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Oncológico Infantil aborda Janeiro Branco com pacientes e acompanhantes

Por meio de palestras, especialistas orientam sobre como cuidar, proteger e gerenciar a saúde mental

Por Ellyson Ramos (HOL)
25/01/2024 20h11

A campanha Janeiro Branco no Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo (Hoiol), em Belém, ganhou reforço com palestras no setor de quimioterapia. Com o tema “A vida pede equilíbrio”, as atividades ministradas pela equipe de psicologia da unidade promoveram momentos de partilha e esclarecimento de dúvidas acerca de como cuidar, proteger e gerenciar a saúde mental. Pacientes e acompanhantes participaram ainda de reflexões sobre como as rotinas podem ser adequadas à prática de atividades que promovam o bem-estar emocional.

Unidade de Alta Complexidade em Oncologia, o Hoiol é referência na região amazônica no diagnóstico e tratamento especializado do câncer infantojuvenil. A unidade é gerenciada pelo Instituto Diretrizes, sob o contrato de gestão com a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), e atende pacientes oriundos dos 144 municípios paraenses e estados vizinhos. 

Para a diretora-geral do hospital, Sara Castro, as palestras proporcionaram a “escuta de diferentes percepções” sobre o cuidado da saúde mental de usuários e  respectivos familiares, que vêm de diferentes regiões.

“Compreendemos que a saúde mental é uma prioridade dentro e fora do ambiente hospitalar. Realizamos ações com colaboradores e também trouxemos palestras destinadas aos pacientes e acompanhantes, pois é importante instruir sobre questões que ainda possam ser vistas como tabus. O Janeiro Branco vem para nos mostrar que nunca é tarde para repensarmos atitudes e buscarmos ajuda especializada, quando necessário, para vivermos melhor. Orientação, fortalecimento e cuidado contribuem para o equilíbrio que tanto almejamos”, disse a gestora.

Na palestra inaugural, os psicólogos Felipe Silva, Nathália Diniz e Priscilla Fernandes abordaram o assunto com pais e responsáveis, que ouviram atentamente as recomendações. “No mundo, temos uma herança geracional de negligência à saúde mental, que era tida como algo sem importância, o que colaborou para o adoecimento da sociedade. A pandemia deixou o problema em evidência e fez com que todos atentassem para o fato de que a saúde não é só física. O nosso corpo é um todo, o que inclui a saúde mental”, ressaltou Silva.

“Não é preciso estar mal ou apresentar alguns prejuízos no corpo, como a oscilação do humor e noites de sono de má qualidade, para buscar ajuda psicológica. Cuidar da saúde mental é uma forma de se autoconhecer. É preciso criarmos o hábito da autopercepção e autoavaliação. ‘Como eu estou?’, ‘eu estou deixando de fazer coisas que antes eu gostava?’. Questione-se e mova-se em busca de respostas e de mudanças”, recomendou Priscilla.

A especialista pontua que, em ambientes hospitalares, é comum a utilização de discursos pautados na religiosidade, o que é um importante recurso proveitoso, assim como a leitura de livros e as amizades estabelecidas no hospital. “O fortalecimento da rede de apoio dentro da unidade é muito válido, principalmente nos casos novos, nos quais as mães ainda estão esclarecendo dúvidas e compartilhando experiências. A televisão também alivia a internação, porque, às vezes, assistir novelas, jornais e programações locais remetem ao contato e à rotina que levavam em suas cidades natal”, explicou a psicóloga

No entanto, os profissionais ponderam que há casos nos quais a rede de apoio familiar encontra-se desgastada e que os acompanhantes podem se sentir pressionados com cobranças e questionamentos de familiares que estão fora do contexto hospitalar.

“As famílias buscam por informações, mas, às vezes, essas cobranças não são muito favoráveis à saúde mental de quem acompanha o paciente. Logo, pedimos para que eles (acompanhantes) não se coloquem na responsabilidade de transmitir informações, para não gerar sofrimento. Além disso, fortalecemos a necessidade de todos falarem o que sentem, uma vez que esse recurso ajuda a lidar com a saudade de casa. Perguntamos sobre seus municípios, rotinas e cultura. Falar das próprias experiências, das suas cidades, do que gostam, é muito importante”, defendeu Priscilla.

Nova rotina - Há quatro meses, a auxiliar de professora Daniela Silva, de 32 anos, e o filho Elias, 9, deixaram o município de Garrafão do Norte, nordeste paraense, rumo à capital do estado. A criança foi diagnosticada com um tumor cerebral e hidrocefalia. “Meu filho sempre foi alegre, desenvolto, espontâneo e comecei a me preocupar quando o notei triste, desanimado e isolado. Pensei que tivesse ocorrido algo ou que estivesse com ansiedade ou depressão. Mas logo em seguida vieram sintomas mais complexos, como falta de equilíbrio, tremores e perda da força muscular”, recordou a mãe do menino.

“Desde o início da internação de Elias, Daniela sempre foi muito resiliente. Mesmo abalada com o processo que envolveu o diagnóstico do filho, ela apresenta clareza acerca do que o menino enfrenta, esclarece dúvidas e sustenta uma força admirável para lidar com tudo”, observou Silva, que acompanhou o menino desde a admissão no Hoiol.
Elias estava cursando o terceiro ano do ensino fundamental quando teve de iniciar o tratamento oncológico. No Hospital Octávio Lobo, ele passou por cirurgias e segue realizando ciclos de quimioterapia antes de iniciar a radioterapia. Além do garoto, Daniela tem outro filho de 16 anos, que visita o caçula quando possível. Encontros que, segundo ela, influenciam no humor do paciente internado.

“Junto com a psicologia, as ações do hospital e as visitas são muito importantes. Não me refiro a presentes, mas às pessoas que vêm doar amor aos nossos filhos, trazer uma palavra amiga, nos dar força e cantar louvores. Todos que já vieram aqui são muito especiais. Sou muito grata à professora do Elias, Vanderléia Vieira, que veio de garrafão do Norte só para visitá-lo. Eu não tinha noção da saudade que ele sentia. Quando ele a viu, os olhinhos dele brilharam”, recordou Daniela.

Equilíbrio - Para lidar com a rotina dentro do contexto hospitalar, com tratamentos, consultas e exames regulares, Felipe Silva recomenda a busca por atividades que mostrem que há mais coisas na vida para além do adoecimento.

“Os acompanhantes testemunham, de muito perto, as vivências de seus filhos, netos, sobrinhos. A palestra criou pontes para que as pessoas identifiquem quais recursos as ajudam a lidar com isso, a exemplo das pessoas que se conectam com Deus e buscam fazer coisas relacionadas às suas práticas religiosas para ter alívio, conforto e amparo. Mas buscamos procurar coisas que removam, o máximo possível, do peso do adoecimento e da hospitalização. Atentemos para um estilo de vida saudável, equilibrado e tranquilo, na medida do possível”, explicou Silva.

E Priscilla ressalta que a saúde mental requer atenção diária e que é preciso entender os próprios limites. “A campanha Janeiro Branco lembra que somos seres humanos e que as nossas emoções merecem atenção. O que o paciente e o acompanhante fazem quando saem do hospital? Há uma busca em fazer algo para se alegrar? O que é feito para equilibrar a vivência da hospitalização? O equilíbrio é buscado com atitudes simples, como assistir um filme que te faça sorrir ou realizar um passeio ao ar livre, quando for possível”, ressaltou Priscilla.

“Eu sempre busquei, de todas as formas, trabalhar a minha saúde mental, pois sei que o tratamento é agressivo e que mexe muito com o corpinho do meu filho. O atendimento aqui tem sido maravilhoso e ele vem recebendo acompanhamento psicológico. Coloquei a saúde do Elias nas mãos de Deus e acredito que, aqui no hospital, todos são como anjos, preparados para nos ajudar. Vejo o empenho de cada um e temos vivido juntos um dia por vez”, finalizou Daniela.

Ajuda especializada - O Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece apoio emocional gratuitamente. O atendimento é realizado 24h por dia pelo telefone 188. Para casos de emergência ou situações mais graves, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) deve ser acionado pelo 192. Recomenda-se ainda buscar ajuda nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e prontos-socorros.

Além disso, é possível receber acolhimento especializado no Centro de Atenção Psicossocial (CAPs) mais próximo ou nas Usinas da Paz da Terra Firme (Passagem Belo Horizonte, 56, Terra Firme, Belém); Jurunas/Condor (Passagem Motorizada, 5, Condor, Belém); Bengui (Passagem Primeiro de Julho, 32, Benguí, Belém); Guamá (Av. Bernardo Sayão, 4783, Guamá, Belém); Cabanagem (Av. Damasco, 37, Cabanagem, Belém); Icuí-Guajará (Estrada do Icuí-Guajará, Ananindeua); Nova União (Rua Bom Sossego, Bairro Nova União, Marituba). Os atendimentos ocorrem das 8h às 18h.

Texto: Ellyson Ramos - Ascom Hoiol