Novo tratamento para hepatite C já está disponível no Pará
O paciente Antonio Paulo Nascimento Silva foi o primeiro portador de hepatite C do Pará a receber, gratuitamente, os novos medicamentos contra a doença, que passaram a ser disponibilizados pela Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) nesta segunda-feira, 9. Os remédios Sofosbuvir e Daclatasvir foram enviados ao Estado pelo Ministério da Saúde (MS), conforme previsto no novo protocolo de tratamento para hepatite C anunciado em julho deste ano pela União.
Ocorrida durante a programação do V Fórum de Pesquisa da Santa Casa de Misericórdia do Pará, a entrega dos medicamentos aconteceu a poucos metros onde funciona o Centro de Referência Estadual para Tratamento das Doenças do Fígado, que possui 300 pacientes cadastrados e aptos a passar pelo novo tratamento. “Essa nova terapia será mais simples, com efeitos colaterais ainda mais reduzidos e com 95% de chance de cura. Ou seja: aumenta as chances de cura e diminui o tempo de tratamento da doença”, explica a médica hepatologista Márcia Iasi, uma das dez especialistas do local que prescreverão os remédios que foram desenvolvidos por indústrias farmacêuticas do exterior.
Segundo a médica, a nova terapia somente é indicada aos portadores de hepatite C, portadores de coinfecção com vírus da imunodeficiência humana (HIV), cirrose descompensada e pré e pós operatório de transplantes de fígado. Mas, vale ressaltar que não são todas as pessoas que contraíram o vírus da hepatite C que serão medicadas com essa nova terapia, pois é necessária uma recomendação estabelecida por protocolo e avaliação médica. Otimista, Antonio Paulo agradeceu o privilégio de ser o primeiro a receber a medicação e acredita que vencerá a doença no prazo estabelecido pelo tratamento: 30 dias.
Segundo informações do Ministério da Saúde, o Pará é o terceiro da agenda nacional a receber o material, devido o intenso trabalho de políticas públicas voltadas à prevenção e tratamento das hepatites desempenhadas pela Sespa e demais parceiros. Presente na entrega da medicação junto com a presidente da Santa Casa, Rosângela Monteiro, a secretária adjunta de Saúde do Estado, Heloisa Guimarães, lembra que a disponibilização das medicações no Pará representa mais um avanço no controle das hepatites no Estado, que tem se intensificado desde a criação de uma coordenação voltada somente para as questões inerentes à doença.
O médico e assessor especial da Sespa, Helio Franco, lembrou ainda que em sua gestão como titular da Secretaria, entre 2011 e 2014, as políticas voltadas às hepatites ganharam um olhar especial para a atenção básica, no intuito de aperfeiçoar e sensibilizar os profissionais de saúde para a prevenção, induzindo pessoas a fazerem os testes que, segundo dados da Sespa, somaram em torno de 45 mil realizados nos últimos quatro anos.
A coordenadora estadual de Hepatites Virais pela Sespa, Cisalpina Cantão, ressalta que a estratégia motivou a criação de novos centros de tratamento: de três para 12 no Estado. Somam-se a essas providências a disponibilização do novo espaço do Centro de Referência Estadual para Tratamento das Doenças do Fígado da Santa Casa, que desde junho deste ano passou a realizar exames para detecção da presença de fibrose no fígado em pacientes com hepatites B e C por meio do Fibroscan, equipamento que realiza a elastografia hepática (ET), o qual dispensa o corte e a perfuração no órgão e possibilita ao médico acesso ao diagnóstico a partir de dez minutos.
Avaliado em R$ 800 mil, o aparelho foi adquirido este ano mediante articulação da Sespa e Ministério da Saúde, para ser utilizado em pacientes diagnosticados com hepatite crônica que são encaminhados para a Santa Casa - a primeira unidade da Amazônia que oferece esse tipo de exame de forma gratuita, pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Uma ação intinerante com a versão portátil do FibroScan foi realizada pela Sespa em outubro deste ano, graças a uma articulação entre a Sociedade Brasileira de Hepatologia (SBH) e a Sespa, pela qual examinou 52 pacientes diagnosticados com hepatite C oriundos de Santarém, Marabá e Abaetetuba, incluindo municípios vizinhos. Foi a primeira vez que o rodízio itinerante da tecnologia foi empregado no Pará, visto que já possui centros de referência no tratamento de hepatites com equipes já capacitadas para o manuseio.
Além disso, Cisalpina lembra que a campanha “Julho Amarelo”, realizada entre maio e julho realizou 7462 testes para hepatite C, em 40 ações realizadas entre a capital e o interior. O resultado foi que 39 pessoas que não apresentavam nenhum sintoma aparente se descobriram com a doença, sendo 38 com C e uma com o tipo B. Na sequência, foram prontamente encaminhadas para tratamento. Mesmo com o fim da mobilização, as testagens continuam disponíveis nas Unidades Básicas de Saúde dos municípios e nos Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA) de Belém, Santarém e Marabá.
Tratamento - A Sespa esclarece que a porta de entrada para quem quiser se proteger das hepatites é a Unidade Básica de Saúde, seja para a vacinação contra o tipo B ou para o teste sorológico de detecção dos tipos B e C. Na capital, o Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA), mantido pela Secretaria de Saúde de Belém (Sesma) no bairro de Batista Campos, oferta ainda o chamado teste rápido, o mesmo que foi utilizado na campanha “Julho Amarelo”, em que o resultado é entregue em até 30 minutos.
Em Belém, caso o usuário do SUS receba a notícia de que é portador de um dos tipos graves da doença, é encaminhado para locais de tratamento que já são referência, como a Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará, especialista no diagnóstico e o tratamento de doenças do fígado.
Além da Santa Casa, Belém dispõe de outros locais para o tratamento: Hospital Universitário João de Barros Barreto; Fundação de Hospital de Clínicas Gaspar Viana e Unidade de Referência Especializada em Doenças Infecciosas e Parasitárias Especiais (Uredipe), além do Centro de Universitário do Estado do Pará (Cesupa), no campus da avenida Almirante Barroso, onde funciona o curso de Medicina.
No interior do Estado, o atendimento para testagem e tratamento é disponível no Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) de Santarém; no CTA de Marabá; no CTA de Parauapebas; no Hospital Regional do Araguaia, em Redenção e no Hospital Regional de Tucuruí. Para todos esses locais, é essencial que o cidadão seja encaminhado pela Unidade de Saúde mais próxima de sua residência.
A hepatite é uma inflamação nas células hepáticas do fígado e pode ser ocasionada pelos vírus A, B, C ou D. Conforme a médica Márcia Iasi, não apresenta sintomas e o diagnóstico pode ser feito por meio de exames de sangue. Caso isso não ocorra, a evolução da doença é devastadora, perfazendo um quadro com hepatite aguda, crônica, cirrose hepática e tumor no fígado.