Projeto desenvolvido no PCT Guamá leva internet às comunidades tradicionais no Pará
Iniciativa quer garantir a inclusão digital em comunidades extrativistas

O quilombola José Maciel decidiu estudar Engenharia de Telecomunicações na universidade, após conhecer o projeto Telefonia Celular Comunitária (Celcom), uma iniciativa do Parque de Ciência e Tecnologia (PCT) Guamá. Desenvolvido pelo Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações, Automação e Eletrônica (Lasse), laboratório da Universidade Federal do Pará (UFPA), o projeto ampliou o acesso à tecnologia na comunidade em que vive José Maciel.
“O projeto abriu muitas mentes no nosso quilombo, pois não tínhamos acesso à internet e a outras tecnologias. Ele nos trouxe conhecimento. A população aprendeu sobre tecnologia e como utilizá-la para beneficiar a comunidade”, afirma José Maciel.

Benefícios para a educação
Em 2024, um provedor de internet via satélite foi instalado na comunidade quilombola Campo Verde, localizada no município de Concórdia do Pará, beneficiando mais de 500 moradores. Antes, os habitantes precisavam se deslocar até a área urbana para acessar a internet. Com a conexão, a Escola Municipal Quilombola Campo Verde foi diretamente beneficiada. Professores e alunos passaram a acessar a plataforma municipal de matrículas, melhoraram os processos administrativos e tiveram mais facilidade para inscrever estudantes em processos seletivos para o ensino superior.
“Temos turmas da educação infantil ao ensino médio, atendendo 397 alunos e mais sete escolas anexas. Estamos a 40 quilômetros do centro da cidade, e a internet nos ajuda a acessar nosso sistema, e-mails e realizar pesquisas para as atividades”, explica Alice Maciel, diretora da escola.
Conectividade e inclusão
O Celcom visa combater a exclusão digital em comunidades extrativistas, especialmente na Amazônia, fornecendo acesso às tecnologias de informação e comunicação. A iniciativa busca oferecer infraestrutura de internet que melhore a qualidade de vida das populações tradicionais.

“Levar telefonia celular para comunidades sem cobertura é um desafio antigo. Pesquisamos soluções há 15 anos, mas ainda não superamos as dificuldades de manter o serviço funcionando de forma sustentável. A internet se tornou um direito universal e garante cidadania. É essencial que academia e governo se unam para incluir todos e transformar a Amazônia em uma região conectada”, afirma Adelbaro Klautau, pesquisador e coordenador do Lasse.
O coordenador destaca que o projeto gerou novos conhecimentos sobre redes privativas e levantou questões como a necessidade de maior suporte público para telefonia comunitária, mudanças na legislação para alinhar tecnologia e governabilidade e formas mais sustentáveis de oferecer conectividade. Além disso, ampliou a visão dos estudantes sobre o impacto da tecnologia em comunidades remotas.
“Muitos laboratórios de pesquisa focam em desenvolver tecnologia para grandes centros urbanos. Tentamos mostrar aos nossos alunos a importância de pensar em soluções para regiões como a Amazônia”, ressalta Klautau.

O trabalho no quilombo, realizado entre 2023 e 2024, foi financiado pelo Instituto Clima e Sociedade (ICS), organização que apoia o desenvolvimento de pesquisas técnicas e científicas.
Doação para desenvolvimento
Com a conclusão do projeto no quilombo Campo Verde, em março de 2024, o diretor-presidente João Weyl e o diretor administrativo-financeiro Danilo Cosenza, da Fundação Guamá, formalizaram a doação do provedor de internet à comunidade.
“A tecnologia desenvolvida pelo Lasse, baseada em conexão via satélite, foi entregue com todo o equipamento. Isso garante a continuidade do projeto, que agora está plenamente apropriado pela comunidade. Além disso, a experiência pode ser replicada em diversas outras localidades, cumprindo o propósito do laboratório no PCT Guamá”, enfatiza João Weyl.
Toda a estrutura instalada na comunidade contará com o apoio da prefeitura municipal de Concórdia do Pará para continuar operando.
“Esse projeto foi essencial para uma comunidade quilombola, que tem pouco acesso à tecnologia. Ficamos felizes em saber que contamos com parceiros que levaram essa iniciativa até lá”, afirma a prefeita Elisângela Paiva.
Nos últimos anos, outras comunidades paraenses também foram atendidas pelo Celcom. Em 2017, o Governo do Estado, por meio da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Educação Profissional e Tecnológica (Sectet), apoiou a implantação de dois projetos-piloto em comunidades isoladas. Agora, o Lasse busca novos recursos para dar continuidade a suas atividades e expandir a conectividade na região.