Hospital Ophir Loyola auxilia pacientes com câncer a enfrentar o tabagismo
Equipe de psicologia pratica a escuta empática com pacientes e acompanhantes e orienta sobre como superar o hábito de fumar
No Hospital Ophir Loyola (HOL), a equipe multiprofissional, em especial a Divisão de Psicologia, auxilia pacientes com câncer a lidarem com os desafios do processo de cessação do tabagismo, desde a compreensão dos sintomas de abstinência até o orientação para prevenir recaídas.
“A vivência de uma doença como o câncer traz muitas questões à tona, principalmente quando o paciente se vê dentro do hospital, seja por internação ou acompanhamento do diagnóstico. Por mais que ele esteja ansioso pelo tratamento, a hospitalização é uma angústia para ele, que fica longe da família e sendo submetido a procedimentos aos quais não está acostumado. E o paciente tabagista, que tem uma tendência a ser mais ansioso, sofre ainda mais, pois sabe que será tolhido do hábito de fumar dentro da unidade hospitalar”, afirmou a psicóloga do HOL, Roberta Gondim.
A especialista explica ainda que, apesar de os pacientes passarem pelo mesmo processo de adoecimento, as necessidades de suporte psicológico são diferentes. “Lidamos com muitos discursos. Desde aqueles que admitem ter sido fumantes por muito tempo até aqueles que decidiram parar de fumar na véspera ou no dia da internação. Isso gera uma gama de sintomas, como insônia, irritabilidade, medo e até revolta, já que, algumas vezes, o processo de parar de fumar ocorre de maneira abrupta e sem acompanhamento específico para o tabagismo”.
O hábito de fumar cigarros tradicionais ou artesanais, charutos, cigarrilhas, entre outros, aumenta os riscos de desenvolver doenças cardíacas e cerebrovasculares graves, além de diversos tipos de câncer. A nicotina, princípio ativo presente em diferentes produtos à base de tabaco, é uma das responsáveis por causar dependência.
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), a dependência à nicotina é uma doença crônica responsável por cerca de 90% das mortes por câncer de pulmão. Mas o hábito de fumar também é fator de risco para neoplasias malignas na bexiga, pâncreas, fígado, colo do útero, esôfago, rim, cólon, entre outros.
Atendimento no Ophir Loyola
Antes de iniciar o tratamento no HOL, o paciente é acolhido e direcionado à equipe de psicologia para que seja orientado sobre o processo de adoecimento, acompanhamento, internação e prognóstico. A equipe conta que alguns pacientes chegam a mencionar o tabagismo ainda no primeiro contato, mas que a grande maioria ainda evita falar sobre o assunto até o dia da hospitalização.
“Nos deparamos com pacientes que têm consciência do problema e se sentem culpados. Eles dizem que sabiam que o cigarro faz mal e que irão aproveitar o período de hospitalização para parar. No entanto, isso não acontece e eles acabam sucumbindo ao hábito. Há situações nas quais precisamos entrar em ação, juntamente com a equipe multiprofissional, pois, algumas vezes, eles tentam fugir à noite para fumar. A própria família denuncia o fato e nossa equipe entra em ação para mediar conflitos, acolher, orientar e conduzir a situação”, explicou Roberta.
“Diante dessa situação (em que o paciente é pego fumando), acolhemos e resgatamos falas do próprio paciente, lembrando do quanto ele estava ansioso pelo avanço do tratamento. Ao longo das abordagens, o paciente consegue falar sobre medos, angústias, inseguranças, e essa escuta o alivia, pois tem a possibilidade de redirecionar alguns pensamentos. Agora, se for um paciente resistente ao atendimento e que não quer parar, o trabalho é bem mais delicado e, às vezes, com apoio medicamentoso”, completou.
Cigarro tem mais de 7 mil compostos químicos, diz OMS
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o tabagismo integra o grupo de "transtornos mentais e comportamentais" ocasionados pelo uso de substância psicoativa. A fumaça do tabaco contém mais de 7 mil compostos e substâncias químicas, de acordo com a Sociedade Americana do Câncer. Anualmente, o problema de saúde é responsável por mais de 8 milhões de mortes no mundo. Tal número refere-se tanto aos fumantes ativos quanto àqueles não-fumantes expostos ao fumo passivo e aos riscos que a inalação da fumaça traz consigo.
“Há pacientes, principalmente com câncer na região torácica, que fumaram passivamente. Eles trazem um sentimento de angústia muito forte e discursos como: ‘poxa, eu me cuidei, mas meu marido fumou a vida inteira e hoje eu estou passando por isso’. Independente do caso, o nosso papel é acolher, ouvir o paciente e dar suporte emocional”, afirmou a profissional de saúde.
Apesar de sentir fortes dores no peito e tosse frequente, o agricultor E.N.F., de 59 anos, afirma ter ignorado os sintomas por não conseguir romper com o vício. Quando começou a expelir sangue, buscou ajuda médica e descobriu o câncer no pulmão. “Eu sabia dos riscos, não vou negar. Quando a gente compra carteira de cigarro, vem foto e vem dizendo que causa tudo quanto é tipo de câncer, mas a gente não acredita. A minha esposa pedia para eu parar, mas eu não escutava. Eu era um fumante viciado mesmo. Se eu bebesse um café, eu largava a xícara no meio e pegava o cigarro”, admitiu.
Nascido em Santarém Novo, nordeste paraense, ele conta que as primeiras tragadas foram aos 12 anos. “Meu pai fumava e fiquei com curiosidade”, relembrou ele, que afirma ter parado de fumar há pouco mais de um ano, logo após o diagnóstico de neoplasia maligna na região torácica. “Quando eu cheguei no hospital para começar o tratamento, me falaram que eu precisava parar de fumar. Fiquei internado pela primeira vez em 2022. Foi muito difícil e eu tinha até pesadelos. Sonhava que os meus amigos vinham me oferecer cigarro e eu recusava. Era difícil, mas eu dizia não. Eu não queria e nem podia mais fumar”, contou.
Para cessar o tabagismo, o fumante precisa lidar com muitos desafios. O apoio familiar pode ajudar no processo. “Por acompanhar outras tentativas frustradas de parar de fumar, alguns familiares se dizem cansados. Contudo, o paciente precisa de escuta, acolhimento e cuidado. Não é hora de acusar ou de culpá-lo por estar doente. Há diferença entre ser acolhedor e ser permissivo. Estamos aqui à prontidão para ajudar e um dos desafios é evitar a exposição do paciente. Também acolhemos o acompanhante, porque sofre junto”, defendeu Roberta.
Nas abordagens, os profissionais da psicologia oferecem apoio emocional e identificam gatilhos e padrões de comportamento. A equipe também desenvolve estratégias para amenizar o estresse e ansiedade de quem passou ou está passando pelo processo de cessar o hábito.
“Quando os pacientes com tabagismo entram em abstinência, eles relatam insônia, irritabilidade, ansiedade e sentem muita culpa. Eles se questionam: ‘se eu tivesse parado de fumar eu estaria aqui, no hospital?’, ‘se eu não tivesse fumado por tanto tempo, eu teria desenvolvido câncer?’. Então, vem um sentimento de angústia, de tristeza e até agressividade. No entanto, a equipe multiprofissional é preparada para identificar as necessidades e acolher adequadamente o paciente”, ponderou a psicóloga.
O trabalhador rural L.D.M, de 67 anos, confessa que começou a fumar ainda na adolescência, aos 15 anos. Foram décadas mantendo o hábito. “Sempre trabalhei na roça e gostava de ficar fumando porranco e espantando carapanãs. Eu era daqueles que entrava no forno de carvão e ficava lá, não tinha noção do que poderia me causar. Chega eu escarrava preto. Agora eu não posso sentir o cheiro de fumaça que eu fico mal, enjoado. Se eu pudesse, voltaria no tempo, porque se fumar fosse bom eu não estaria doente. Fumar só prejudica a gente”, afirmou ele, que há dois anos não fuma.
Redes de apoio
O Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza tratamento gratuito para fumantes que queiram cessar o hábito. Orientações para mudanças de comportamento, prevenção de recaídas e informações sobre avaliação clínica, terapias medicamentosas e informações sobre como enfrentar o problema com apoio especializado são encontradas no Disque Saúde, pelo número 136, ou na Unidade Básica de Saúde mais próxima.