Hospital Ophir Loyola implementa o primeiro serviço de cardio-oncologia do Norte
Especialidade médica atua na prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças cardiovasculares em pacientes oncológicos
De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), doenças cardiovasculares são responsáveis por cerca de 1.100 óbitos a cada 24 horas no Brasil. Anualmente, cerca de 300 mil brasileiros sofrem Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) e 30% desse total tem desfecho fatal, segundo o Ministério da Saúde (MS). A avaliação regular com um médico cardiologista é fundamental para o rastreamento de alterações no coração e redução de riscos de mortes súbitas ou sequelas ocasionadas por complicações cardíacas.
A dona de casa Nely Torres, de 64 anos, durante consulta cardio-oncológicaDiante desse cenário, o Hospital Ophir Loyola (HOL) implementou o primeiro Serviço de Cardio-oncologia da Região Norte. O acompanhamento especializado soma esforços ao tratamento oncológico estabelecido por cada especialidade e, pacientes com cardiopatias, que descobriram um câncer, são avaliados antes de serem encaminhados para os tratamentos quimio e radioterápicos.
O diretor-geral do HOL, João de Deus, ressalta que, com a implementação do serviço, o paciente passou a receber tratamento cardio e oncológico integrado, completo e centrado no paciente. “É o primeiro serviço de cardio-oncologia em um hospital público da Região Norte e que só mostra a força da nossa instituição, que, enquanto Cacon (Centro de Alta Complexidade em Oncologia), investe em melhorias contínuas para que os nossos usuários recebam a melhor assistência possível. O serviço oferece ambulatório, além dos protocolos de ecocardiograma e visitas nas enfermarias para pacientes que possuem indicação”, afirmou o gestor.
Com o avanço das terapias, o tratamento oncológico melhorou a qualidade de vida e a sobrevida dos pacientes. Contudo, alguns usuários podem apresentar hipertensão arterial, arritmia, entre outras condições. A cardio-oncologia atua, então, para prevenir, acompanhar e tratar possíveis complicações a partir do monitoramento da saúde do coração antes, durante e após o tratamento. A avaliação dos riscos cardiológicos e a adequação de medicações tratam as arritmias, protegem e melhoram a função do coração e até previnem infartos, como explicou a cardio-oncologista e chefe do serviço, Louise Machado.
Cardio-oncologista Louise Machado é a chefe do serviço pioneiro em um hospital público do Norte.“O paciente com câncer é mais suscetível a inflamações, o que aumenta o risco de complicações cardíacas. Mas o papel do cardio-oncologista é proteger o coração desses pacientes. Atuamos também em casos de cardio-oncologia reversa, ou seja, quando cardiopatas que já tiveram infartos ou já operaram o coração, descobrem um câncer. Cuidar desses pacientes com risco aumentado também é o nosso foco de tratamento”, afirmou a cardiologista.
Riscos - Dados da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (Sobrac) apontam que mais de 20 milhões de brasileiros convivem com o descompasso das batidas do coração. Em pacientes oncológicos, as análises de exames clínicos, laboratoriais e de imagem são relevantes na avaliação de disfunções relacionadas ao tratamento antitumoral. O acompanhamento cardiológico e o tratamento especializado para cada tipo de condição permitem que o paciente conclua o tratamento oncológico de forma mais segura e eficaz.
“A identificação precoce de comorbidades e o estabelecimento da conduta terapêutica adequada reduzem os riscos de danos no músculo cardíaco ou no sistema elétrico do órgão. Além disso, a partir da avaliação de marcadores cardio específicos, que podem sugerir potencial desenvolvimento de algum problema no coração, o especialista mensura riscos, discute o caso e faz as recomendações necessárias”, ressaltou a superintendente do Instituto de Oncologia do HOL, Ana Paula Borges.
“Cada caso é avaliado individualmente e não fazemos impedimentos, apenas sugestões. Antes de diminuir sua função, o coração apresenta sinais, como a forma em que se contrai ou deforma. Por isso, atuamos no ambulatório e na discussão dos protocolos de ecocardiograma, exame no qual conseguimos ver a morfologia do coração. Seguimos diretrizes que indicam se o paciente é de alto, moderado ou baixo risco e ajustamos as medicações para prevenirmos as alterações. Realizamos ainda o acompanhamento semanal, mensal, trimestral ou semestral, a depender do caso”, completou Louise.
Tratamento - Diante da cardiotoxicidade de algumas medicações e da alta radiação na região torácica em pacientes oncológicos, o uso de estratégias terapêuticas podem evitar morbimortalidades e contribuir para o aumento da qualidade de vida do usuário. O monitoramento regular ajuda a minimizar a potencial gravidade do tratamento.
Um dos exames solicitados e realizados pelos especialistas do HOL é o ecocardiograma com o strain, que não possui caráter invasivo e afere a deformidade da contração do músculo cardíaco. Vale ressaltar que essa vertente do procedimento não é coberta por planos de saúde, sendo realizada apenas na unidade. A ecocardiografista do Hospital, Soraya Vasconcelos, defende que o recurso identifica precocemente alterações cardíacas, evitando a alteração ou interrupção do tratamento oncológico.
“A avaliação periódica dos pacientes oncológicos, utilizando a ecocardiografia, é fundamental e o strain surge como ferramenta adicional importante, pois permite a detecção e intervenção mais precoce destas complicações, minimizando seus efeitos deletérios”, explicou Soraya.
O acompanhamento adequado e o tratamento cardioprotetor buscam reduzir os danos ao coração e complicações clínicas associadas ao tratamento do câncer, sendo a hipertensão arterial sistêmica a comorbidade mais frequentemente encontrada nos pacientes com neoplasias. Além disso, a alimentação adequada e atividade física regular, sugeridas pela equipe médica para cada caso, podem reduzir a fadiga e melhorar o condicionamento físico e a sensação de bem-estar.
Segurança - A dona de casa Nely Torres, de 64 anos, descobriu um câncer na mama esquerda há dois anos. Iniciou tratamento quimioterápico no HOL e, antes de ser submetida à mastectomia total do seio afetado pela doença, recebeu atendimento cardio-oncológico. “Sentia dores no seio e fiz uma mamografia, que atestou que tinha algo errado. Descobri o câncer e comecei a quimioterapia. Depois, a médica viu os exames, fez os ajustes nos meus remédios e eu fui para a cirurgia. Agora voltei para a consulta para saber como vai funcionar a radioterapia”, afirmou.
Antes dos ajustes na medicação, Nely relata que sentia fadiga, sintoma comum entre pacientes oncológicos. Agora, ela será submetida a novos exames antes do retorno com a especialista e o início do tratamento com a radiação ionizante. Para a dona de casa, um cuidado a mais que a deixa mais segura. “Eu me sentia mais cansada, mas agora sinto que diminuiu bastante. Eu me sinto mais segura, até porque eu ainda preciso fazer radioterapia e isso (acompanhamento cardio-oncológico) me passa mais confiança”, afirmou Nely.
Texto: Ellyson Ramos - Ascom HOL