Usuários do CIIR com autismo celebram a aprovação no vestibular da UFPA
Famílias ressaltam a importância do suporte profissional oferecido aos novos calouros na trajetória de inclusão e superação
Três jovens autistas, assistidos pelo Centro Integrado de Inclusão e Reabilitação (CIIR), em Belém, tiveram suas vidas transformadas ao serem aprovados no vestibular da Universidade Federal do Pará (UFPA, cujo resultado foi divulgado no dia 24 de janeiro. A vitória foi compartilhada com equipe multiprofissional da instituição no atendimento do Transtorno do Espectro Autista (TEA), onde tiveram suporte oferecido pelo atendimento especializado que impacta positivamente no desenvolvimento pessoal e acadêmico.
Os jovens recebem assistência de média e alta complexidade no CIIR e no Centro Especializado em Transtorno do Espectro Autista (Cetea), administrado pelo Centro de Reabilitação, que oferecem psicoterapia, neurologista, psiquiatra e outras terapias - como Treino de Habilidades Sociais, mecanoterapia, esportes adaptados, além das oficinas de Arte e Cultura.
São três histórias diferentes, mas com algo em comum: a superação de barreiras. Rafael Antoni Negrão de Almeida, 18 anos, é assistido pelo CIIR desde os 13 anos. Ele foi aprovado para a única vaga ofertada para Pessoas com Deficiência (PcD) no curso de Artes Visuais e mora no bairro do Coqueiro, em Ananindeua. Segundo a mãe, Vânia Negrão de Almeida, 47 anos, o calouro da UFPA é atendido pelo CIIR desde 2019, participando de várias atividades como psicologia, mecanoterapia, esporte adaptado, além das oficinas de Arte e Cultura.
Gratidão - “A psicologia e o setor de Arte e Cultura desempenharam um papel fundamental em sua aprovação. O CIIR foi uma ferramenta crucial nesse processo, com as oficinas de Arte e Cultura, especialmente as aulas de música com o professor André, e de Artes Visuais com o professor Eduardo, que despertaram seu interesse pela licenciatura e foram um grande incentivo para ele. Só gratidão!”
Sem esconder o orgulho pela vitória de Rafael, o professor de Artes Visuais do CIIR, Eduardo Oliveira, relembra que ele começou nas atividades de Arte e Cultura em 2019 e permaneceu até 2022. “A sensação que tenho é de dever cumprido, de muita felicidade. “Me sinto verdadeiramente honrado por ser uma referência para ele. E, claro, nada disso seria possível sem o apoio fundamental da equipe do CIIR, especialmente dos pais, que sempre o incentivaram ao longo dessa jornada. Estou extremamente feliz".
Brenda - Aos 17 anos, Brenda Fernanda recebe atendimento no Cetea há quase um ano, foi aprovada no curso de Direito já na primeira vez que prestou vestibular. Segundo a mãe da caloura, Elaine Valente, 38 anos, no Cetea ela é assistida, semanalmente, pelo Treino de Habilidades Sociais e Psicoterapia, por meio de uma equipe multiprofissional, entre eles a psicóloga Raissa Campos.
“Aqui no Cetea, a Brenda recebeu muito apoio de todos os profissionais, especialmente na Psicoterapia, onde, além das terapias, ela também passa por consultas com o neurologista e o psiquiatra. Nesse contexto, o CIIR teve um papel fundamental, pois contribuiu para que minha filha tivesse acesso às terapias oferecidas pelo Cetea, por meio de encaminhamento”, destacou a dona de casa.
Ela complementa que o apoio de toda a equipe do Cetea foi essencial, tendo em vista que os profissionais fortaleceram a confiança de sua filha para não desistir e a incentivaram a ser persistente. “Isso fez com que ela passasse a acreditar em seu potencial. Por isso, recebemos todo o suporte do Cetea. Só tenho a agradecer: primeiramente a Deus, à minha família e aos amigos, que sempre a incentivaram e apoiaram; em segundo lugar, à escola Dom Pedro I e aos profissionais de apoio da escola. Por fim, agradeço à equipe do Cetea por todo o cuidado, suporte e incentivo, que foram essenciais para essa grande conquista”, concluiu a mãe de Brenda.
Pedro - Pedro Lucas China, 20 anos, assistido inicialmente pelo CIIR quando tinha 14 anos, em 2018, hoje é atendido pelo Cetea e conquistou aprovação no curso de Pedagogia. Essa é sua segunda graduação, já que ele também é acadêmico de Educação Física em uma universidade particular, onde ingressou por meio do Programa Universidade Para Todos (ProUni).
Mãe do vestibulando, Ana China, aposentada de 64 anos, relata que atualmente o filho recebe atendimento no Cetea em psicoterapia, terapia ocupacional e acompanhamento psicológico. “Toda a equipe foi essencial para que ele alcançasse essa conquista e desenvolvesse suas habilidades. Ele tem progredido muito com os atendimentos e não falta a nenhuma sessão, o que tem sido fundamental para seu crescimento. Agradeço imensamente aos profissionais do Cetea pelo apoio ao meu filho e às famílias com filhos atípicos. Desde os 14 anos, o acompanhamento tem sido decisivo para que ele se inclua na sociedade e avance em sua trajetória. Somos muito gratos pelo impacto positivo que o CIIR e Cetea trouxeram para nossas vidas”.
Suporte - Raissa Campos, psicóloga integrante da equipe responsável pela aplicação do Treino de Habilidades Sociais aos dois usuários do Cetea, contou que eles fazem sessões semanais para desenvolver a interação social, organização e equilíbrio entre estudo e lazer.
"A Brenda, que fez vestibular pela primeira vez, compartilhou conosco todo o processo, desde a preparação até as expectativas e resultados. O Pedro, já universitário, nos relatava sua experiência acadêmica e o desejo de mudar de curso, o que também acompanhamos com planejamento e suporte”, destaca.
De acordo com ela, o treino de habilidades sociais aborda o gerenciamento pessoal, a interação social e a descoberta vocacional, ajudando-os a identificar e desenvolver potencialidades, enquanto se trabalha a superação de dificuldades.
"Usamos dinâmicas lúdicas, rodas de conversa e outras atividades estruturadas para promover esse crescimento", relata, para manifestar seu contentamento com a aprovação de ambos.
“Ver os nomes deles no listão de aprovados na UFPA foi extremamente gratificante, uma vitória deles que também sentimos como nossa. No Cetea, acreditamos em seu potencial e reforçamos que o autismo é uma condição que não os impede de realizar sonhos e alcançar objetivos”, frisa Raissa, ao parabenizar Brenda, Pedro, seus familiares e professores, destacando a importância da inclusão por meio da educação.
“Espero que essas conquistas se multipliquem e que mais jovens e adultos tenham acesso ao serviço único que o CIIR e o Cetea oferecem, promovendo um futuro cheio de realizações”.
Equipe - Sem esconder a satisfação pelas histórias de superação dos usuários do CIIR e Cetea, a diretora Executiva do Centro de Reabilitação, Rejane Xavier, destacou a importância do trabalho conjunto da equipe multiprofissional, que não mede esforços para o desenvolvimento dos usuários atendidos.
“Estamos muito orgulhosos das conquistas dos nossos usuários. O sucesso no vestibular da UFPA é reflexo do comprometimento da nossa equipe e do apoio contínuo oferecido a esses jovens. Nosso objetivo sempre foi fornecer as ferramentas necessárias para que pudessem superar suas dificuldades e alcançar seus sonhos”.
A gestora complementou ainda que os resultados evidenciam que, com o suporte adequado, pessoas com TEA podem ir muito além do que imaginam.
"Continuaremos oferecendo um atendimento de qualidade, para que mais pessoas avancem em sua inclusão e ocupem seu lugar de direito em todos os âmbitos da sociedade”.
O Centro Integrado de Inclusão e Reabilitação é referência no Pará na assistência de média e alta complexidade a Pessoas com Deficiência (PcDs) visual, física, auditiva e intelectual. Os usuários podem ter acesso aos serviços do Centro por meio de encaminhamento das unidades de saúde, acolhidos pela Central de Regulação de cada município, que, por sua vez, encaminha à Regulação Estadual. O pedido será analisado conforme o perfil do usuário pelo Sistema de Regulação Estadual (SER).
Serviço: O CIIR é um órgão do Governo do Pará, administrado pelo Instituto Nacional de Desenvolvimento Social e Humano (INDSH), em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa).
Texto: Vera Rojas, com informações de Tarcísio Barbosa (Ascom / CIIR)