Março Azul: Ophir Loyola assiste 300 pacientes com câncer de intestino
Hábitos de vida contribuem para o desenvolvimento da doença em pessoas com menos de 50 anos
O câncer colorretal, também conhecido como câncer de intestino grosso, engloba tumores localizados no cólon e reto e é considerado um dos mais comuns no Brasil e no mundo, com uma incidência significativa e impacto na saúde pública. A cada ano, aproximadamente um milhão de novos casos são diagnosticados em todo o mundo, resultando em cerca de 500 mil óbitos devido à doença, que representa um sério desafio para a saúde pública.
A neoplasia maligna tem apresentado um aumento expressivo em indivíduos com menos de 50 anos, especialmente em países desenvolvidos como Nova Zelândia e Reino Unido, além do Chile e Porto Rico, com um crescimento mais acentuado entre pessoas com menos de 30 anos, com taxas anuais de aumento entre 3% e 4%.
O estudante Lucas Brito foi diagnosticado com câncer colorretal aos 24 anos. "Sentia constipação e dores abdominais, mas a tomografia não indicou nada. Somente após a colonoscopia recebi o diagnóstico. No Hospital Ophir Loyola, passei pelo tratamento cirúrgico e não precisei de quimioterapia, graças ao diagnóstico precoce. Precisamos perder a timidez. Sei que os exames são invasivos, mas, graças a eles, consegui evitar complicações graves", afirmou Brito.
A tendência global exige atenção para fatores de risco, como dieta inadequada, obesidade, tabagismo e falta de atividade física. O diagnóstico precoce e exames regulares são recomendados para identificar alterações antes que se tornem malignas. A doença quase sempre se desenvolve a partir de pólipos, que são lesões benignas que crescem na parede do intestino. A remoção precoce desses pólipos previne o desenvolvimento de câncer.
Coordenador do Departamento de Cirurgia Abdominopélvica do Hospital Ophir Loyola (HOL), o professor doutor Paulo Soares aponta que diversas sociedades médicas, cirúrgicas e oncológicas atualizam regularmente as recomendações para triagem para esse tipo de câncer. “Entre as opções de testes disponíveis, destacam-se o teste de fezes baseado em guaiaco (pesquisa de sangue oculto nas fezes - PSOF), sigmoidoscopia, colonoscopia e colografia. Estudos demonstraram a eficácia dessas abordagens na população em geral, especialmente quando combinadas, com destaque para com o uso do teste de guaiaco e da sigmoidoscopia”, afirmou.
O câncer de intestino, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), é um dos mais predominantes no País. Para cada ano do triênio 2023 a 2025, o Instituto estimou 45.630 casos novos, correspondendo a um risco estimado de 21,10 casos por 100 mil habitantes. Conforme os dados, a doença é mais prevalente entre as mulheres, com um risco estimado de 23.660 casos e 21.970 casos entre os homens.
O Inca estima a ocorrência de 7,78 casos de câncer colorretal para cada 100 mil habitantes na Região Norte, configurando-se como a quarta posição entre os cânceres mais incidentes na região. Em Belém, o HOL atende 301 pacientes com a doença.
Paulo Soares adverte que o câncer colorretal é muitas vezes evitável por meio de mudanças no estilo de vida e rastreamento programado em populações de risco. “A conscientização sobre os fatores de risco e a importância da prevenção são fundamentais para reduzir a mortalidade associada a esse tipo de câncer. A detecção precoce é imprescindível e facilmente constatável, por meio de exames de sangue oculto nas fezes e a colonoscopia, ofertada pelo Sistema Único de Saúde para grupos de risco”, ressaltou.
"O câncer colorretal é uma doença prevenível. A identificação de grupos de risco e alto risco, como pacientes com histórico familiar ou pessoal de câncer colorretal, adenomas, síndromes genéticas e aqueles com histórico pessoal de doença inflamatória intestinal, é importante para que a vigilância possa ser realizada em intervalos mais frequentes do que no indivíduo de risco médio cujo único fator de determinante é a idade", disse o especialista.
Conforme o médico, as recomendações atuais da Sociedade Americana de Câncer (ACS) para o rastreio de câncer colorretal para homens e mulheres de risco médio com 50 anos ou mais incluem 5 opções: (1) um teste anual de sangue oculto nas fezes; (2) sigmoidoscopia flexível a cada 5 anos; (3) pesquisa de sangue oculto anual mais sigmoidoscopia flexível a cada 5 anos; (4) enema opaco de contraste duplo a cada cinco anos; ou (5) colonoscopia a cada 10 anos. A ACS considera a combinação de sigmoidoscopia flexível com pesquisa de sangue oculto uma escolha melhor do que PSO ou sigmoidoscopia flexível isoladamente.
Uma área que está sendo avaliada como uma ferramenta de triagem potencial é a detecção de marcadores moleculares nas fezes de pacientes. “Pesquisas relataram a viabilidade de um ensaio de fezes baseado em DNA multialvo. Um ensaio específico teve como alvo os genes K-ras, APC, p53, Bat 26 e o DNA longo ou de alto peso molecular. Em 61 amostras de fezes analisadas, a sensibilidade foi de 91% para câncer e 82% para grandes adenomas. A especificidade foi de 93%, o que pode representar um avanço na detecção precoce dessa neoplasia”, ressaltou o médico e pesquisador.
"A população precisa compreender que o câncer colorretal é uma doença que pode ser facilmente diagnosticada. Indivíduos a partir dos 45 a 50 anos devem realizar o rastreamento, especialmente aqueles que preenchem os critérios de rastreabilidade, como os sedentários e os obesos. Além disso, o tabagismo e o alcoolismo são fatores amplamente conhecidos na oncologia e também estão diretamente relacionados ao surgimento desse câncer", ponderou o oncologista.
Para reduzir o risco de desenvolver a doença, Soares também orienta aumentar o consumo de frutas, vegetais, grãos integrais e fibras; a prática de atividade física regular e a realização de exames de rastreamento para pessoas com fatores de risco.
Entre os sintomas mais comuns da doença, destacam-se as alterações nos hábitos intestinais, anemia, melena (fezes negras), hematoquezia (presença de sangue vermelho vivo nas fezes), tenesmo (vontade de evacuar que não cessa após defecar), massa abdominal palpável, dispepsia (tumores do cólon direito) e dor ou desconforto abdominal. A perda de peso está mais associada a tumores avançados. “O câncer colorretal pode ser silencioso na fase inicial, portanto é necessário prestar atenção aos sinais e em caso de anormalidades intestinais, um médico deverá ser consultado. Caso o câncer seja detectado de forma precoce, as chances de cura podem chegar a 90%”, concluiu o oncologista.