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SOCIOEDUCAÇÃO E CONHECIMENTO

Fasepa encerra 1° ciclo do Projeto 'Cria das Letras' sobre identidade e racismo

Iniciativa busca promover o desenvolvimento educacional dos socioeducandos

Por Valéria Nascimento (SECOM)
09/04/2025 12h27

A Fundação de Atendimento Socioeducativo do Pará (Fasepa), por meio da Unidade de Atendimento Socioeducativo (UASE 1), realizou, na segunda-feira (7), uma programação especial, para o encerramento do 1° Ciclo do Projeto “Cria das Letras”. A iniciativa é uma parceria entre a Fasepa, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e a Companhia das Letras, e objetiva promover a leitura e o conhecimento entre jovens em cumprimento de medidas socioeducativas. O foco é o desenvolvimento educacional dos socioeducandos, a partir do incentivo ao pensamento crítico dos adolescentes e também de servidores que atuam na unidade.

O projeto distribui livros selecionados pela Companhia das Letras e os apresenta para a escolha dos participantes. Na Fasepa, as atividades são programadas pela equipe de servidores que receberam formação para atuar como mediadores dentro da unidade socioeducativa.

De acordo com Nairim da Luz, pedagoga da UASE I, o espaço da leitura favorece a expressão dos socioeducandos por meio da leitura, produções escritas e artísticas, como desenhos e textos, em que eles podem coloar suas percepções e vivências sobre os livros lidos.

“O projeto foi implementado na unidade a partir das ações do Clube da Leitura, realizadas semanalmente. Neste primeiro ciclo, foram trabalhadas duas obras, “A Mágica Mortal”, de Raphael Monte e “De onde eles vêm”, de Jeferson Tenório. Durante os encontros, além da leitura compartilhada, foram desenvolvidas atividades pedagógicas voltadas à compreensão do enredo, análise dos personagens e a contextualização das obras e de seus autores”, destacou a pedagoga Nairim da Luz.

A programação de encerramento do primeiro ciclo do projeto contou com a participação de Jucilene Carvalho, a mãe Juci D´OIA. Ela ministrou uma oficina sobre a produção de acarajé, abordando a origem da culinária afro-brasileira.

A oficina reforçou os temas centrais da obra analisada, como identidade, racismo, preconceito, exclusão, luta e sonho. Em seguida, houve uma roda de conversa com convidados que superaram preconceitos e se afirmaram na sociedade, como a própria mãe Juci D´OIA e o psicólogo Alessandro Silva. Os convidados compartilharam suas experiências.

A programação também contou com a presença de Raquel Amarantes, assistente técnica estadual do programa Fazendo Justiça, e outros representantes da área socioeducativa. Participara, ainda, servidores da unidade e os socioeducandos.

Jucilene Carvalho, a mãe Juci D´OIA, disse que ficou muito sensibilizada com o convite para ministrar a oficina de culinária e participar da roda de conversa sobre essa temática, “é fundamental dialogar sobre questões tão presentes em nossa sociedade. Falar sobre gastronomia afro, que é cheia de afeto, ancestralidade e identidade, sem se restringir ao religioso, é um encontro com a nossa africanidade, permitindo que cada um se entenda como ser humano, especialmente em um contexto de privação de liberdade".

"Este projeto de leitura oferece uma oportunidade de reflexão sobre quem somos, de onde viemos e como chegamos até aqui, e mostra que, por meio da leitura, é possível alcançar uma liberdade plena. O racismo é estrutural e precisamos combatê-lo diariamente para que jovens, homens e mulheres não sejam aprisionados no cárcere, nem na utopia de que precisam se conformar a um padrão para serem vistos e existir na sociedade. Ao abrir espaço para a fala, buscamos fortalecer o amor e a humanidade que existe em cada um”, disse ela.

Para o psicólogo Alessandro Silva, participar do projeto foi uma experiência intensa. Ele disse que falar sobre um contexto de sofrimento social, sensível, tornou o processo ainda mais significativo.

Ele acredita "que a leitura tem um grande potencial transformador e que esse é o verdadeiro potencial do projeto, proporcionar aos socioeducandos um novo olhar sobre a vida, uma relação com a educação baseada em cuidado, aprendizado, crescimento e infinitas possibilidades", afirmou Alessandro Silva.

O psicólogo Alessandro destaca, ainda, que, ao falar com os socioeducandos, teve a sensação de estar falando sobre si mesmo. Ele tem certeza de que, por meio da escuta, da fala e da visualização de outras perspectivas, os adolescentes tiveram ensinamentos.

"O livro De Onde Eles Vêm, para além da simples leitura e discussão, também proporcionou uma vivência que trouxe um espaço de humanidade através da educação. Esse foi um dos maiores legados que o projeto deixou", reforçou o psicólogo.

A assistente técnica estadual do programa Fazendo Justiça no eixo socioeducativo e representante do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Raquel Amarantes, destacou a importância da parceria e do envolvimento de todos.

"É perceptível o compromisso dos profissionais da Fasepa e da unidade com o projeto, eles assumiram com dedicação o clube da leitura e as ações educativas, e isso é fundamental para o engajamento e participação dos socioeducandos", afirmou Raquel Amarantes.

Ao longo do primeiro semestre, o "Cria das Letras" foi fortalecido na unidade, e se consolida como uma ferramenta para reflexão e mudança de concepção, acerca de assuntos com relevância social, o que permite aos socioeducandos e servidores, um diálogo respeitoso, sobre diversos temas.

A programação contou também com a presença da advogada da Fasepa, Anne Sousa. Ela disse que a Fasepa tem se empenhado, por meio do Grupo de Trabalho (GT) da Diversidade, em desenvolver iniciativas com foco no letramento racial.

Segundo Anne, o livro trabalhado no primeiro ciclo do Clube da Leitura contribuiu para a conscientização e reflexão sobre as questões raciais. Um jovem socioeducando, de 15 anos, expressou o impacto pessoal do projeto, relacionando a obra com sua própria experiência de enfrentar o preconceito.

"É bom participar do Clube da Leitura, tenho gostado dos livros. Esse livro escolhido, por exemplo, fala de raça, de preconceito, e eu sou preto. Minha mãe sempre me falou que eu devia me respeitar e me conhecer, me pedia para ignorar o preconceito, para não me importar com o que falavam de mim", disse o adolescente socioeducando. 

Texto de Dani Valente / Ascom Fasepa