Hospital Galileu atua no acompanhamento dos impactos emocionais de acidentes graves
Psicóloga fala sobre os desafios emocionais enfrentados por pacientes em recuperação de traumas físicos e a importância do apoio psicológico nesse processo

O atendimento psicológico desempenha um papel fundamental no processo de recuperação de vítimas de traumas, especialmente após acidentes graves. No Hospital Público Estadual Galileu, localizado na Grande Belém, que é referência no atendimento de trauma no Estado do Pará, os pacientes recebem não apenas o cuidado físico necessário, mas também um acompanhamento psicológico integrado à reabilitação.
A psicóloga Ana Paula Carvalho, que integra a equipe da unidade, explica como o sofrimento emocional é tratado e as diversas etapas de apoio psicológico para garantir a recuperação completa dos pacientes.
Segundo a profissional, todo acidente pode ser considerado traumático em termos psíquicos, variando de acordo com a gravidade do evento e a condição emocional prévia do paciente. "Sintomas de estresse pós-traumático, ansiedade e sintomas depressivos são os mais comuns após um acidente grave. Esses problemas podem afetar profundamente o bem-estar e a recuperação do paciente", afirma.
Sinais - Ana Paula destaca que o principal sinal de que o trauma físico está acompanhado de sofrimento emocional é o prejuízo funcional do paciente. "Alterações de humor, de sono, perda de apetite, resistência em compreender o próprio quadro clínico e dificuldades de vínculo com a equipe médica são alguns dos principais sinais. O paciente pode ficar sensibilizado diante da dor e ter dificuldades em aceitar o tratamento, o que impacta diretamente no processo de recuperação", explica.
Integração - No Hospital Galileu, o atendimento psicológico é integrado de forma eficaz ao processo de reabilitação física, com foco nas dimensões biopsicossociais da saúde. "Desde a admissão, realizamos a Avaliação Psicológica Situacional, que serve de base para a construção do Plano Terapêutico do paciente. Essa avaliação considera o estado emocional do paciente, seu humor diante do quadro clínico e seus recursos internos para enfrentar o tratamento", esclarece a psicóloga.
O acolhimento emocional é iniciado logo após a internação do paciente. Ana Paula explica que, embora exista uma abordagem padrão para todos os pacientes, que inclui uma ficha de avaliação inicial e uma postura ética de acolhimento, o manejo pode variar conforme as necessidades do caso. "Em situações de extrema vulnerabilidade, como vítimas de tentativa de feminicídio, a abordagem é ainda mais sensível para evitar a revitimização do paciente", destaca.
Medo de não retomar a rotina e o papel do apoio psicológico
Muitos pacientes, após acidentes graves, enfrentam o medo de não conseguir retomar suas rotinas, como voltar ao trabalho ou realizar atividades cotidianas. A psicóloga explica que esses sentimentos são abordados com muito acolhimento e orientação clara. "Respeitamos o tempo psíquico do paciente e orientamos sobre seu quadro clínico e tratamento. É comum que a mente não acompanhe o ritmo físico da recuperação, e isso exige sensibilidade para lidar com os desafios emocionais que o paciente enfrenta fora do hospital, como questões familiares e profissionais", comenta Ana Paula.
A psicóloga enfatiza que a presença da família no processo de recuperação é fundamental. "A família tem um papel estratégico no acompanhamento do paciente. Além de oferecer conforto, ela pode observar e fornecer informações importantes para o acompanhamento psicológico. Também oferecemos orientações psicoeducativas e suporte emocional para os familiares, para que possam lidar melhor com a situação", explica.
Alta hospitalar - Em casos de traumas mais graves, o sofrimento emocional pode continuar mesmo após a alta médica. Ana Paula observa que, em muitas situações, o trauma emocional não se resolve com a recuperação física. "Alguns pacientes apresentam sintomas emocionais persistentes, que podem evoluir para transtornos mentais ou agravar condições pré-existentes. Nesses casos, orientamos sobre a Rede Psicossocial e realizamos encaminhamentos para os dispositivos de saúde conforme a demanda apresentada", esclarece.
Para finalizar, a psicóloga orienta: "O primeiro passo é reconhecer que precisa de ajuda. Questões emocionais não têm a ver com fraqueza ou falta de fé. Buscar o apoio da saúde mental é essencial para compreender o momento difícil que está sendo vivido. Há profissionais qualificados nos serviços de saúde pública prontos para ajudar a atravessar esse processo de maneira mais acolhedora e saudável", finaliza Ana Paula.
Perfil - O Hospital Galileu é uma unidade pertencente ao Governo do Pará, gerenciado pelo Instituto de Saúde Social e Ambiental da Amazônia (ISSAA), em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa). Para ter acesso à unidade, o paciente precisa ser encaminhado, via Regulação Estadual, portanto, os serviços não são porta-aberta.
Texto: Roberta Paraense