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Talentos paralímpicos do Pará ganham destaque no cenário nacional

Por Redação - Agência PA (SECOM)
30/08/2015 17h18

Na quadra todos eles são iguais. Na verdade, eles se tornam heróis e vencedores de suas próprias histórias. Três jogadores de cada lado tentam atacar e proteger um gol de nove metros de largura em uma quadra equivalente a de vôlei. Com arremessos rasteiros, eles tentam ultrapassar a defesa e conquistar o gol, que muitas vezes é defendido com fortes boladas na barriga e nas pernas. O jogo pode parecer simples, mas tem um detalhe: os jogadores não enxergam e contam apenas com a audição para se orientar. Este é o goalball, uma das várias modalidades esportivas criadas para portadores de deficiência visual que tem revelado atletas paraenses para competições estaduais, nacionais e internacionais. Só no VIII Jogos Paralímpicos 2015, promovido pelo Núcleo de Esporte Lazer (NEL), por meio da Secretaria de Estado de Educação (Seduc), em agosto, participaram 191 atletas nas modalidades de judô, natação, atletismo, bocha, futebol e goalball.

O Pará já é considerado pelo Comitê Paralímpico Brasileiro como referência de talentos no esporte. De 2011 a 2014, os paratletas paraenses conquistaram 105 medalhas de ouro, 82 de prata e 82 de bronze nas Paralimpíadas Escolares Nacionais. O melhor resultado ocorreu em 2013 com a conquista de 111 medalhas. Este ano, 59 paraenses já foram selecionados para participar das Paralimpíadas Escolares Nacionais no Rio Grande do Norte, entre 23 e 28 de novembro.

Podem participar do goalball os jovens diagnosticados com baixa visão ou perda total de visão de acordo com a avaliação técnica do comitê. Para ficarem em igualdade na quadra eles utilizam um tipo de viseira completamente vedada para inibir qualquer entrada de luz. A bola especial do tamanho de uma bola de basquete tem pouco mais de um quilo e é equipada com guizos que sinalizam a posição e o movimento quando é arremessada.

“Percepção” - Os amigos reconhecem de longe a gargalhada e a firmeza na voz de Mariana Oliveira, 18 anos, atleta de goalball há quase três anos. A adolescente é apaixonada pelo esporte, mas antes disso se dedicava exclusivamente a natação. Mariana é deficiente visual, mas quando coloca os óculos oficiais, a sua audição se transforma e ela consegue perceber cada lugar sinalizado pela bola em quadra.

“O goalball começou pra mim em 2014. Como eu treinava no mesmo local em que eles treinavam também descobri e comecei a participar com 15 anos. De lá pra cá eu já participei de algumas competições nacionais. Foi muito legal sair de Belém para competir. Já estamos nos preparando para o próximo regional em 2016”, diz Mariana.

Nas escolas, os alunos são selecionados durante as atividades especializadas de educação física e encaminhados para o NEL para orientação e treinamento.

“Há oito anos a gente desenvolve o campeonato escolar paralímpico onde os alunos participam para representar o estado do Pará nacionalmente. Dentro da Secretaria de Educação nós temos setores que trabalham com a educação especial que selecionam estes alunos não só na capital, mas também nos municípios do interior. A partir dos jogos estaduais eles já estão habilitados a participarem das seletivas para outros campeonatos como o parapanamericano”, explica a Ana Glória Nascimento, coordenadora do NEL e diretora geral dos jogos.

De acordo com a coordenadora, as modalidades que tem trazido os melhores resultados para o Pará e para o Brasil recentemente são o judô, o goalball (com atletas paraenses convocados para a seleção brasileira), além da natação.

“O Comitê Paralímpico Brasileiro nos auxiliou por três anos com o projeto Clube Escola e desde 2013 nós estamos trabalhando apenas com o apoio do Estado, por meio de programas e secretarias parceiras, que garantem os espaços adequados para os nossos atletas treinarem, equipe técnica como educadores, psicólogos, terapeutas, custos com alimentação e hospedagem. No caso das competições nacionais, estes custos são do próprio Comitê”, detalha Ana Glória.

No Pará, o Plano Estadual de Ações Integradas a Pessoas com Deficiência, chamado de Plano Existir, colabora com apoio aos atletas. O plano reúne 15 órgãos do Governo em torno de eixos como saúde, educação, acessibilidade e inclusão social.

“Quando o NEL faz esses jogos, os participantes entendem que é preciso possibilitar para a juventude o direito ao esporte e ao lazer. O fato de proporcionar aos jovens a eliminação de barreiras faz com que tenham a possibilidade de se desenvolver também nessa área de esporte e de cultura”, explica Meive Piacese, coordenadora do Plano Estadual de Ações Integradas a Pessoas com Deficiência.

A experiência de inclusão pode ser percebida pela vivência dos atletas no esporte. “Antigamente eu não aceitava o que eu era, por eu ser deficiente, então eu não me aceitava na sociedade, mas depois que conheci o caminho do esporte e do goalball, das pessoas que tinham a mesma deficiência que eu e aprendi o que realmente era bom pra mim”, diz Mariana sobre o seu aprendizado no esporte.

Max Diego Nascimento, 24 anos, é um paratleta experiente do goalball. Deficiente visual, ele já participou de duas competições escolares e três na categoria adulto desde 2007. Sua primeira competição nacional foi em Brasília, onde o time paraense foi campeão nacional.

“Participar dos treinamentos e dos campeonatos foi bom porque eu aprendi muita coisa. A professora Kátia, nossa treinadora, é uma pessoa maravilhosa que cuida e gosta da gente. O goalball me ajudou muito na locomoção, confiança, audição e atenção. Na categoria adulta o nível é alto e muito forte, mas a gente se dedica ainda mais. Daqui pra frente eu já penso em fazer vestibular para informática ou administração”, diz Max.

A professora e treinadora do time de goalball no NEL, Kátia Tadaieky, fala do benefício do esporte e como ele modifica a vida dos alunos não apenas dentro de quadra. “Como todo esporte tem o seu lado lúdico, ainda mais o esporte coletivo, dá toda contribuição para que esses nossos alunos com deficiência visual, e algumas vezes com outra deficiência consigam a sua valorização enquanto pessoa. Além disso, o goalball traz a educação psicomotora deles, que fica prejudicada devido a falta da visão. Essa atividade traz de volta a autoconfiança, o respeito, a autoafirmação por meio do esporte. O goalball também ajuda na interação social entre eles e dentro da família, pois quando o deficiente se torna um atleta ele é mais valorizado pelos familiares e amigos que assistem o jogo e vibram com ele. Quando a gente soma todos esses benefícios, isso se torna uma grande ação de inclusão e cidadania em todos os campos”, explica a professora.

Um destes exemplos é a jogadora Brenda Taiane Leal, 16. Ela possui deficiência intelectual e visual, enxergando com apenas um dos olhos. Brenda tinha dificuldades de andar e para se comunicar com as pessoas. A avó, dona Almira Leal, 67, diz que ela era muito fechada. Um dia ela soube por meio de uma vizinha do treinamento oferecido no NEL e resolveu levar a neta para experimentar.

“Ela melhorou muito desde então. Já faz três anos que a Brenda começou a jogar e ela já participou de competições em São Paulo e Mato Grosso do Sul. A gente vê como ela fica feliz e voltou a falar com as pessoas”, diz dona Almira que acompanha a neta duas vezes por semana de sua casa no Guamá até a quadra localizada na sede do NEL.

“É impressionante a evolução da Brenda. Ela tinha um potencial imenso que nós conseguimos trabalhar aqui. Nós a consideramos uma ótima atleta com um dos melhores arremessos. O resultado deste tempo de convivência e treinamento pode ser visto dentro e fora da quadra”, diz a professora Kátia.

E mais do que o orgulho das medalhas e campeonatos conquistados, o esporte paralímpico resgata a confiança dos estudantes, que se tornam atletas e cidadãos, que desejam passar a diante a ideia de igualdade, não importa qual seja a deficiência ou diferença de cada pessoa.

“Nós não estamos aqui para formar só atletas. Nós estamos aqui para nos tornar grandes cidadãos e o esporte pode mostrar muita coisa. O goalball para mim abriu portas na minha vida que eu já mais imaginaria que aconteceria, então quem quiser conhecer estamos aqui aguardando por vocês”, diz a atleta Mariana Oliveira.

Serviço: Quem estiver interessado em buscar mais informações sobre os esportes adaptados ou o Goalball pode entrar em contato com o NEL (Núcleo de Esporte e Lazer da Seduc), que fica na travessa Dom Romualdo de Seixas, nº 1.215, bairro do Umarizal, em Belém, ou pelo telefone (91) 3201-5900.