Ações de conscientização reforçam a prevenção de acidentes com escalpelamento
Faltam apenas dez dias para o Círio de Nazaré. Com a proximidade da festa religiosa, o Comitê Estadual de Erradicação dos Acidentes com Escalpelamento intensifica as ações de conscientização e prevenção para evitar novos acidentes com motor. Esta semana, cartazes e demais tipos de materiais informativos, como folders e cartilhas, já começaram a ser distribuídos aos municípios das cinco regiões que mais apresentam reincidência neste tipo de acidente (Marajó, Baixo Amazonas, Xingu, Baixo Tocantins e Região das Ilhas, em Belém). Cerca de 80 mil informativos serão distribuídos. Somente este ano, oito casos foram registrados até o mês de agosto.
A coordenadora de Mobilização Social da Secretaria Estadual de Saúde Pública, Socorro Silva, explica que no interior o trabalho será intensificado em parceria com os comitês municipais, que conduzirão a distribuição desse material em pontos estratégicos das cidades, em portos e outros locais com grande fluxo de pessoas, sobretudo, de ribeirinhos, que são as principais vítimas do escalpelamento. Já em Belém, a ação inicia na próxima semana nos principais pontos de embarque e desembarque, entre eles, o Terminal Hidroviário, e os portos situados ao longo da Rodovia Bernardo Sayão.
O Arquipélago do Marajó novamente terá uma atenção especial nas ações. A ilha, composta por 16 municípios, historicamente apresenta o maior número de escalpelados. Segundo Socorro Silva, cerca de 50% dos casos acontece na região. “Além disso, a maioria das vítimas são mulheres e crianças”, informa. Com o envolvimento dos parceiros e a intensificação das ações de mobilização, o objetivo ao longo do ano é reduzir o número de acidentes em relação a 2014, quando 11 casos foram registrados, todos no segundo semestre. Um deles fez uma vítima fatal, em Muaná.
Além disso, os vídeos educativos já são exibidos durante a programação da TV Cultura do Pará. O material foi lançado no final de agosto, em culminância a I Semana Estadual de Prevenção e Combate aos Acidentes de Motor com Escalpelamento na Mobilidade Ribeirinha, quando foi lançada a campanha “Erradicar o escalpelamento: um compromisso de todos”. Como parte dessa mobilização, cinco vídeos sobre o tema foram produzidos, mostrando depoimentos das vítimas e de seus familiares. Com o material, a ideia é alcançar principalmente barqueiros e usuários das pequenas embarcações.
A Marinha Brasileira, por meio da Capitania dos Portos em Belém, também tem realizado ações de prevenção dos escalpelamentos. Eles abordam embarcações para a instalação de uma proteção de eixo metálica, que cobre totalmente a principal causa dos acidentes. Só em 2015 foram instalados 129 proteções de eixo, sendo que de 2009 até hoje foram mais de 3.600 peças instaladas.
“Os rios representam uma área muito grande no Pará. A gente não tem como estar em todos os lugares ao mesmo tempo, pois são milhares de quilômetros de rio, mas temos feito o possível desde 2009. Instalamos as proteções de eixo e atendemos as comunidades com orientações e serviços básicos gratuitos. Os municípios também podem entrar em contato conosco para levar as nossas ações de lá como atendimento médico, registro de embarcações, orientações para a comunidade, além das coberturas de eixo. Em breve estaremos no município de Ponta de Pedras para levar estas ações”, explica o comandante Carvalho Neto.
Alerta - “Nos períodos de férias escolares e de festas, principalmente do Círio e do final de ano, são quando esses casos são mais registrados, porque é quando existe uma maior movimentação para a capital ou mesmo para as sedes municipais. Este ano, por exemplo, dos oito casos registrados, cinco foram somente em julho, outros dois em junho e um em agosto. Além disso, este ano registramos o primeiro caso da região do Capim, que até então nunca havia tido este tipo de acidente. Daí a importância de reforçarmos as ações, sobretudo, nestes períodos”, observa Socorro Silva.
Outro alerta é o alto índice de crianças vítimas de escalpelamento. A enfermeira Socorro Ruivo, coordenadora do Programa de Assistência Integral às Vítimas de Escalpelamento (Paives), informa que cerca de 70% dos casos registrados envolvem crianças. Este ano, por exemplo, foram três crianças, sendo um menino. As outras vítimas eram mulheres adultas. “Dos oito escalpelamentos, apenas três foram parciais, e destes três, dois foram com exposição óssea. Ou seja, praticamente todos de alta gravidade, com os procedimentos cirúrgicos mais demorados. Apenas uma criança recebeu alta após uma semana”, informa.
Referência – Ruivo destaca, ainda, que todas as ocorrências foram atendidas pela equipe da Santa Casa de Misericórdia, que há nove anos tem sido a maior referência no atendimento às vítimas de escalpelamento no Estado. O hospital dispõe de três cirurgiões plásticos voltados especialmente ao tratamento de escalpelados. Além disso, pediatras, clínicos e uma equipe multidisciplinar também são mobilizadas para o atendimento às vítimas. No fluxo normal, a enfermeira explica que a Santa Casa deve ser o terceiro local ao qual a vítima deve ser encaminhada, já para receber os procedimentos cirúrgicos.
“O ideal é que a vítima receba o primeiro atendimento ainda no município, para que seja feito ao menos um curativo no local. O segundo passo, caso esse município não disponha de um hospital de urgência e emergência, é justamente encaminhar essa pessoa para um pronto socorro, para que o quadro seja totalmente estabilizado. Na Santa Casa, ela deve iniciar o tratamento propriamente dito. Neste período, ela recebe alta do hospital, mas em tratamentos longos também contam com o apoio do Espaço Acolher. Daí a importância de toda a rede funcionar”, afirma a enfermeira.
Mantido pelo Governo do Estado, o espaço funciona como uma casa na qual as pacientes podem se hospedar durante o período de longo tratamento. A coordenadora do local, Maria Luzia Matos, explica que lá as mulheres recebem o apoio de profissionais de psicologia e serviço social, além de participarem de vários cursos, como informática. Outro grande diferencial é que existem professores da Secretaria de Educação de Estado (Seduc), que são responsáveis por dar as aulas necessárias para a conclusão do ensino fundamental e médio.
Fique por dentro de algumas orientações para evitar acidentes
- Manter os cabelos totalmente presos, em forma de “coque/pitó”, e não em forma de “rabo de cavalo”, e preferencialmente cobertos com bonés;
- Não se aproximar do eixo da embarcação, mesmo que ele esteja coberto, seja para tirar água ou para apanhar algum objeto;
- Deixe para resgatar objetos quando a embarcação estiver totalmente parada e com o motor completamente desligado;
- Cobrar do barqueiro a cobertura do eixo e do poder público local a fiscalização;
- Tenha sempre muito cuidado com colares, cordões ou panos de pescoço, pois muitos acidentes acontecem quando eles se prendem ao motor;
- Não armar rede perto do motor, para evitar o risco de acidentes.
Como agir em caso de acidente?
- Não coloque remédio ou qualquer outra coisa no ferimento
- Cubra a área lesionada com um pano limpo;
- Leve a vítima ao hospital ou unidade mais próxima
(Com informações de Diego Andrade - Secom)