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Hospital de Clínicas Gaspar Vianna realiza cirurgia cardíaca inédita no Estado do Pará

Procedimento a "céu aberto", ou seja, que opera o coração por dentro, foi realizado em paciente gestante do município de Altamira

Por Lucila Pereira (HC)
19/04/2024 14h48

O Hospital de Clínicas Gaspar Vianna, referência em cardiologia no Estado do Pará, alcançou um marco significativo na medicina ao realizar, com sucesso, uma cirurgia cardíaca de intensa complexidade em uma paciente gestante. A operação, realizada no último sábado, 13, destaca-se como um feito inédito no Estado, representando um avanço notável na área da cardiologia obstétrica.

A paciente Eliane de Oliveira, 31 anos, está no segundo trimestre de gravidez e foi diagnosticada há cerca de um ano e meio com estenose valvar mitral, que é uma cardiopatia grave responsável por causar um estreitamento da abertura da válvula mitral que obstrui o fluxo de sangue do átrio esquerdo para o ventrículo esquerdo, podendo causar uma insuficiência cardíaca. Moradora de Altamira, no sudoeste paraense, ela veio regulada via SUS para o Hospital de Clínicas no último dia 10, após ter contraído uma endocardite bacteriana, o que agravou ainda mais a condição já existente. 

Diante da necessidade urgente de uma intervenção cirúrgica, as equipes cardiológica e obstétrica do Hospital de Clínicas realizaram uma série de avaliações mais detalhadas para garantir tanto a segurança da mãe quanto do bebê. 

O cirurgião cardiovascular Marcondes Neves, responsável pelo procedimento, fala que a cirurgia cardíaca em gestantes sempre foi um desafio para a cirurgia cardiovascular devido envolver dois seres humanos ao mesmo tempo: a mãe, que devido à gravidez possui uma modificação na dinâmica cardiovascular e na concentração das células, o que altera a sua fisiologia; e o feto, que possui fisiologia própria com necessidade de fluxo e oxigenação sanguíneas específicas. O médico contou ainda que essa é a primeira vez que um procedimento desse tipo foi realizado no Estado. 

"Durante o procedimento cirúrgico nós utilizamos a circulação extracorpórea por meio de uma máquina que irá substituir as funções do coração e do pulmão do paciente que está sendo operado, neste caso a mãe. Isto se deve a necessidade de termos que intervir no interior do coração, onde se encontram as valvas cardíacas e para fazermos isso temos que parar o coração através da infusão de uma solução chamada cardioplegia. Após essa parada, o coração é esvaziado para podermos visualizar o seu interior e o defeito a ser corrigido. Este é o momento mais crítico para o feto, pois temos que manter a circulação extracorpórea com fluxo alto, temperatura próxima a 37°, oxigenação moderada e concentração de células sanguíneas adequadas para haver a preservação da vida no interior do útero da paciente", detalhou o especialista.  

Durante o procedimento, foi realizada a troca da valva mitral por uma prótese biológica, que em algum momento da vida terá que ser trocada.

"Se não fosse realizada a cirurgia, mãe e filho morreriam devido à infecção e insuficiência cardíaca, podendo ocorrer outros tipos de complicações como embolia séptica", comentou o especialista. 

Emoção – "Foi cerca de um ano e seis meses desde que ela teve o primeiro sintoma, que a gente viu fisicamente que ela não estava bem, até chegarmos aqui, onde fomos atendidos extraordinariamente bem pela equipe médica. Eu não tenho palavras para agradecer. É muito provável que a minha esposa já não estivesse mais com a gente, porque ela já estava muito debilitada. A expectativa agora é aguardar o neném nascer, irmos para a casa e reiniciar a nossa vida e continuar os nossos sonhos", contou emocionado Elias Oliveira, esposo da paciente. 

Eliane está se recuperando na enfermaria da obstetrícia do Hospital de Clínicas, onde permanecerá recebendo cuidados especializados até o parto. Segundo os médicos, ela está respondendo bem ao procedimento e apresenta sinais encorajadores de recuperação. O bem-estar do bebê está sendo monitorado de perto, e até o momento, não foram observadas complicações.

Diagnóstico precoce - A obstetra Layses Braga, que coordena o setor de obstetrícia da instituição e que acompanhou todo a cirurgia, explica que o diagnóstico e tratamento precoce da condição da paciente, que só veio descobrir a cardiopatia ano passado, poderia ter evitado este cenário de urgência. 

"Como não foi diagnosticada precocemente, não foi tratado e aquilo foi se complicando. Quando descobriu que tinha essa doença, após sintomas como cansaço e falta de ar, já era a hipertensão pulmonar", explicou a obstetra Layses Braga, que acompanhou todo o procedimento.

Sobre o Hospital de Clínicas: O Hospital de Clínicas Gaspar Vianna é uma instituição médica de referência em cardiologia, nefrologia e psiquiatria no Estado do Pará, com atendimentos 100% ao SUS, dedicado a fornecer atendimento de saúde de alta qualidade.