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Doação, diálogo e acolhimento transformam a vida de vítimas de escalpelamento

Projeto 'Fios de Esperança', da Secretaria de Estado das Mulheres, procura promover qualidade de vida para mulheres vítimas desses acidentes

Por Ascom (Ascom)
25/06/2024 10h44

A perda dos cabelos talvez causa insegurança em mulheres. Considerados por muitos, a “moldura do rosto”, os cabelos são símbolos de identidade e autoafirmação. Às margens dos rios e igarapés que cortam o Pará, mulheres ribeirinhas se caracterizam pelos longos cabelos, que guardam histórias e experiências vividas no vai-e-vem dos cursos d’água transformados em ruas. A utilização das embarcações faz parte da rotina, e, por vezes, essa rotina é de alto risco. O acidente de escalpelamento, por exemplo, ocorre quando o couro cabeludo e até as orelhas são arrancados de forma brutal pelos motores das embarcações, desprotegidos.

O governo do Pará, por meio da Secretaria de Estado das Mulheres (Semu) mantém um olhar atento para as mulheres vítimas desse tipo de acidente, e busca parcerias para mitigar os danos causados pelo escalpelamento.

A oferta de serviços de estética nas ações realizadas pela Semu mostra um novo caminho. Profissionais da Secretaria perceberam que os cabelos cortados durante as ações poderiam gerar impactos positivos na vida de mulheres vítimas de escalpelamento. Assim surgiu o Projeto "Fios de Esperança". A partir dessa percepção, cada mecha de cabelo cortada foi sendo guardada com cuidado, para que fosse doada à organização não governamental (ONG) “Amigos Voluntários do Pará”, que atende vítimas desse tipo de acidente.

Esperança - Para a titular da Semu, Paula Gomes, o projeto se tornou um elo entre a Secretaria e essas mulheres. “O Projeto Fios de Esperança surge com a missão de acolher mulheres vítimas de escalpelamento e, também, mulheres diagnosticadas com câncer, que perdem os cabelos devido ao tratamento. Nós, enquanto Secretaria, estamos atentas para atender às demandas das mulheres paraenses, que são diversas em cultura e vivências, fazendo com que nosso trabalho seja cada vez mais transversal”, ressaltou a secretária. 

A doação simbólica ocorreu na sede da Semu, onde a presidente da ONG, Olinda Guedes, recebeu mais de 80 mechas de cabelo coletadas durante as ações. “Hoje é um dia muito especial. Quem esteve presente nas ações realizadas no Marajó pôde entender um pouco da realidade de uma mulher escalpelada. Tenho certeza que foi a partir dessa vivência que a equipe da Secretaria passou a ter outra visão. E hoje nós estamos aqui, colhendo esses frutos maravilhosos", disse, emocionada, Olinda Guedes.

Ampliação - A iniciativa da Secretaria, em parceria com a ONG, deve atender também mulheres em tratamento oncológico, que acabam perdendo os cabelos.

“Para algumas pessoas, isso é só uma mecha de cabelo. Mas não é. Elas representam muito mais. É o resgate da autoestima da vítima; é a oportunidade de voltar a viver, não como antes, até porque acho que é impossível. Mas sim de trilhar um novo caminho. É muito gratificante ver este trabalho sendo realizado pela Secretaria com tanto carinho. Estou muito emocionada e feliz com essa parceria”, completou Olinda Guedes.

“Nosso trabalho começou atendendo mulheres mastectomizadas (que precisam retirar a mama), e agora se estendeu para as mulheres vítimas de escalpelamento. Essas mulheres precisam melhorar a autoestima. Esse trabalho não é feito só com a entrega de perucas, mas também com a escuta e o acolhimento, até porque essas mulheres vivem em anonimato", disse Kelly Castelo Branco, pedagoga, que atua na Coordenadoria de Enfrentamento à Violência e Promoção dos Direitos das Mulheres da Semu.

“Vamos continuar com nosso papel educador por meio da conscientização da doação de cabelo durante as ações, além de acolher as mulheres. Nós também vamos oferecer opções de qualificação, que já realizamos na Secretaria. E a partir disso fortalecer cada vez mais essas mulheres”, informou Antônia Aleixo, diretora de Políticas Públicas e Autonomia Econômica da Semu.

A Secretaria de Estado das Mulheres já realiza ações voltadas à qualificação, no âmbito do Projeto “Qualifica Mulher”, ampliando as possibilidades de recolocação no mercado de trabalho com os cursos de Inclusão Digital, além de cursos que incentivam o empreendedorismo feminino.

Acidente - Os casos mais comuns de escalpelamento ocorrem em embarcações de pequeno porte, muito utilizadas como meio de transporte, sobretudo pelos ribeirinhos. 

O acidente ocorre quando os cabelos de adultas e crianças se enrolando no eixo do motor da embarcação sem proteção, ocasionando a perda até mesmo de sobrancelhas e orelhas. O acidente afeta quase todo o rosto e pescoço da vítima, causando deformações que podem levar à morte.

Apoio - A Santa Casa de Misericórdia do Pará, em Belém, é referência no atendimento a vítimas de escalpelamento. O espaço, além dos procedimentos médicos, garante o acolhimento às vítimas na “Casa de Apoio Espaço Acolher”.

O escalpelamento pode ser evitado se forem tomados alguns cuidados. Nunca sentar com os cabelos soltos perto do motor de qualquer embarcação; manter as crianças longe dessa parte da embarcação e deixar os cabelos sempre presos. Se possível, utilizar touca ou boné, para ampliar a proteção.