Pará atinge em 2024 a marca de 700 córneas doadas
O Estado, que mantém o Banco de Tecido Ocular no Hospital Ophir Loyola, saiu da penúltima posição para a 11ª posição entre os 24 estados que realizam esse tipo de transplante
Para aqueles que aguardam na fila por um transplante de córnea, o momento mais esperado é a notificação de que o tecido ocular está disponível. A solidariedade de um doador pode transformar vidas, a exemplo da história de Eronilda Marcelino, 72 anos, que após receber o transplante recuperou a visão e voltou à rotina diária. Hoje, ela consegue realizar as tarefas domésticas com facilidade, e retomou a prática da costura. Agora, busca incentivar outros doadores.
“Antes era um sofrimento muito grande. Eu estava acostumada a ver, fazer tudo. Eu quero incentivar as pessoas para que sejam doadoras, independente do órgão, porque se hoje eu estou enxergando, foi porque eu ‘ganhei’ uma córnea de outra pessoa. A minha cirurgia foi muito bem sucedida, graças a Deus. Depois que eu fiz a cirurgia só veio felicidade para mim, porque eu pude enxergar maravilhosamente bem. Hoje, eu faço tudo o que uma dona de casa faz. Lavo, passo, cozinho, cuido da minha netinha, costuro, saio e resolvo tudo”, contou.
Eronilda Marcelino está entre os beneficiados pela doação de 350 córneas captadas no Pará no período de janeiro a 26 de dezembro deste ano. Considerando a bilateralidade dos olhos, são 700 córneas doadas. Esse número já superou o recorde anterior, de 346 doações (692 córneas), registrado em 2023, conforme dados do Banco de Tecido Ocular (BTO) do Hospital Ophir Loyola (HOL), em Belém.Banco de Tecido Ocular recebe doações, que devolvem a visão a centenas de pessoas
A marca fez o Pará sair da penúltima posição no ranking nacional e subir para o 11º lugar entre os 24 estados que realizam esse tipo de transplante, com 4,3 doadores por milhão de habitantes, segundo levantamento divulgado pela Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO).
Sensibilização - Segundo o responsável técnico pelo BTO do "Ophir Loyola", oftalmologista Alan Costa, o aumento crescente de doações é justificado pelo avanço nas ações de promoção e sensibilização, e pelos acordos de cooperação técnica firmados entre o Hospital, o Instituto de Medicina e Odontologia Legal (Imol) e o Serviço de Verificação de Óbitos (SVO), da Polícia Científica do Pará (PCEPA), sob a coordenação da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa).
Oftalmologista Alan Costa, responsável técnico pelo BTO“O BTO tem uma extensão que funciona dentro do Centro de Perícia Científica, onde a nossa equipe se faz presente verificando potenciais doadores, tanto no Instituto de Medicina Legal por Mortes Acidentais, como também no Serviço de Verificação de Óbito. Nós percebemos, em um futuro próximo, um cenário otimista, em que a gente consiga realmente manter esses avanços e parcerias, e avançar no processo de doação”, destacou.
O médico Alan Costa ressaltou ainda que, graças a avanços significativos, o tempo de espera para uma doação de córnea foi drasticamente reduzido. “Se antes o paciente precisava aguardar até cinco anos, hoje essa espera foi encurtada para menos de 12 meses, proporcionando mais rapidez e esperança para aqueles que dependem dessa cirurgia para melhorar a qualidade de vida e recuperar a visão”, informou o especialista.
Como doar? - A doação pode ser realizada por quem for a óbito, entre 2 até 72 anos. Há critérios específicos de exclusão, como pacientes portadores de HIV e dos vírus causadores de Covid-19 e hepatites B e C. Os tecidos oculares podem ser retirados até seis horas após o óbito.
Preservadas, as córneas têm até 14 dias para serem implantadas em um receptor. Para fazer a doação, a família pode entrar em contato com o Banco de Tecido Ocular pelos telefones (91) 3265-6759 e (91) 98886-8159 ou com a Central Estadual de Transplantes (CET), pelo telefone (91) 97400-6456.
Texto: David Martinez, sob supervisão de Leila Cruz - Ascom/HOL