi feita uma cooperação de processo com o pessoal da Coordenação de Hotelaria da Fundação Santa Casa (CHot), além de interação de processo com o pessoal da lavanderia, no final de 2024 para o início deste ano, para o aproveitamento de alguns tecidos que sobravam de outras aplicações para fazer redinha para os nenês.

“Essa parceria com o pessoal do CHot, deu certo. Eles me entregaram 21 redinhas, já bem trabalhadas. Eu fiquei com a parte de fazer o empunhamento delas e fazer a capacitação da equipe para utilização dessas redes e acredito que até agosto vamos ter um protocolo para institucionalizar o uso da rede terapia de uma maneira mais assertiva para os nossos recém-nascidos prematuros. Essa terapia pode ser realizada tanto na UTI quanto na UCI e até mesmo na Unidade Canguru, com a presença de profissionais capacitados”, enfatiza a fisioterapeuta.
Para Maria Alves Belém, diretora de Assistência Técnico Operacional da Fundação Santa Casa, a confecção das redes pela hotelaria, ela vem baseada no próprio objetivo da hotelaria, de proporcionar melhor experiência para o paciente e para os seus familiares. “As redinhas, vieram de uma provocação da área assistencial da neonatologia, porque ela é uma terapia. Tanto que se chama-se de rede terapia, que é uma prática que tem se mostrado muito eficaz no cuidado do recém-nascido e unidades neonatais”.
“Essa terapia contribui para a sua recuperação e o desenvolvimento de forma mais humanizada e acolhedora. E com esse objetivo, as áreas de apoio procuram sempre agregar a necessidade da assistência e as redinhas vem dessa interação. Processo para que a gente garanta um atendimento mais humanizado na Santa Casa”, diz a diretora.
Referência - A Santa Casa do Pará, uma das maiores maternidades do Brasil, realiza um atendimento diferenciado em sua área de neonatologia. Neste seguimento a instituição possui 62 leitos de UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) neonatal, 62 leitos de UCI (Unidade de Cuidado Intermediário) convencional e 20 leitos de UCI canguru. São 144 leitos ao todo. O universo de profissionais que estão lotados no setor totaliza 433 pessoas, entre médicos, enfermeiros, técnicos e agentes administrativos.
O hospital realiza a internação de cerca de 2,3 mil recém-nascidos ao ano, o que faz dela a unidade que mais oferece serviços de neonatologia em toda a Região Norte e uma das maiores do Brasil.
A médica e gerente da Neonatologia da Fundação Santa Casa, Salma Saraty, explica que o perfil de atendimento do serviço de neonatologia é para recém-nascidos de alto risco, prematuros de baixo peso e de extremo baixo peso, assim como os que nasceram com má formação neurológica, abdominal ou torácica, e crianças com asfixia perinatal grave.
"A qualidade da assistência prestada na neonatologia tem impacto direto na diminuição da taxa de mortalidade de recém-nascidos na instituição. Por isso, continuamos participando ativamente das estratégias do Ministério da Saúde como a Iniciativa Hospital Amigo da Criança, com o método canguru que se baseia em cuidado multiprofissional humanizado ao recém-nascido prematuro”.
Sobre a importância do atendimento humanizado, tendo como exemplo o uso das redinhas, Salma Saraty reforça que existem estudos mostrando já nacionalmente esse uso da rede, melhorando o desenvolvimento neuromotor e sensorial da criança.
“Esse método contribui muito: reduz o estresse, porque o estresse, para o recém nascido, ele causa lesão cerebral, é tudo ruim. O excesso de manipulação, o barulho, a luz, e o aconchego da redinha é semelhante ao aconchego do ninho, a criança se sente como se estivesse no útero. E isso tem um impacto positivo no neurodesenvolvimento do bebê”, diz a médica.