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Festival do Cavalo Marajoara resgata a identidade cultural no Arquipélago do Marajó

Por Redação - Agência PA (SECOM)
21/10/2017 00h00

Capítulo I - O caroço de tucumã

Cachoeira do Arari, Arquipélago do Marajó. Foi no cenário do livro "Chove nos Campos de Cachoeira", do premiado escritor marajoara Dalcídio Jurandir, que aconteceu a largada do Enduro do Cavalo Marajoara, na manhã deste sábado (21)

A tradicional prova é a principal competição do 1º Festival do Cavalo Marajoara, cuja abertura foi realizada na manhã de sexta-feira (20), em Soure.

Realizado pela Prefeitura de Soure, o evento tem a coordenação da Secretaria de Estado de Esporte e Lazer (Seel) e reúne competidores de quatro municípios do Marajó: Cachoeira do Arari, Salvaterra, Santa Cruz do Arari e Soure.

Na obra de Dalcídio Jurandir, considerado o primeiro romance amazônico moderno, o menino Alfredo deixa a vida humilde em Cachoeira para realizar o sonho de estudar na capital. Nas mãos, leva um inseparável caroço de tucumã. É através dele que, na imaginação de menino, Alfredo chega onde quiser.

E foi nas asas de tucumãs, que fazem parte do imaginário literário marajoara, que 82 homens do campo partiram de Cachoeira do Arari rumo à Soure. São 160 quilômetros a percorrer, em dois dias de uma prova de resistência. Durante o trajeto, a força e a agilidade do cavalo marajoara são desafiadas a todo o momento. Encerrar o enduro é questão de honra para o bravo caboclo marajoara.

Entre os competidores está João das Graças, 44 anos. Vaqueiro desde os 12 anos de idade, ele disputa o seu segundo enduro montado em seu amuleto. "No início do ano, encarei o desafio de participar de um enduro pela primeira vez. Tinha um cavalo favorito que veio de Capanema. Aí, peguei esse cavalo aqui e falei: ‘Deixa vir!’ Esse ficou sendo o nome dele e acabamos vencendo a prova", relata o vaqueiro. O enduro tem ainda a participação de bikes e motos fazendo o mesmo trajeto.

Capítulo II - Sonho realizado

Acompanhado de sua esposa, Clara Lobato, o prefeito de Soure, Guto Gouvêa, participa pela primeira vez de um Enduro Marajoara. "Essa é a realização de um sonho de menino e me sinto ainda mais feliz de realizá-lo enquanto gestor", disse o prefeito, montado na égua "Flica".

Capítulo III - Jogos marajoaras

Além dos enduros, o Festival do Cavalo Marajoara tem outras seis modalidades em disputa: Corrida do Cavalo Marajoara, Luta Marajoara, Basquete a Cavalo, Corrida de Búfalos, Prova de Sela Rápida e Corrida de Argolinha.

"É muito importante o Governo do Estado apoiar esse evento. Serve para a população de todo o Pará conhecer essas modalidades típicas do Marajó, que são espetáculos únicos, como o Basquete a Cavalo. Com isso, a gente valoriza cada vez mais a cultura desse nosso imenso estado", disse a coordenadora de eventos da Seel, Ana Julia Chermont.

As modalidades em disputa resgatam os Jogos de Identidade Cultural, realizados pela Seel no Marajó, em 2003 e 2005. Na manhã deste sábado, aconteceram as provas classificatórias da Argolinha, Sela Rápida e Corrida de Cavalo.

Capítulo IV - Filho ilustre na arbitragem

À tarde, cinco disputas marcaram as classificatórias da Luta Marajoara. Semelhante à luta greco-romana, a modalidade é praticada pelos marajoaras desde a infância.

O árbitro das lutas foi Ildemar Marajó. Campeão do Jungle Fight em 2013, ele é um dos grandes nomes do MMA paraense, com 7 lutas no UFC. Cria do município de Soure, Ildemar começou a aprender as técnicas da Luta Marajoara quando tinha apenas 3 anos.

"É muito importante divulgar a nossa luta. Foi graças aos ensinamentos dela que a minha carreira começou. Por isso, fiz questão de vir aqui, incentivar essa tradição", disse o lutador.

O Festival do Cavalo Marajoara termina neste domingo (22), quando serão conhecidos os campeões de cada modalidade. A chegada dos participantes do Enduro do Cavalo Marajoara e das bikes está prevista para o final da tarde.

A força e a obstinação do menino Alfredo estão em cada um dos participantes do Festival Marajoara. São vaqueiros, agricultores, homens da terra resgatando a essência marajoara através do esporte. Se Dalcídio Jurandir pudesse vê-los, certamente os chamaria, assim como na saga de Alfredo, de "A farinha d’água dos meus beijus".