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Alunos de escolas estaduais se destacam em processos seletivos

Por Redação - Agência PA (SECOM)
14/02/2018 00h00

Durante o recital de boas vindas da Escola de Música da Universidade Federal do Pará, ela chamava atenção pela desenvoltura. Pequena e de aparência frágil, Raíza Rocha, 23 anos, surpreendeu ao escolher o saxofone mais pesado e complexo de tocar. O teste para a orquestra da UFPA foi só mais um desafio, entre os muitos que a jovem moradora da ilha de Mosqueiro, de onde vem de segunda a sábado para cursar as aulas de música, tem que enfrentar diariamente.

Além do curso técnico na Escola de Música da UFPA, ela faz o curso básico na Fundação Carlos Gomes. E a partir de agora, Raíza, que sonha entrar para a Polícia Militar do Pará por meio da música, tem mais um compromisso na agenda. Ela foi aprovada no curso de Licenciatura Plena em Música pela Universidade do Estado do Pará (Uepa).

O foco e a determinação de Raíza encontraram impulso na orientação decisiva dos professores da Escola Estadual Honorato Filgueiras, de Mosqueiro, onde Raíza cursou todo o Ensino Médio. “Foi nessa escola que descobri minha verdadeira vocação. Nunca fiz teste vocacional, mas os professores conversaram comigo e me me abriram os olhos. Eles disseram que a música era o meu caminho e eu decidi seguir nessa direção”, disse a jovem.

Tripla aprovação – Se passar em uma universidade pública, competindo com jovens que estudam em escolas particulares e têm o reforço dos cursinhos preparatórios, já é difícil, imagine passar em três processos seletivos diferentes em universidades públicas. Essa foi a proeza de Pedro Castro. Com apenas 17 anos, ele passou em Engenharia Florestal na Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), em Biomedicina na Universidade Federal do Pará, e em Engenharia Biomédica, também na UFPA, curso este pelo qual optou.

A preparação do jovem se resumiu a algumas horas da noite dedicadas ao conteúdo do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), pois à tarde Pedro estagiava no Ministério Público de Icoaraci, onde mora com os pais e uma irmã. O que fez a diferença para a tripla aprovação foi a base construída na Escola Estadual Teodora Bentes, na qual estudou desde o segundo ano do Ensino Fundamental. “Tudo começava dentro da sala de aula, onde nos eram cobrados disciplina e foco. Os professores nos orientavam no direcionamento do que devia ser estudado e, mesmo quando se desligavam da escola, não deixavam de acompanhar os alunos. Pelas redes sociais, eles passaram o ano conversando comigo, me auxiliando nos estudos”, revelou o calouro.

Diante da aprovação em três cursos diferentes, Pedro não hesitou. Quer ajudar a construir aparelhos e próteses médicas. Escolheu a Engenharia Biomédica porque alia a medicina com a engenharia elétrica, área na qual o pai dele trabalha desde que tinha 12 anos, para sustentar a mãe e os irmãos depois que o avô de Pedro saiu de casa.

Anderson Castro, pai de Pedro, sonha em concluir a universidade de Engenharia Elétrica e, hoje, se realiza através do filho. “Pra nós foi uma grande conquista, porque muita gente estuda em escola particular, gasta dinheiro com cursinho e não consegue ser aprovado em uma universidade pública. Nos sentimos orgulhosos pela estrutura familiar que demos a ele e também agradecemos pela base educacional que ele teve na Escola Teodora Bentes. O retorno que os professores nos davam foi decisivo. O diálogo entre a família e a comunidade escolar é um grande diferencial”, destacou Anderson.

Alexandra Castro, mãe de Pedro, chora ao lembrar de alguns momentos difíceis pelos quais passaram até ver o filho com o futuro encaminhado. “Passa um filme na cabeça, do sofrimento que foi pra gente negar o pedido do Pedro quando ele quis fazer uma escola particular. Explicamos a ele que não podíamos, porque não tínhamos condições financeiras. Lembro de cada desejo que ele, como toda criança, tinha, mas que não podíamos realizar, como o de ganhar brinquedos e presentes de Natal. Ele poderia ser uma criança revoltada, mas hoje é um menino que nos dá esse orgulho enorme”, contou a mãe, emocionada.

A base escolar - Um dos principais responsáveis pelas aprovações de Pedro foi o professor de Química João Lindcy, que o acompanhou desde o primeiro ano do Ensino Médio na Escola Teodora Bentes, em Icoaraci. A receita para fazer os alunos aprenderem a gostar da tão temida disciplina foi aparentemente simples: desenvolver experiências dentro da sala de aula, transformando o ensino da matéria em exercício lúdico, e, acima de tudo, estimular o aluno a pensar no poder transformador da educação.

Como o professor, além de químico, tem formação em Biomedicina, a identificação com Pedro, futuro engenheiro biomédico, foi total. Orgulhoso do aluno mais dedicado, o mestre profetiza: “Pedro tem a inquietação pulsante dos jovens e uma enorme vontade de ajudar a coletividade. Posso apostar que será um grande pesquisador dentro da sua área, e que com a criação de algum método ou aparelho, vá mudar a vida de muitas pessoas”, disse João.

Assim como Raíza, Pedro também convive com a música. Mas diferente da caloura da Uepa, que quer abraçar as notas musicais como profissão, o futuro engenheiro biomédico toca violão como hobby. Também por influência paterna, dedilha diariamente músicas internacionais, hábito que não abandonou nem mesmo durante as noites de estudo. Os versos de uma das inúmeras músicas passadas ao violão, da banda de heavy metal norte-americana Metallica, do qual é fã, traduz bem a essência da sua vitória. “Confiando sempre naquilo que nós somos. E nada mais importa” ("Nothing Else Matters").

E é assim, confiando em quem eles são, amparados por uma base escolar diferenciada e uma enorme vontade de fazer diferença no mundo, que Pedro e Raíza ajudam a construir o futuro, deles e de tantos outros.