Transformando a dor num legado de esperança e renovação da vida
O ato de doar é uma escolha que transcende a perda, cria um elo de esperança que ultrapassa o tempo e as circunstâncias, conectando vidas de maneira profunda e significativa
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A perda de um ente querido é uma dor indescritível, mas, em meio ao luto, pode surgir uma oportunidade de esperança para quem aguarda um transplante. No Hospital Ophir Loyola (HOL), esse processo é conduzido com sensibilidade pela Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (Cihdott), que orienta e acolhe as famílias, transformando a dor em um gesto de solidariedade e amor ao próximo.
Mais do que a logística da doação, a Cihdott se destaca pela abordagem humanizada. Sob a liderança do médico Jair Graim, a equipe atua 24 horas por dia, prestando apoio ético e respeitoso às famílias. “Nosso trabalho começa quando a família recebe a notícia da morte encefálica de um ente querido. Para além da medicina, ouvimos, acolhemos e oferecemos suporte. A doação de órgãos é um ato de amor que salva vidas”, afirma Graim.
A Comissão é responsável por organizar o hospital para a identificação de possíveis doadores, conforme a legislação vigente. O processo envolve a busca ativa por potenciais doadores dentro do hospital e a comunicação com os familiares. “Nosso papel é facilitar toda a jornada da doação, captação e transplante. Após a confirmação da possibilidade de doação, conversamos com a família para informar sobre a importância desse ato”, explica Graim.
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Sensibilidade no acolhimento às famílias
O diálogo com os familiares exige cuidado e empatia. Segundo a psicóloga Renata Kós, a decisão deve ser tomada em um momento de extrema fragilidade, o que torna o apoio psicológico essencial. “O luto é uma experiência profunda e única. Muitas vezes, a família percebe que a doação pode dar continuidade à vida e salvar outras pessoas. Isso traz conforto e ameniza, ainda que um pouco, a dor da perda”, ressalta.
Os órgãos e tecidos de doadores falecidos ou vivos são utilizados para restaurar funções comprometidas, possibilitando qualidade de vida aos pacientes transplantados. Campanhas de conscientização e a divulgação midiática são fundamentais para sensibilizar mais pessoas sobre a importância da doação. No HOL, a taxa de recusa na autorização para doação caiu de 73% em 2022 para 64% em 2025, um avanço significativo.
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Um gesto de solidariedade que salva vidas
Cada doação representa não apenas uma nova chance para os receptores, mas também uma homenagem àqueles que partiram. Foi essa motivação que levou o mototaxista Edilson Pinheiro, de 55 anos, e sua esposa, Marina Amorim, de 49, a autorizarem a captação dos órgãos da filha, Maria Eduarda, de 17 anos. No dia 7 de fevereiro, a jovem sofreu um rompimento de aneurisma cerebral durante um esforço físico na academia. “Naquele dia, acordamos indispostos e achamos que era virose. Minha filha sentia uma leve dor de cabeça, que associamos ao ciclo menstrual. Ela tomou um remédio e decidiu ir à academia. Minha esposa até sugeriu que não fosse, mas ela insistiu. Antes de sair, dei um beijo na testa dela. De alguma forma, sentimos que algo aconteceria”, relembra Edilson.
Apesar da dor, a família optou pela solidariedade. Rins, fígado e córneas foram coletados pela equipe do HOL e encaminhados à Central Estadual de Transplantes (CET), responsável por identificar receptores compatíveis. Como homenagem à doadora e em sinal de respeito à família, a equipe do hospital formou um corredor para sua despedida, um gesto de gratidão pela escolha de permitir que a vida continuasse para outras pessoas.
Serviço:
Para se tornar um doador de órgãos e tecidos, é fundamental comunicar a decisão à família. Conforme a legislação brasileira, a remoção dos órgãos para doação só pode ocorrer com a autorização dos familiares, após a confirmação da morte encefálica do doador (quando há perda total e irreversível das funções cerebrais). Nesse estágio, os órgãos permanecem viáveis para transplante. Além disso, é importante destacar que pessoas vivas também podem realizar doações, mas exclusivamente de órgãos que não comprometam as funções vitais após o procedimento.