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Diálise peritoneal: tratamento renal garante autonomia e qualidade de vida a pacientes no Abelardo Santos

A maior unidade do Governo do Pará oferece o tratamento gratuito, proporcionando mais flexibilidade e bem-estar em comparação à hemodiálise tradicional

Por Diego Monteiro (HRAS)
18/09/2024 08h00

Heverson Sousa e Maria de Jesus conquistaram maior autonomia com a diálise no Hospital Regional Dr. Abelardo Santos Há cinco anos, quando Heverson Sousa, 25 anos, foi diagnosticado com doença renal crônica, sua rotina se resumia a ir ao hospital, pelo menos três vezes por semana, para realizar sessões de hemodiálise. Com o passar do tempo, percebeu que sua autonomia estava limitada, pois dependia de outras pessoas para tarefas rotineiras. A mudança nessa rotina de desafios diários começou quando ele descobriu os benefícios da diálise peritoneal, há três anos.

Apesar de pouco conhecido, o procedimento é oferecido pelo Hospital Regional Dr. Abelardo Santos (HRAS), no distrito de Icoaraci, em Belém, desde 2021. E tudo totalmente gratuito, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), por meio do “Programa de Diálise Peritoneal”. Maior unidade de saúde pública do Governo do Pará, o HRAS conta com 25 vagas, das quais apenas 24% estão preenchidas.

“Diferente da hemodiálise, em que eu precisava ir ao hospital dia sim, dia não, percorrer 80 quilômetros entre Vigia (município de Vigia de Nazaré, no nordeste paraense) e Ananindeua (na Região Metropolitana de Belém), e passar quatro horas sentado. Agora, faço tudo em casa. Isso me dá mais liberdade e conforto, permitindo que eu mantenha uma rotina mais próxima da normalidade, e tudo isso no conforto de casa”, conta Heverson.

“Pode-se dizer que essa foi uma virada de chave na vida dele, pois antes a hemodiálise deixava meu filho debilitado e com tonturas. Para a segurança dele, eu sempre precisava acompanhá-lo nas sessões, o que tomava boa parte do meu tempo, também. Agora, não. Ele tem autonomia e tempo para outras atividades, e nós passamos a ter qualidade de vida”, garante Maria de Jesus, mãe do paciente.

Com a diálise peritoneal, a autônoma Liliane Almeida, 35 anos, consegue manter a rotina de trabalho e até viajar. “São duas coisas, por exemplo, que para quem faz hemodiálise é quase impossível. Muitas pessoas precisam se aposentar por não conseguirem mais exercer suas profissões. E sair para outro município ou estado, longe do hospital, é complicado. Mas hoje consigo fazer tudo isso”, afirma.

Diferença entre os procedimentos - A hemodiálise tradicional utiliza uma máquina para filtrar o sangue do paciente. O sangue é retirado, passa por um filtro (chamado dialisador) para eliminar resíduos e excesso de líquidos, e depois é reintegrado ao corpo. Geralmente, esse processo é realizado em sessões de três a quatro vezes por semana, cada uma com duração de 3 a 5 horas, exigindo que o paciente se desloque até um centro de diálise ou hospital.

A diálise peritoneal permite ao paciente realizar o tratamento em casa, evitando deslocamentos frequentes à unidade de saúde e proporcionando maior flexibilidade na rotina. Esse procedimento utiliza o peritônio - a membrana que reveste o abdômen - como filtro para remover toxinas do sangue, simulando a função renal de forma menos agressiva ao organismo.

A médica Salomé Soares ressalta que a desinformação é o maior desafio a ser vencido para a garantia do tratamento A médica nefrologista Salomé Soares reforça os benefícios da diálise peritoneal. “Há menos instabilidade cardíaca, menor variação da pressão arterial e do peso, além de um melhor controle da anemia. Proporciona maior liberdade na dieta, e como mencionado anteriormente pelos pacientes, maior flexibilidade no horário das trocas e para viajar, pois é necessário apenas levar o material”, informa a especialista.

Salomé Soares acrescenta que “outro benefício é que, ao contrário da hemodiálise, na qual o paciente precisa ir ao hospital cerca de 16 vezes e gastar 64 horas por mês, na diálise peritoneal é necessária apenas uma visita mensal para coleta de exames e consulta médica. Além disso, a diálise peritoneal permite o retorno ao trabalho e aos estudos, além de preservar os vasos dos membros superiores”.

Baixa adesão - Essa técnica vem se sendo amplamente adotada nos Estados Unidos, Tailândia e China. No México, a terapia atinge cerca de 50% dos diagnosticados com doença renal. No entanto, os números no Brasil revelam um cenário diferente, com menos de 5% dos pacientes optando pela diálise peritoneal, segundo a Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN).

Periodicamente, o Hospital Abelardo Santos realiza campanhas de conscientização sobre o assunto, com o objetivo de aumentar a adesão ao tratamento com mais informações e combate às fake news sobre a técnica. Atualmente, há 120 pacientes cadastrados no Centro de Hemodiálise no HRAS, a metade está apta a realizar diálise peritoneal.

“A falta de conhecimento sobre essa terapia é o principal desafio. Há muita desinformação, principalmente sobre a eficácia da técnica. Mas é importante reafirmar que a diálise peritoneal tem a mesma função da hemodiálise, mas com o benefício da autonomia e da liberdade. Claro que o médico precisa ser consultado para identificar possíveis contraindicações específicas”, informa a médica Salomé Soares.

Regulação - Com o diagnóstico de disfunção renal crônica, o paciente pode iniciar a terapia de diálise peritoneal. Se já estiver em tratamento de hemodiálise, a migração de modalidade é um direito do paciente após avaliação médica. Em ambos os casos, esse processo é feito por meio da regulação de vagas, realizada pela Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) ao Hospital Abelardo Santos.

No início do tratamento, o HRAS mobiliza uma equipe multidisciplinar, composta por médico, enfermeiro, assistente social, psicóloga e nutricionista, para realizar visitas domiciliares destinadas a orientar a família sobre os cuidados essenciais que devem ser tomados e as adequações necessárias ao ambiente doméstico, a fim de garantir a segurança e o bem-estar do paciente.

A enfermeira diarista do Serviço de Terapia Renal Substitutiva (STRS), Gisele Carvalho, orienta ao paciente que “converse com o seu médico sobre a intenção de iniciar ou migrar para essa técnica. Somente ele saberá se você possui condições clínicas para isso. Tanto o equipamento quanto os materiais são fornecidos gratuitamente para o paciente realizar o tratamento em casa, com segurança”.

Referência - O Hospital Regional Dr. Abelardo Santos é a maior unidade pública do Governo do Pará. A instituição é administrada pelo Instituto Social Mais Saúde (ISMS), em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa). Conta com um serviço de pediatria de urgência e emergência, além de leitos clínicos.

A unidade é referência no atendimento à mulher e à criança, em quatro frentes pediátricas: pronto-socorro, cirurgia, internação clínica e Unidade de Terapia Intensiva (UTI), além do acolhimento nas Unidades de Cuidados Intermediários (UCIn). A pediatria do HRAS está estruturada com 10 leitos de UTI, 25 leitos de clínica pediátrica e um pronto-socorro infantil, com atendimento 24 horas.