Seap promove cursos de produção de biojoias e pintura em tecido para custodiados em Santa Izabel
Os cursos além de garantir qualificação profissional, oportunizaram a integração entre internos de outras unidades do Complexo Penitenciário de Santa Izabel
Na sexta-feira (13), a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap), em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) do município de Castanhal, realizou a conclusão de dois cursos profissionalizantes para internos de duas unidades do Complexo Penitenciário de Santa Izabel. Os cursos de pintura em tecido e confecção de biojoias foram realizados de forma simultânea, com turmas distintas, tiveram duração de 40 horas, e garantiram certificação para 30 alunos.
Os cursos ministrados pelas professoras Elisângela da Silva Lima (pintura em tecido) e pela Mestra-artesã Socorro Castro (biojoias), ambas do Senar de Castanhal, além de promover a ressocialização, garantiu uma qualificação profissional para os internos da Unidade de Reinserção de Regime Semiaberto (URRS), do Hospital Geral Penitenciário (HGP), e da Unidade de Custódia e Reinserção VI, que atende internos LGBTQIAPN+.
A professora do Senar Elisângela Lima relata que se surpreendeu com o bom comportamento apresentado pelos alunos ao ser recebida com um efusivo “Bom dia!”. “Para mim está sendo muito tranquilo, satisfatório, e como eu disse para eles, estou com alegria no meu coração porque a turma foi sendo bem conduzida, com o respeito, a união, e o respeito é válido em qualquer lugar. E é uma grande honra para mim porque é um público diferente, mas até agora, nota 10”, garante a professora.
Para Elisângela, é um destaque o fato que os alunos possam ter uma profissão certificada por um instituto de relevância como o Senar, o que lhes garante oportunidades de trabalho e abre caminhos para empreender futuramente.
“Lá fora (em liberdade) a gente acha que não dá. É muito importante, é muito bom, cada real que entra na nossa casa de forma honesta porque ostentar, como eu falei para eles, ostentar para mim é todos os dias a gente ter o dinheirinho. Eu quero comer um ovo? Eu tenho meu dinheiro honesto para comprar. E eles concordaram comigo. Alguns deles já falaram em gerar renda mesmo lá fora. Então, isso é um grande marco para nós”, afirma Elisângela.
Rubi Samdrii Blat, de 27 anos, já participou anteriormente de outros cursos como Corte e Costura e curso de Maquilagem, e agora concluiu o de Pintura em Tecido. “Essa experiência está sendo muito edificante, porque eu posso ter uma terapia ocupacional. Isso desenvolve muito o meu senso cognitivo. E agora tive a oportunidade de fazer o curso de pintura em tecido”.
Com mais essa qualificação profissional, Rubi acredita que ao deixar o sistema penitenciário terá maiores oportunidades e a possibilidade de empreender para garantir sua própria renda.
“É um grande incentivo poder confeccionar os tecidos pintados. E isso gera também uma remuneração lá fora. Isso é muito importante para a manutenção da minha vida. Eu vou poder ter uma lucratividade”, afirmou.
André Luiz Souza dos Reis, de 38, também já teve outras oportunidades de qualificação profissional como Design de sobrancelha, Henna e pigmentação. Ele também apostou na educação como caminho para mudança de vida e já conseguiu concluir o ensino médio graças aos projetos educacionais promovidos pela Seap.
“Eu agradeço a Deus pela oportunidade. E eu planejo futuramente recomeçar a minha vida a partir daqui. Vai me ajudar bastante, até porque eu já tenho um novo horizonte. Ao sair daqui eu vou procurar um trabalho, viver uma nova vida. É uma oportunidade que nós agradecemos à Seap, juntamente com a Senar, nossa professora Elisângela também, que está nos ajudando. Eu vejo como um meio de vida para nós, até mesmo de uma forma de trabalho. Isso aí pode até nos ajudar financeiramente lá fora e com mais outros cursos que podem vir para nós”, defende André.
Biojoias - A professora Socorro Castro ministrou pela primeira vez o curso de Produção de Biojoias para os custodiados da URRS de Santa Izabel. A técnica básica de produção utiliza a desidratamento natural, catalogação das folhas. Durante o curso os alunos aprendem o tempo necessário desses processos e a fazer os moldes das peças que serão confeccionadas.
“Eu faço questão de ensiná-los a fazer o seu próprio molde. E eles já fazem o próprio molde, na verdade o molde autoral, porque o objetivo da gente, do Senar, é usar o que a gente tem em mãos. Eu não tenho como comprar o meu molde, mas eu tenho acesso de como eu fazer. Então isso aí eu venho e mostro a eles como eles produziam os próprios moldes”, explicou a professora Socorro.
Ela destaca também que as biojoias estão em alta, tanto na moda como no interesse das pessoas por estar inserida na economia sustentável. Com a proximidade da COP 30 no Pará, é mais uma oportunidade de negócios que surge para quem se profissionaliza na área.
“Nós estamos fazendo um curso que a matéria-prima está aqui, é só olhar fora (da sala) que nós estamos observando que nós temos as folhas, as flores. E aqui nós estamos trabalhando muito com a fibra da bananeira, com as flores esqueletizadas, desidratadas, e a gente está adornando elas com as resinas. A COP 30 está aí, e vem muita gente buscar o que nós temos. E o que nós temos? A biodiversidade na nossa Amazônia. Nós temos muitas fibras, muitas folhas que ficam belíssimas como a folha de cacau, as flores, tudo isso dentro das biojoias, mas em outros adornos, usando essa mesma fibra que nós temos de fácil acesso”, diz a professora.
Oportunidade -Quem aprovou a realização do curso foi Leandra Cardoso dos Santos, de 31 anos, que vê como grande oportunidade conseguir uma qualificação profissional, onde ela reconhece que isso irá impactar positivamente sua vida futura.
"Esse curso é uma oportunidade muito grande para nós porque a gente não sabia que existia esse curso. A professora Socorro Castro está dando força para nós nesse curso e estamos conhecendo, recebendo conhecimento desse curso maravilhoso. É uma porta de trabalho, que quando a gente sair, nós vamos abrir o nosso próprio negócio, eu, meus amigos, minhas amigas. Ter um negócio próprio para se manter lá fora. Então esse projeto é uma coisa muito boa e está de parabéns”, concluiu Leandra.
Integração - Durante as aulas, foi possível constatar resultados positivos em outro aspecto, como a integração de custodiados de unidades prisionais diferentes, como atesta a agrônoma e técnica de reinserção da URRS Santa Izabel, Sabrina Lima.
“Foi muito positivo. E o legal, é que eles comentam muito da vontade da unidade em ajudá-los. Isso foi o primeiro passo. Foi uma coisa que nós ouvimos muito numa reunião que nós fizemos com eles aqui, é o respeito. Eles estão percebendo que a gente está buscando respeito. E fazendo com que tenham respeito mútuo. Então, graças a Deus, durante toda a condução do curso, eles estiveram se comunicando uns com os outros e mantendo o respeito entre si”, afirma Sabrina.
Mas para alcançar os bons resultados, Sabrina conta que foi feito um trabalho amplo e multidisciplinar para conscientizar os participantes dos cursos e orientar sobre as questões comportamentais e deveres que eles precisam cumprir na unidade.
“Foi desafiante e ao mesmo tempo muito gratificante porque recebemos um público diferente do nosso público aqui da unidade (URRS). Então, nós fizemos um trabalho junto com a equipe da biopsicossocial da unidade, um trabalho com a enfermagem também, trabalhando a saúde deles, mental, e também os deveres que tem com a casa. Esses cursos estão vindo como indicadores para que eles possam cumprir os deveres deles dentro da unidade, cumprir as obrigações e os direitos que eles têm como qualquer outra pessoa privada de liberdade e que esteja na nossa unidade de sistema semiaberto”, assegura Sabrina.
Texto: Márcio Sousa / NCS Seap Pará