Projeto destaca Belém como Centro de Gastronomia e Biodiversidade
Uma exposição no Espaço Cultural Casa das Onze Janelas, em Belém, marcou a apresentação do projeto que vai os sabores e saberes do Pará. O Centro Global de Gastronomia e Biodiversidade na Amazônia será implantado ao longo dos próximos dois anos, no complexo Feliz Lusitânia, contemplando espaços para divulgação, pesquisa e construção do conhecimento gastronômico. A vernissage foi nesta quinta-feira, 15, e contou com a presença do governador Simão Jatene, do secretário de Cultura, Paulo Chaves, do prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho, e convidados.
“A partir de hoje, um grupo de instituições nacionais passará a se articular no esforço de transformar Belém em um Centro Global de Gastronomia, por várias razões. Belém tem um elemento determinante e fundamental para isso, que é a gastronomia que melhor representa o Brasil, com características bem peculiares e uma variedade ímpar de ingredientes. Esse conjunto de coisas colabora para o sucesso dessa iniciativa, que faz uma articulação entre gastronomia, sustentabilidade e meio ambiente”, destacou o governador Simão Jatene.
Ainda em seu discurso, o governador falou sobre os desafios e a ousadia de implementar projetos como este no Estado, relembrando o caso da Feira do Livro. “As primeiras vezes que falamos em Feira do Livro na Amazônia alguns disseram que não tinha chance de dar certo, porque as pessoas não gostavam de ler. E foi a coragem para ousar que nos levou, mesmo sob críticas, a transformar esse evento em algo muito maior que uma Feira, em uma celebração da nossa cultura. E é o mesmo princípio que nos move agora. Eu não tenho dúvida que esse projeto tem tudo para dar certo”, afirmou o governador.
O Centro prevê uma estrutura com escola de gastronomia, laboratório de alimentos, barco-cozinha, museu e restaurante. “Com esse projeto o Feliz Lusitânia cresce como um todo, em espaço físico e conhecimento. A gastronomia o enriquece, até mesmo porque está prevista uma interação com a população ribeirinha, por meio de um barco-escola que também ajudará a impulsionar o turismo gastronômico. Eu acredito que essa iniciativa tem tudo para dar certo não só pela condição histórica de seu núcleo inaugural, pois Belém nasceu aqui, mas por tudo o que tem para oferecer em termos de biodiversidade”, ressaltou o Secretário de Cultura, Paulo Chaves.
Com o início das atividades, Belém poderá oferecer ao púbico nacional e internacional um ambiente propício à realização de trabalhos sobre gastronomia e biodiversidade em diversas dimensões, como pesquisa, ensino, formação, fomento econômico, divulgação turística e cultural, entre outros, além de influenciar no cenário internacional com tendências que têm suas raízes na experiência e aprendizado amazônicos.
“Belém tem uma referência histórica e cultural muito grande, além de ser a porta de entrada da Amazônia. Nossas riquezas também precisam gerar tecnologia e inovação, senão acaba acontecendo o que eu chamo de extrativismo do ingrediente, que não agrega valor aqui. Isso só acontece se nós compartilharmos o conhecimento e formarmos profissionais que liderem essas tendências, como forma de trazer um retorno para a região”, afirmou o gastrônomo e ambientalista Roberto Smeraldi, vice-presidente do instituto Atá.
A proposta foi apresentada ao Governo do Pará e à Prefeitura de Belém por um conjunto de organizações da sociedade civil, lideradas pelo Instituto Paulo Martins (entidade que promove e divulga a gastronomia paraense e amazônica e que organiza anualmente o festival Ver-o-Peso), o instituto Atá (presidido pelo chef Alex Atala e principal instituição brasileira que trabalha a relação homem-alimento) e o Centro de Empreendedorismo da Amazônia (fundado em 2015 com o objetivo de estimular negócios sustentáveis e inovação na região).
Projeto contempla vários espaços e ações:
Food Lab – O laboratório estará à disposição da comunidade em geral, pequenas indústrias, chefs de cozinha e será equipado para análises físicas, químicas, microbiológicas e sensoriais. Suas atividades permitirão que os produtos da biodiversidade atendam padrões legais e sanitários, e também as demandas de comunidades e pequenos produtores.
Escola Superior sobre Gastronomia e Biodiversidade – A pós-graduação irá oferecer formação avançada sobre a interação biodiversidade-gastronomia. Os cursos terão vivência local com intensivos de campo em comunidades ribeirinhas, indígenas, caboclas, que passariam a ser parceiras do Centro. A escola será responsável ainda por uma plataforma virtual na web para interação com o público que não pode se deslocar para Belém.
Barco-Cozinha - Abrigará a cozinha móvel profissional tendo como base o píer da Casa das Onze Janela. A embarcação irá navegar em toda a bacia amazônica levando pesquisadores, estudantes ou turistas proporcionando experiências de estudo, trabalho ou lazer nas comunidades. Os roteiros turístico-gastronômicos serão guiados por chefs, que farão paradas em comunidades para conhecimento da produção e dos produtos.
Museu do Alimento da Amazônia – O espaço deverá apresentar os sabores marcantes da Amazônia a partir dos conceitos da ciência do alimento, do tradicional da Amazônia e sua diversidade, assim como uma evolução histórica no comer do homem local. O museu será dividido em duas seções: uma dedicada aos itinerários do gosto e às texturas, e outra nos saberes e sabores da região, sempre apresentados em paralelo com o conhecimento global e documentos históricos.
Restaurante da-Floresta-à-Mesa - Funcionará na Casa das Onze Janelas e tem como base o conceito “do campo à mesa”. Sua atividade seria diretamente articulada com fornecedores da agricultura familiar, pesca artesanal e da micro-indústria fomentados e credenciados, com produtos horti-pisci-granjeiros.
Sobre a exposição – A exposição “O Feliz Lusitânia cresce: o encontro entre a memória, a gastronomia e a biodiversidade” apresenta dois eixos. No primeiro, chamado “O Feliz Lusitânia cresce: o encontro entre a gastronomia e a biodiversidade”, o visitante será conduzido às memórias e história recente do Projeto Feliz Lusitânia, com ênfase na restauração das edificações do conjunto urbanístico em torno do Forte do Presépio e seus novos usos culturais e de lazer. Já no segundo, intitulado “História e patrimônio: gastronomia como elo entre a natureza e a cultura”, faz uma síntese da abordagem histórica sobre o valor cultural do alimento e da biodiversidade da Amazônia brasileira, especialmente no Pará e em Belém.
Ao longo da exposição, o Ver-o-Peso é revisitado, tanto pelo seu valor simbólico como patrimônio cultural imaterial da cidade, quanto pelas práticas de sociabilidade e por oferecer uma significativa amostra da biodiversidade amazônica que tem inspirado chefs renomados, como um laboratório experimental da gastronomia nacional e internacional. O cotidiano do mercado também é apresentado em um vídeo que integra a cenografia composta por objetos da feira exibidos na mostra itinerante sobre o Ver-o-Peso, realizada pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional do Pará (Iphan), em 2011.
A expografia é do secretário de Cultura, Paulo Chaves, de Rosângela Britto e de Emanuel Franco. A idealização é do pesquisador de gastronomia Roberto Smeraldi e concepção da Secretaria do Estado de Cultura (Secult) e Secretaria Extraordinária de Integração de Políticas Sociais (SEEIPS).
Serviço: A exposição “O Feliz Lusitânia cresce: o encontro entre a memória, a gastronomia e a biodiversidade” poderá ser visitada até o dia 15 de janeiro de 2016, no Espaço Cultural Casa das Onze Janelas, em Belém, sempre de terça a sexta-feira, das 10h às 18h, e aos sábados, domingos e feriados, de 10h as 14h. Às terças a entrada é gratuita e nos demais dias R$ 4 (inteira), com meia entrada para estudantes. Idosos (a partir de 60 anos); crianças até sete anos e portadores de deficiência não pagam. O público agendado pelo Sistema Integrado de Museus e Memoriais (SIM/Secult) também não paga. Mais informações: 4009-8845.