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Hospital alerta para fatores de risco e sintomas iniciais da Doença de Parkinson

Médicos apontam que antes dos tremores e da rigidez muscular, sinais sutis como distúrbios do sono e perda do olfato podem indicar o início da  doença

Por Leila Cruz (HOL)
29/04/2025 10h48

Em Belém, o Ambulatório de Distúrbios do Movimento do Hospital Ophir Loyola (HOL), referência no tratamento de doenças neurológicas na região Norte, recebe pacientes com diagnóstico de Parkinson encaminhados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), através da Central de Regulação. Atualmente, o hospital oferta atendimento especializado para 100 pacientes com disfunção que, embora ainda sem cura, pode ser controlada com acompanhamento médico adequado.

A doença crônica e progressiva, segundo o neurologista Bruno Lopes do HOL, é causada por uma degeneração das células nervosas localizadas na região da substância negra e afeta os movimentos, outras funções cerebrais e até mesmo comportamentais.

“Não existe uma única origem, algumas pessoas têm uma predisposição genética, que não pode ser modificada, mas também existem elementos ambientais que contribuem para aumentar o risco”, afirma o médico Bruno Lopes.

Entre os fatores ambientais mais estudados, o contato com pesticidas — tanto os agrícolas quanto os domésticos — é apontado como um dos principais vilões. “Existe uma associação muito forte na literatura científica entre a exposição a pesticidas, como o glifosato e a atrazina, usados principalmente na agricultura, e o surgimento do Parkinson. Mas também há risco no uso de inseticidas comuns em casa, que continuam no ambiente por dias depois da aplicação”, alerta.

O especialista explica que o contato pode ocorrer de várias formas: pele, respiração ou ingestão de alimentos contaminados. “Mesmo o uso constante de produtos em spray, dentro de casa, pode gerar um efeito cumulativo ao longo dos anos”, explicou.

A maioria dos pacientes com Doença de Parkinson tem mais de 50 anos, faixa etária que representa o principal grupo de risco para doenças neurodegenerativas. Contudo, elas também pode acometer pessoas mais jovens e, há casos, muitas vezes, em que as pessoas precisam se aposentar precocemente devido à progressão da enfermidade. Essa situação gera diversos impactos, tanto na vida do paciente quanto na de seus familiares, afetando a renda, a rotina e o bem-estar de todos os envolvidos.

De acordo com o doutor Bruno Lopes, “a idade é, de fato, o maior fator de risco. Quanto mais velho o paciente, maior a chance de desenvolver essa disfunção neurológica. Aqui, no Hospital Ophir Loyola, temos uma média de pacientes um pouco mais jovens. Muitos estão na faixa dos 40 a 50 anos, e alguns até têm menos de 40. Isso pode estar relacionado a fatores ambientais específicos, como a maior exposição a agrotóxicos em áreas rurais.”

Marcelo Formento, 40 anos, morador do município de Bragança descobriu que tinha Parkinson por volta de 2016, enquanto atuava como músico. "Eu era baterista e, durante a passagem de som, antes de um show, percebi que não conseguia fazer movimentos que antes eram automáticos para mim. Entrei em desespero", lembrou Marcelo que, em 2018, precisou se afastar da banda  em que tocava.

O músico  iniciou o tratamento somente em 2021 no HOL, onde a cada três meses comparece a consultas e recebe a prescrição dos medicamentos que o ajudam nos controles dos sintomas. "Quando tomo a medicação, fico mais relaxado, consigo fazer os movimentos normalmente e não fico travado. Tudo mudou, mas o tratamento me devolveu um pouco de qualidade de vida", afirmou.

Distúrbios do sono e perda do olfato podem ser sinais precoces

Embora os sintomas motores, como tremores, lentidão nos movimentos, rigidez muscular e dificuldade para caminhar ou manter-se em pé sejam os mais conhecidos, não são, necessariamente, os primeiros a aparecer. A doença também pode se manifestar inicialmente por meio de sinais mais sutis e menos associados à condição. Alterações de humor, dores inexplicáveis e perda do olfato estão entre os sinais que, muitas vezes, podem passar despercebidos, os chamados sintomas prodrômicos.

Conforme explica Bruno Lopes, embora não sejam exclusivos do Parkinson, esses sinais podem indicar que a doença está em formação, e pode se manifestar clinicamente em meses ou até anos depois. Segundo o especialista, a conscientização sobre os riscos ambientais e o diagnóstico precoce são fundamentais para melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

“As primeiras evidências não são específicas, mas de certo modo prenunciam que a doença poderá surgir nos próximos meses ou anos, conforme esclarece Lopes. Um desses sintomas prodrômicos tem a ver com o sono, que é o que chamamos de distúrbio comportamental do sono REM. É um fenômeno onde, ao dormir, em vez da pessoa sonhar e permanecer parada — que é o normal — ela se movimenta como se estivesse vivendo o sonho", esclareceu.

De acordo com o neurologista, o sono é dividido em duas fases principais: o sono REM e o sono não-REM. Durante o sono não-REM — que ocupa a maior parte da noite — a pessoa não sonha e pode se mover normalmente. Já no sono REM, fase em que ocorrem os sonhos, o corpo passa por uma paralisia natural que impede movimentos físicos, funcionando como um mecanismo de proteção.

“Em pessoas com distúrbio do sono REM, essa paralisia não acontece. Como resultado, enquanto sonham, elas acabam executando os movimentos do sonho. Se estiverem sonhando, correndo ou lutando, por exemplo, podem se mover violentamente, cair da cama ou até machucar quem estiver por perto. O mais importante é que descobrimos que quem apresenta esse distúrbio tem uma chance altíssima — de 80 a 90% — de desenvolver a Doença de Parkinson nos próximos 10 anos”, alertou.