'Abelardo Santos' registra mais de 80% de casos de engasgo por objeto em crianças até 6 anos
Unidade do governo do Pará disponibiliza orientações sobre primeiros socorros aos pais, para prevenir e diminuir casos de engasgo infantil
"Casos de engasgo e broncoaspiração em crianças podem levar a complicações graves", alerta Salime Saraty, coordenadora da cirurgia pediátrica do Hospital Regional Dr. Abelardo Santos (HRAS), localizado no Distrito de Icoaraci, em Belém. Conforme a médica, até setembro deste ano, a unidade registrou 166 ocorrências do tipo, sendo que, desse total, 84% das vítimas tinham menos de 6 anos.
Durante o ano de 2023, o maior hospital público do Estado, referência no atendimento infantil, registrou 246 casos de engasgamento em crianças, média de 20 por mês. Esses números correspondem a um caso por dia, exceto nos fins de semana. Ainda segundo a especialista, os mais jovens são especialmente vulneráveis, pois estão em fase de descoberta de alimentos e objetos, muitas vezes levando-os à boca.
Salime destaca que os objetos mais comuns em casos de engasgamento são moedas, chaves, pregos, baterias de relógio e pilhas. Ela lembra que certos alimentos, como uvas, pipoca, balas duras e pedaços de carne, além de pequenos brinquedos, podem causar esse tipo de acidente. "Todos esses objetos extraídos das crianças colocamos em um cofre que usamos depois para orientações”, disse.
Assim que o paciente chega ao hospital, ele passa por uma série de exames de imagem para localizar e identificar o tipo do objeto ingerido. A extração acontece por dois métodos: o processo endoscópico, utilizado em casos mais simples, e a cirurgia, necessária em casos mais graves que podem evoluir a óbito, como a ingestão de baterias e pilhas, além itens perfurocortantes, como pregos ou agulhas.
"O engasgo ocorre rapidamente e, sem intervenção imediata, pode evoluir ainda para broncoaspiração, levando alimentos ou objetos aos pulmões, o que pode ser fatal", acrescenta Salime Saraty. Portanto, a médica reforça que pais, responsáveis e profissionais da educação precisam estar preparados para lidar com essas situações, realizando manobras de primeiros socorros quando necessário.
Primeiros socorros - Frente a esse problema, a Comissão de Humanização (CH) realiza a cada dois meses o curso “Laços de Amor”, que dentre outros assuntos, orienta casais que vivem em comunidades próximas ao Hospital Abelardo Santos sobre métodos de prevenção e primeiros socorros. Durante o evento, é apresentada aos participantes a manobra de Heimlich, técnica usada para desobstruir vias aéreas e salvar vidas.
Segundo o bombeiro civil, Dionatha do Espírito Santos, a manobra de Heimlich é uma ferramenta eficaz e pode ser aplicada tanto em adultos como em crianças engasgadas. Porém, o profissional ressalta que a aplicação desse método em bebês requer cuidados especiais e uma abordagem diferenciada, dado que a anatomia e a fisiologia dos pequenos são distintas das de maior idade.
“É importante entender que a rapidez e a eficácia da resposta a essa emergência são cruciais até a chegada da equipe de resgate ou durante o deslocamento até uma unidade de saúde. Porém, para cada pessoa a técnica é realizada de maneira diferente, e as orientações dadas precisam ser assimiladas com atenção. Isso é fundamental para que a vítima não tenha seu quadro piorado”, detalha Dionatha.
Como realizar em bebês (até 1 ano)
1. Avaliação: Verifique se o bebê está realmente engasgado. Se ele estiver tossindo ou capaz de emitir sons, incentive-o a continuar. Se estiver silencioso e não conseguir respirar, siga os próximos passos;
2. Posição: Coloque o bebê de bruços, apoiando-o com o antebraço. A cabeça deve estar mais baixa que o tronco;
3. Tapinhas nas costas: Com a palma da mão, dê até cinco tapinhas firmes nas costas, entre as omoplatas. Use a parte inferior da sua mão para evitar machucar;
4. Mudança de posição: Se o objeto não sair, vire o bebê de costas, mantendo a cabeça baixa;
5. Compressões torácicas: Com dois dedos, faça até cinco compressões torácicas no centro do peito (logo abaixo da linha dos mamilos). As compressões devem ser rápidas e firmes;
6. Repetição: Continue alternando entre as tapinhas nas costas e as compressões torácicas até que o objeto seja expelido ou o bebê comece a respirar novamente. Se a situação não melhorar, chame por ajuda médica imediatamente.
Crianças (de 1 a 8 anos)
1. Avaliação: Verifique se a criança está realmente engasgada. Incentive-a a tossir;
2. Posição: Se a criança estiver em pé, coloque-se atrás dela. Se ela estiver sentada, fique ao seu lado;
3. Abraço: Envolva os braços ao redor da cintura da criança;
4. Compressões abdominais: Faça um punho e coloque a parte superior do punho logo acima do umbigo da criança. Segure o punho com a outra mão e faça uma pressão rápida para dentro e para cima (como se estivesse tentando levantar a criança);
5. Repetição: Repita essa compressão até cinco vezes, se necessário, até que a criança expulse o objeto ou comece a respirar novamente;
6. Chame ajuda: Se a criança não conseguir respirar após essas manobras, busque ajuda médica imediatamente.