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Sectet, CRF/UFPA e Quilombo Igarapé Preto mostram resultados de projeto no território

Projeto de Pesquisa e Extensão se encerra após dois anos de abordagens e capacitações sobre temas como produtos e roteiros turísticos e economia

Por Fernanda Graim (SECTET)
06/11/2023 10h45

A Secretaria de Ciência, Tecnologia e Educação Superior, Profissional e Tecnológica (Sectet), a Comissão de Regularização Fundiária da Universidade Federal do Pará (CRF-UFPA) e a Comunidade Quilombola de Igarapé Preto realizam nos próximos dias 10 e 11 de novembro, na sede da Associação dos Remanescentes de Quilombo de Igarapé Preto à Baixinha (Arqib), em Oeiras do Pará, a Feira de Encerramento do Projeto de Pesquisa e Extensão “Inovação Territorial para Jovens e Adultos da Comunidade Remanescente do Quilombo”. A comunidade está localizada na Região do Baixo Tocantins, na Rodovia BR-422, Transcametá, na estrada vicinal conhecida como Ramal do Incobal, e terá a participação de autoridades governamentais, integrantes da sociedade civil e membros das comunidades quilombolas do Pará.

De acordo com Renato das Neves, engenheiro e pesquisador do Instituto de Tecnologia da Universidade Federal do Pará (ITEC-UFPA) e coordenador do projeto, dentro da programação de encerramento, haverá a inauguração do portal de entrada da comunidade quilombola e as instalações das placas de sinalização horizontais para orientar o deslocamento pelas ruas históricas e as áreas de lazer do território.

As peças foram projetadas e construídas pela comunidade local, que tem a propriedade coletiva das terras do quilombo, conforme o artigo 68 da Constituição Federal. O projeto de extensão também disponibilizará a cartografia social construída pela comunidade. Serão apresentados ainda os projetos arquitetônicos de engenharia voltados para a edificação de uma biblioteca quilombola, uma casa de cultura e um barracão comunitário, cujos projetos foram construídos pelas equipes interdisciplinares da CRF-UFPA.

Essas obras poderão ser financiadas por parcerias entre as estruturas públicas, organizações não governamentais ou pelas relações do mercado financeiro, uma vez que não haverá custo de elaboração dos projetos. Ainda como resultado do projeto de extensão, será apresentado também o diagnóstico fundiário do território, além da abertura de uma ampla exposição fotográfica como um instrumento documental do processo metodológico inovador, inclusivo e sustentável desenvolvido no território.

No segundo dia de evento, os participantes realizarão visitas de reconhecimento ao quilombo e farão deslocamentos contemplativos pelas trilhas, além de interações participativas e sociais para conhecer os produtos turísticos e o artesanato local, assim como  saborear a gastronomia ou conhecer os balneários  e os seus igarapés. O encerramento será marcado por um desfile de moda, cujas peças foram produzidas pelas equipes da comunidade, além da realização de uma ampla programação envolvendo as tradições culturais, que perpassam pelo histórico samba de cacete, a ladainha e o ganzá,  manifestações plurais que marcam os rituais de africanidade no território, assim como as relações  com os povos indígenas e os europeus.

O projeto 
O projeto de Pesquisa e Extensão foi construído no tripé acadêmico de ensino e teve início em 9 de dezembro de 2021, com um investimento de R$ 626.630,62 de recursos públicos originados dos impostos recolhidos pela sociedade paraense. A estrutura humana e pedagógica do Projeto de Pesquisa e Extensão é composta por uma coordenação geral e os integrantes dos núcleos de inclusão produtiva e desenvolvimento local, infraestrutura e qualidade de vida e tecnologia e informação, além das representações e lideranças da comunidade quilombola.  

Nestes dois anos, as 15 capacitações realizadas no quilombo mobilizaram nove educadores de instituições municipais, estaduais e federais de ensino, além de membros da comunidade. Entre os cursos ministrados na Escola Zumbi dos Palmares estão os conteúdos sobre o pertencimento, desenvolvimento e economia solidária, a formação em hospedagem familiar, estratégias de abordagens de produtos turísticos, planos de negócios, levantamento cartográfico e a moda afrodescendente. Foram debatidos, também, roteiro turístico, marketing digital, tecnologia social, economia circular, turismo, educação ambiental, primeiros socorros e os  múltiplos saberes gastronômicos do território. 

Outro curso importante debateu os efeitos nefastos das várias diásporas desde o território africano até a construção do Quilombo de Igarapé Preto. Dados históricos revelam que o tráfego negreiro promovido por europeus durante 300 anos, tenha escravizado mais 11 milhões de africanos, dos quais mais de cinco milhões foram trazidos forçadamente para Brasil.

“Um desafio enfrentado é a desconstrução do padrão educacional eurocêntrico  e a construção de uma visão a partir do olhar afrodescendente e africano. A Lei10.639/03 representa um avanço e estabeleceu a obrigatoriedade do ensino de  história e cultura afro-brasileira dentro das escolas de ensino fundamental e médio  no Brasil. Porém, é determinante um ensino da África na visão dos que lá vivem ou de seus descendentes e não só pela ótica do colonizador europeus”, enfatiza Renato.

Nos últimos dois anos, diz o coordenador, a parceria entre as instituições federal, estadual e a comunidade promoveu um  intercâmbio de múltiplos conhecimentos para construir  o desenvolvimento humano e social equitativo da comunidade quilombola, por meio das famílias que desenvolvem as suas práticas culturais agroalimentares e têm a vocação para integrar uma rede de empreendedores interessados em escoar a produção local como um modelo de negócio inovador de base comunitária e gerador de emprego renda, resgate da ancestralidade e mais cidadania para a comunidade, finaliza Renato.

Texto de Kid Reis / Ascom CRF-UFPA