Escolas combatem violência contra crianças e adolescentes
De que forma a violência contra crianças e adolescentes, praticada na maioria dos casos no próprio ambiente familiar, atinge a integridade e o desempenho desses cidadãos na escola, e o que a escola pode fazer para prevenir e combater essa prática? Questões como essas integraram a pauta da formação de gestores, professores e profissionais de escolas públicas estaduais, nesta segunda-feira (23), no auditório da Prodepa (Empresa de Tecnologia da Informação e Comunicação do Estado do Pará).
A iniciativa é da Secretaria de Estado de Educação (Seduc), como parte do projeto Bem Conviver, que inclui a proposta do projeto Crescer sem Violência, do Canal Futura/Unicef/Childhood Brasil, desenvolvida no Estado com a parceria da Fundação Pro Paz e instituições.
Em agosto, 115 técnicos do Governo do Estado, da Prefeitura de Belém e instituições participaram de uma formação piloto promovida pelo Canal Futura. Hoje, a Seduc realizou formação para os profissionais que atuam na rede pública estadual no Pará, com 700 mil estudantes, 23 mil professores e 1.100 escolas.
“O Crescer sem Violência conta com duas séries de programas e uma nova está prestes a ser lançada. Essas séries, ‘Que exploração é essa?’ e ‘Que abuso é esse?”, formam um kit pedagógico que passa a ser utilizado pelos educadores, como parte de uma ação da rede de proteção da criança e adolescente”, afirmou a mobilizadora do Canal Futura, Melina Marcelino.
A gestora da Coordenadoria de Ações Educativas Complementares (CAEC) da Seduc, Rosemary Nogueira, comandou a reunião entre os educadores. “Com esse material disponível e com a troca de informações entre os técnicos da rede de proteção à criança e adolescente, os profissionais de Educação vão poder identificar e encaminhar o atendimento a estudantes envolvidos em situações desse tipo”, esclareceu Rosemary Nogueira.
Em outro momento, a assistente social Cíntia Barreto, do Centro de Defesa da Criança e Adolescente (Cedeca Emaús), expôs os serviços na área jurídica prestados pelo Centro às comunidades com relação à proteção aos cidadãos mirins.
Proximidade - A maioria dos casos de violência contra crianças e adolescentes, incluindo abuso sexual, ocorre dentro da própria família, no próprio lar, como é atestado em estudos científicos. “A prevenção e enfrentamento desse problema somente é possível mediante trabalho em conjunto do Ministério Público do Estado (MPE), da Seduc, do Conselho Tutelar, Vara da Infância e Juventude, professores, pais de alunos. Todos levando para a sala de aula a responsabilidade da garantia dos direitos da criança e do adolescente, principalmente a proteção integral, ou seja, nos aspectos físico, emocional e social das nossas crianças”, afirmou a pedagoga do MPE, Bethânia Vinagre.
Setenta por cento das crianças e adolescentes brasileiros que sofreram abuso sexual são meninas, mas há também casos de meninos, como acrescentou Bethânia.
A psicóloga da Fundação Pro Paz, Sabrina Cunha, chamou a atenção para o fato de que situações desse tipo prejudicam e até mesmo provocam o abandono dos estudos por parte de alunos.
Essa realidade é constatada, por exemplo, pela diretora Ivanete Figueiredo, da Escola Marilda Nunes, no bairro do Benguí, com mil alunos em três turnos. “Nós temos vários casos, e casos muito complexos, e nós precisamos de fato dessas orientações, como ocorre aqui, para esse aluno não sair mais tarde um adulto muito machucado”, afirmou.
Ivanete relatou já ter observado estudante com hematomas em sala de aula, proveniente de maus tratos em casa. “Chamei o pai e a mãe e disse que isso não poderia acontecer mais. Têm outros casos, como casos de pais que perderam a confiança nos filhos”, relatou. Para combater situações desse tipo relacionadas a estudantes em Belém e no interior do Estado, a Seduc, via Secretaria Adjunta de Ensino (SAEN), e parceiros promove palestras e eventos sobre a temática, além de que a violência é um dos temas transversais nos conteúdos pedagógicos na rede estadual de ensino.
Os gestores e professores da Seduc são orientados a observar sintomas de vítimas de violência sexual como: ansiedade, tristeza, baixa autoestima, distúrbio no aprendizado, medo, hiperatividade, regressão (comportamento infantil), desconfiança exagerada com adultos, fugas de casa e agressividade. Denúncias e troca de informações sobre a proteção a crianças e adolescentes são viabilizadas no número 100.