Governo acena com a liberação provisória do embarque de boi vivo em Vila do Conde
Pecuaristas do segmento da exportação de gado vão apresentar, nos próximos dias, um plano emergencial de contingenciamento para ser aplicado no Porto de Vila do Conde. O documento será avaliado e sua execução monitorada pela Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (Semas) e pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). O plano é fruto de um entendimento entre o setor produtivo e o Governo do Estado, ambos interessados em acabar com o impasse provocado pela Companhia das Docas do Pará (CDP), que ainda reluta em dizer como, quando e quem vai retirar os bois em decomposição no navio Haidar, afundado no Rio Pará há quase dois meses.
O acidente transformou o berço 300 do porto em área de risco, pois até hoje permanecem submersos o navio e parte de sua carga. A situação provocou a interdição do Porto do Conde para operações com carga viva. A restrição é uma medida preventiva. O naufrágio do Haidar evidenciou a fragilidade dos protocolos de segurança da CDP para lidar com situações emergenciais. Para que o porto retome a rotina, é preciso que a Companhia das Docas diga como pretende evitar novos acidentes e de que modo vai agir se eles acontecerem. Além disso, é indispensável tomar uma decisão acerca da retirada, transporte e destinação dos animais submersos. São protocolos de segurança necessários à preservação do meio ambiente e proteção da vida das pessoas.
Em reunião convocada pelo secretário de Desenvolvimento Econômico, Adnan Demachki, debateu-se na terça-feira (24) uma solução temporária, de modo a não prejudicar os exportadores. Cerca de 51 mil bois destinados à exportação aguardam liberação do embarque em Vila do Conde. São animais já comercializados, e a demora embaraça os exportadores. Por isso, eles propuseram a apresentação do plano de emergência, que não atende a todos os protocolos necessários no contexto do acidente com o Haidar, mas ao menos garante condições de segurança para o transporte dos animais confinados em áreas de pré-embarque.
Participaram da reunião técnicos da Semas, do Ibama, da Sedeme e representantes das empresas exportadoras Agropexport, Minerva Foods, Mercurio e da Associação Brasileira de Exportadores de Gado (Abeg). A solução apresentada evita prejuízos ao setor, como a quebra de contratos, e atende à preocupação das autoridades com a questão ambiental. É uma manifestação de boa vontade de ambos os lados.
“Não estamos liberando o porto em definitivo. Isso dependerá do cumprimento total das exigências feitas pelos órgãos ambientais. Trata-se de liberação provisória, emergencial, a ser consolidada até a semana que vem, para evitar novos danos econômicos e ambientais’’, afirmou o secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade, Luiz Fernandes da Rocha.
O Pará é o maior exportador de boi vivo do Brasil. Em 2014, foram exportadores 547 mil bois em 1,2 mil operações de embarque. O gado é retirado das fazendas e enviado para estações de pré-embarque, onde recebe tratamento para engordar até seguir viagem para o exterior. Atualmente, a produção de bois vivos do Pará abastece 75% do consumo total da Venezuela e 65% do Líbano. Além disso, 400 mil cabeças saem daqui, todos os anos, para o Nordeste brasileiro. “Temos o boi mais sadio do País. A exportação do boi em pé é a chancela da qualidade do boi do Pará”, disse Gastão Carvalho, fazendeiro e representante da Abeg no Pará.
A exportação de boi vivo ajuda a regular os preços para a pecuária e inclusive contribui com a própria agricultura de grãos, pois se produz ração do milho e soja produzidos no Pará para servir de alimentação para o gado no transporte de navio. “O desastre foi prejudicial a esse ramo da economia paraense, como também foi prejudicial à economia local em Barcarena, prejudicial a todos que exportam pelo porto, atingiu a população de Vila do Conde e até mesmo a imagem do Pará'', comentou Adnan Demachki”.