Semas fortalece protagonismo quilombola em oficina do Atlas da Alimentação Amazônica no território de Arapucu
Único quilombo brasileiro selecionado para integrar o Atlas da Alimentação Amazônica, Arapucu, em Óbidos, acolheu oficinas e pesquisas com foco na valorização de práticas tradicionais

Na linguagem indígena Tupi-Guarani, “Arapucu” significa “dia longo ou comprido” - e assim foram os últimos dias de aprendizado e compartilhamento de conhecimento na comunidade quilombola de mesmo nome, localizada a 17 km de Óbidos, na região do Baixo Amazonas.
Entre os dias 20 e 23 de maio, a comunidade recebeu o Atlas da Alimentação Amazônica, uma iniciativa desenvolvida pela Amazon Conservation Team (ACT) no contexto do projeto Paisagens Sustentáveis da Amazônia (ASL). A proposta visa estudar e valorizar as práticas alimentares de povos e comunidades tradicionais da Pan-Amazônia. Ao todo, sete países e 14 comunidades foram selecionados para compor o Atlas, que busca reunir e divulgar saberes alimentares originários e suas relações com o território e a biodiversidade.
A programação do evento incluiu oficinas participativas e pesquisa de campo em territórios específicos, entre eles o único quilombo escolhido no Brasil: a comunidade Arapucu. A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) participa da ação em cooperação com o Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, sendo responsável pela indicação do território — uma escolha que reflete o histórico de políticas públicas na região, especialmente por meio do programa Regulariza Pará, que articula ações como o Cadastro Ambiental Rural para Povos e Comunidades Tradicionais (CAR/PCT), essencial para a regularização ambiental e o fortalecimento socioeconômico desses territórios.

Óbidos é, inclusive, o primeiro município do Pará com 100% dos territórios quilombolas cadastrados no CAR/PCT. Seu Bena, da comunidade quilombola Tiningu, de Santarém, foi convidado a participar da oficina e relatou a importância da experiência. "Esse encontro estará levando a nossa culinária e alimentação, a riqueza que temos dentro dos nossos lagos e floresta, para o mundo. Os profissionais da Colômbia, junto com a Semas, estão aqui dando todo o apoio para nós. É também de muita importância termos mais conhecimento sobre alimentos que temos em nossa comunidade e como preparar, como o pudim de cumaru, por exemplo. Nós já temos uma parceria com o Estado por meio do CAR, e agora estamos gratos pela preocupação de mostrar o nosso modo de vida, o conhecimento que temos, para o mundo, por meio do Atlas", disse.
Além dele, participaram representantes da Federação das Organizações Quilombolas de Santarém (FOQS), do território quilombola de Saracura e do território quilombola Maria Valentina.
Quem também reforçou a satisfação em participar de uma iniciativa internacional foi o presidente da Associação Remanescente de Quilombolas da Comunidade de Arapucu (Arquica), Redinaldo Alves, que falou em nome dos moradores. "Por meio das políticas públicas que o Estado traz para dentro das nossas comunidades, por meio da Semas, estamos tendo acesso a essa oficina de extrema importância para o nosso território. Isso nos dá a garantia de que o nosso conhecimento, por meio do Atlas, será levado ao mundo todo. Só temos a agradecer ao Estado por ter esse olhar pela nossa região e por estar apoiando com a presença do secretário adjunto e dos outros técnicos".

Para o técnico da Semas, Sérgio Continhas, a iniciativa reforça os laços com as comunidades tradicionais. "Foi uma experiência extremamente rica e transformadora. Já temos uma relação construída com essas comunidades há cerca de quatro anos. A inserção no CAR/PCT não é o fim de um ciclo, mas sim uma etapa de um processo que abre portas para novas políticas, como a construção do Atlas. A Semas tem crescido junto com essa vivência, desenvolvendo metodologias em parceria com as comunidades. É uma verdadeira imersão que revela o cotidiano das famílias quilombolas. Uma experiência marcante que ficará registrada para a vida".
O secretário adjunto de Gestão e Regularidade Ambiental da Semas, Rodolpho Zahluth Bastos, também destacou a importância do projeto. "A participação da Semas nessa iniciativa reforça nosso compromisso com o reconhecimento e valorização dos povos e comunidades tradicionais. O CAR/PCT é uma ferramenta estratégica não apenas para a regularização ambiental, mas também para garantir visibilidade, direitos e inclusão dessas populações nas políticas públicas. Ver a comunidade de Arapucu ser protagonista em um projeto internacional como o Atlas da Alimentação Amazônica mostra que estamos no caminho certo ao investir em uma gestão ambiental que respeita as especificidades culturais e territoriais dos povos da Amazônia".

A equipe da ACT presente em Arapucu foi composta por Beatriz Fernandes Farias (antropóloga), Daniel Monteiro (profissional socioambiental colombiano) e Hernán Gomez (especialista em artes temáticas). Durante quatro dias, eles conduziram atividades diárias com a comunidade, reunindo informações sobre ingredientes, modos de preparo de alimentos tradicionais como bejú e mangará, utensílios, tradições alimentares locais, além de atividades extras como oficina de teatro para as crianças.
"Estamos aqui na comunidade quilombola de Arapucu realizando uma pesquisa participativa com foco na alimentação tradicional. Queremos entender e divulgar para o mundo a riqueza dos alimentos locais, especialmente o peixe, que tem papel central na dieta. Ficamos impressionados com a diversidade presente aqui e com o envolvimento da comunidade. Embora não seja nossa primeira vez no Brasil, é a primeira visita a Arapucu, e estamos muito felizes em contribuir com a missão do Amazon Conservation Team: preservar a floresta e fortalecer as populações tradicionai", destacou Daniel Monteiro, da ACT.

O projeto prevê ainda a participação de representantes de cada oficina em um intercâmbio internacional, que ocorrerá em julho, na cidade de Letícia, na Colômbia, promovendo o compartilhamento de saberes entre os povos da floresta da Pan-Amazônia.