Professor da USP aborda na Feira do Livro protagonismo da Amazônia na mudança dos modos de produção
No espaço ‘Vozes do Clima’, Ricardo Abramovay falou sobre enchentes e fome dentro da temática “Crise ambiental e justiça climática”
A última programação das “Vozes do Clima”, temática que tomou conta da Arena Multivozes nesta quinta-feira (14), sexto dia da 26ª Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes, no Hangar – Centro de Convenções e Feiras da Amazônia, em Belém, teve o autor Ricardo Abramovay, professor titular da Universidade de São Paulo (USP), abordando a “Crise ambiental e justiça climática”.
Diretora da Clínica de Direitos Humanos da Amazônia e professora da Universidade Federal do Pará (UFPA), Lise Tupiassu também participou do “Papo, Prosa e Versos” com o escritor.Professor Ricardo Abramovay: "brasileiros têm que pressionar por escolha"
Segundo Ricardo Abramovay, “estamos numa baita de uma enrascada. Só nos últimos dez dias tivemos uma quantidade de eventos climáticos extremos, enchentes dentro e fora do Brasil. O mundo passou por um crescimento econômico acelerado, que deu certo um tempo. Antes, metade da quantidade da humanidade passava fome, na década de 60. Hoje, ainda é grave, mas atinge 10% da população. Mas essa monotonia dos ambientes agrícolas trouxe consequências muito sérias e prejudiciais: uso de agrotóxicos em larga escala, destruição da biodiversidade, produção animal com amplo uso de antibióticos... A ONU diz que se a gente continuar assim, em 2050 vai morrer mais gente por falta de antibiótico que funcione do que de câncer. Como diversificar? A Amazônia é fundamental nesse processo. Os brasileiros têm que pressionar por escolha, em que a biodiversidade da região seja colocada a serviço do combate da pobreza e desigualdade”.
Responsabilidade - Para Lise Tupiassu, esse chamado feito pelo professor faz pesar sobre quem mora na Amazônia a responsabilidade de tomar o protagonismo dessas discussões sobre o futuro.
“Isso depende muito de a gente conseguir se unir e, ao mesmo tempo, buscar conhecer, pensar estrategicamente como a gente pode participar de iniciativas científicas, sociais, populares, de construção coletiva com quem pensa soluções para a região, e que construa a partir da vivência de cada um de nós”, ressaltou.
“Justiça climática é conceito que, curiosamente, não surgiu a partir de visão amazônica, mas de visão de países do Norte ou países da Europa, considerando aspectos sociorraciais. Proteger não é deixar intocado. Tem pessoas que vivem aqui, e são elas que fazem e manejam essa floresta para ela ser o que é. Importante reconstruir ideias, para que reflitam a realidade do modo de vida das comunidades tradicionais e urbanas dessa região, que precisam e têm como colaborar”, reiterou a professora Lise Tupiassu.