Sespa e Funtelpa lançam Campanha Estadual de Combate ao Escalpelamento
Após quatro dias de ações de conscientização sobre os acidentes com escalpelamento junto à população das ilhas que cercam Belém e dos municípios Abaetetuba, Igarapé-Miri, Muaná, Portel e Oriximiná, a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) e a Fundação de Telecomunicações do Pará (Funtelpa) lançaram nesta sexta-feira (28) a Campanha Estadual de Prevenção e Combate ao Escalpelamento, que a princípio consistirá na veiculação de cinco vídeos sobre o assunto no intervalo da programação da TV Cultura do Pará. A cerimônia ocorreu na sede do Centro de Inclusão Integrado de Cidadania (CIIC), em Belém.
A Funtelpa é o 17º órgão a compor a Comissão Estadual de Erradicação dos Acidentes com Escalpelamento (Ceeae) no Pará, cuja atividade em 2015 culminou na Semana Estadual de Prevenção e Combate aos Acidentes de Motor com Escalpelamento na Mobilidade Ribeirinha, iniciada na Feira do Açaí, orla de Belém, na segunda-feira (24), e de caráter intinerante nos demais três dias.
O lançamento da campanha reforça a necessidade contínua de convencer a população a adotar estratégias para evitar o escalpelamento - acidente causado pelo eixo exposto dos motores das embarcações que, ao enroscar e puxar os cabelos longos das meninas e mulheres, arranca parte ou todo o couro cabeludo, podendo levar até à morte.
Educação – Para a secretária adjunta de Saúde do Estado, Heloisa Guimarães, é preciso reunir sempre todas as formas de comunicação, incluindo as redes sociais, para que a população ribeirinha seja energicamente alertada sobre os riscos de trafegar em barcos com esse tipo de precariedade. “É preciso zerar esse problema no Pará. Sou favor de campanhas mais elucidativas e esses vídeos vão dar uma dimensão do problema que isso causa, sobretudo à vítima”, explica.
Cada um dos cinco vídeos contém 40 segundos e conta um resumo da história de quatro mulheres que foram vítimas do acidente no Pará. Um quinto vídeo traz o depoimento do marido de uma delas, moradora de Abaetetuba e que está na lista dos oitos casos de escalpalmento registrados até agora este ano. Somente no mês de julho foram cinco ocorrências. Em 2014, chegou-se a registrar uma morte entre as onze vítimas escalpeladas no Pará. Já no ano anterior, o número de acidentadas chegou a 1dez.
“Os vídeos estarão na programação da TV Cultura em prazo indeterminado. É nosso dever colaborar com a campanha enquando emissora educativa e comprometida com as causas sociais”, disse o diretor de programas da emissora, Nassif Jordy, que esteve pessoalmente envolvido nas entrevistas com as vítimas, inclusive nos municípios de origem. Segundo ele, a idéia é reunir mais depoimentos e, conforme a autorização das depoentes, ir exibindo para que ocorrências do tipo possam ser evitadas ao máximo.
Santa Casa é referência no atendimento
O acidente com escalpalamento é um tipo de agravo muito recorrente no Pará, cujas características geográficas contribuem para que a população utilize as embarcações como meio de transporte principal, sobretudo às proximidades de festas religiosas e períodos de férias escolares. “Mulheres e crianças são as maiores vítimas, e geralmente ficam graves sequelas físicas e psicológicas”, explica a coordenadora estadual de Mobilização Social da Sespa, Socorro Silva, que antes do lançamento da campanha ainda coordenou o curso de capacitação em tecnologias de saúde no uso de curativos industrializados no atendimento de urgência e emergência de lesões das vitimas, também no CIIC.
Durante a atividade, particularidades dos procedimentos cirúrgicos dispensados às vítimas foram apresentados pelo médico Victor Aita, cirurgião plástico da Santa Casa e responsável por uma série de mutirão de cirurgias reparadoras na instituição. No decorrer da apresentação, o especialista discorreu sobre os procedimentos, cujo objetivo comum é promover a melhor integração das vítimas à sociedade, a partir da redução das seqüelas, principalmente nos olhos, corrigindo pálpebras, cílios e sobrancelha; e nas orelhas, com colocação de próteses auriculares.
Na sequência, informações sobre o atendimento às vítimas, que hoje é oferecido pelo Programa de Atenção Integral às Vítimas de Escalpelamento (Paives), na Santa Casa do Pará, em Belém, foram relembrados pela coordenadora do serviço, Socorro Ruivo. A enfermeira recomenda cuidado principalmente com as crianças; manter o cabelo totalmente preso e coberto com bonés ou outro acessório; atenção também com o uso de colares e cordões e a manutenção de uma distância segura do eixo da embarcação, além de manter o eixo do motor protegido.
Prevenção – Grande parte das vítimas é oriunda dos municípios do Arquipélago do Marajó e do oeste paraense. De 1982 até agosto de 2015 foram registrados 505 acidentes com escalpelamento. O cenário estagnou nos últimos anos, com média de dez a doze casos por ano. “A maior parte dessas vítimas é de ribeirinhos, que têm no barco o principal meio de transporte. O fato de descentralizarmos essas ações para o interior é uma forma de fazer com que também os profissionais dos municípios alertem a população para hábitos simples, como fazer um 'pitozinho' no cabelo, usando de uma linguagem que o povo compreenda de imediato”, explica Socorro Silva.
Em termos de ações preventivas, a Sespa vem se empenhando em combater o escalpelamento, sobretudo a partir de 2008, quando foi criada a Ceeae, que já promoveu, entre tantas outras atividades, a ação de cobertura de carenagens, feita pelos militares da Capitania dos Portos, responsável pelas ações de segurança naval nos rios do Pará, das quais destaca-se a colocação de proteção no eixo do motor, procedimento feito em parceria com a Sespa e que desde 2009, por meio de lei federal, tornou-se obrigatório. Desde então, mais de três mil embarcações receberam proteção nos eixos. A instalação não tem custo para o dono da embarcação, porque é patrocinada por empresas privadas.
Em vésperas de datas especiais, como Carnaval, Círio de Nazaré e Natal, a Ceeae distribui cartazes e material informativo em portos, com o objetivo de conscientizar turistas e ribeirinhos sobre o problema. Também são divulgadas informações sobre o atendimento às vítimas, que hoje é oferecido pelo Paives, na Santa Casa, em Belém, e sobre o acesso ao Tratamento Fora de Domicílio (TFD), benefício fornecido pelos municípios aos pacientes que precisam cuidar das sequelas fora da cidade de origem.